Brasília: os sindicalistas temem que as reformas continuem tramitando no Congresso em paralelo à crise de governabilidade (Igo Estrela/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de maio de 2017 às 21h13.
Brasília - Em meio à crise política deflagrada pelas delações da JBS, centrais sindicais e movimentos sociais convocaram para esta quarta-feira, 24, uma marcha em Brasília contra as reformas estruturais propostas pelo governo federal.
O protesto, que já estava agendado, deverá ter ainda como pauta a renúncia do presidente Michel Temer. A expectativa dos organizadores é de reunir cerca de 100 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios.
Segundo líderes de centrais sindicais, o objetivo do movimento, intitulado "Ocupa Brasília", é manter na ordem do dia as discussões sobre as reformas trabalhista e da Previdência.
Apesar de vários parlamentares já terem afirmado "não haver clima" para o avanço das propostas diante das denúncias contra Temer, os sindicalistas temem que as reformas continuem tramitando no Congresso em paralelo à crise de governabilidade.
A reforma da Previdência deverá permanecer suspensa pelos próximos dias na Câmara, que se ocupará dos processos de impeachment protocolados contra o presidente. Já a reforma trabalhista deverá manter o seu cronograma.
O relator da proposta na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), voltou atrás e comunicou que apresentará o parecer sobre a proposta na terça-feira, 23, conforme previsto inicialmente.
Na última semana, após a divulgação das delações da JBS, Ferraço chegou a anunciar a suspensão do calendário de análise da proposta.
"Não podemos baixar a guarda. O movimento conservador que afirma que as reformas são a solução é maior que a questão do 'Fica Temer' ou do 'Fora Temer'", afirmou o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.
A organização defende a realização de eleições diretas gerais como saída para o atual momento político. "Não queremos alguém para cumprir um mandato tampão, mas um novo presidente e um novo Congresso", completou Freitas.
A ideia, no entanto, é um ponto de divergência entre as centrais. Organizações como a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores (UGT), que participaram de atos de apoio ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), pregam cautela e "saída constitucional".
"Temos uma constituição que tem regras que nos colocam em momentos como esse. Nosso País não pode viver de golpe e contragolpe", comentou o secretário geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna.
Apesar do protesto marcado para esta quarta, 24, levar o nome de "Ocupa Brasília", os organizadores esclarecem que as manifestações devem durar apenas um dia.
As lideranças sindicais não descartam, contudo, a deliberação, nas próximas semanas, de uma paralisação geral semelhante à ocorrida no último 28 de abril, avaliada como "um sucesso".
Segundo o presidente da UGT, Ricardo Patah, a deflagração ou não de uma greve geral dependerá do avanço das reformas, e não da permanência do presidente Michel Temer no poder.
"(A greve) Não é um ato que nos orgulha porque trouxe prejuízo, mas é valorizado como um momento de indignação e de mostrar pro Brasil que o povo tem condição de debater essas reformas", destacou.