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CCBB do Rio faz exposição com acervo recuperado do Museu Nacional

Peças recuperadas de incêndio ocorrido em setembro de 2018 farão parte da mostra "Museu Nacional Vive - Arqueologia do Resgate"

Exposição: Arqueologia do Resgate é o nome da mostra feita pelo CCBB (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Exposição: Arqueologia do Resgate é o nome da mostra feita pelo CCBB (Fernando Frazão/Agência Brasil)

AB

Agência Brasil

Publicado em 25 de fevereiro de 2019 às 19h18.

Última atualização em 25 de fevereiro de 2019 às 19h26.

Mais de 100 obras resgatadas dos escombros do Museu Nacional serão exibidas ao público no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro a partir de quarta-feira (27), na exposição Museu Nacional Vive - Arqueologia da Resistência. A exposição poderá ser conferida pelo público até o dia 29 de abril.

O Paço de São Cristóvão, antigo palácio imperial, que funcionava como prédio principal do Museu Nacional, pegou fogo no dia 2 de setembro do ano passado. O incêndio fez com que o teto e os andares internos do palácio desabassem e causou grande destruição no acervo de 20 milhões de peças. O museu já completou 200 anos.

O que será exposto no CCBB é uma pequena parte do que já foi possível recuperar após o incêndio, informou o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner.

"[A exposição] Não é o fruto total do que a gente conseguiu resgatar, é apenas uma pequena parcela do tesouro do Museu Nacional. E essa pequena parcela não representa nada perante o enorme potencial que ainda temos para resgatar", disse Kellner.

Com um total de 180 peças, a exposição tem 103 que foram retiradas do palácio após o incêndio pela equipe coordenada pela arqueóloga e professora Claudia Carvalho, que também participou do trabalho de curadoria. As 73 peças restantes são fruto de uma seleção que tentou identificar objetos simbólicos para o museu e outros que dialoguem com os afetados pelo incêndio. Já os objetos resgatados foram avaliados segundo sua estabilidade e possibilidade de comunicação com o público. Objetos desestabilizados estão além da fragilidade, explica Claudia, pois podem desmanchar ao menor toque.

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Coleção de aves na exposição Museu Nacional Vive - Arqueologia do Resgate. (Fernando Frazão)

Resgate

A coordenadora de resgate disse que voltar a expor para o público traz alegria à equipe, que vem trabalhando sob uma sensação térmica de até 46 graus para salvar os objetos. Entre 50 e 60 servidores participam desse trabalho, ao mesmo tempo em que realizam pesquisas e aulas no museu, que tem importantes programas de pós-graduação.

"É uma curadoria que a gente fez questão de compartilhar", disse Claudia. "A gente queria que as pessoas que estavam no resgate, e eram responsáveis pelas áreas, pudessem participar. Fizemos de forma coletiva".

As buscas em cerca de 25% do museu já podem ser consideradas esgotadas. Segundo Cláudia, com a instalação da cobertura, será possível escavar os escombros e encontrar as obras que estavam nos andares inferiores e foram soterradas. Até agora, o resgate avançou mais rapidamente nas áreas próximas ao trabalho de escoramento, como a entrada principal.

Desde o início do resgate, cerca de 2,3 mil registros de possíveis partes do acervo foram retirados do Museu Nacional. Esses registros, explicou a arqueóloga, correspondem muitas vezes a massas que aglutinam mais de uma peça, o que eleva a expectativa em relação ao número que ainda pode ser retirado.

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Fêmur de mastodonte na exposição Museu Nacional Vive - Arqueologia do Resgate. (Fernando Frazão)

"Se não acontecerem grandes problemas, no fim deste ano, ou até março do ano que vem, a gente termina a escavação", disse, adiantando que a partir daí terá início o detalhamento das peças retiradas e dos danos causados pelo desabamento.

Exposição

A exposição foi organizada a partir de um convite do CCBB do Rio de Janeiro, que custeou os R$ 230 mil necessários para que ela fosse realizada. O gerente-geral do CCBB-RJ, Marcelo Fernandes, disse que o incêndio impactou todos os profissionais da área cultural do país, e sua equipe buscou uma forma de ajudar.

"A gente entendeu que, entre todas as perdas que o museu teve, uma delas foi a do teto. E que a gente poderia contribuir nessa questão oferecendo nosso espaço para receber o resultado desse trabalho tão cuidadoso e tão carinhoso. O Museu Nacional vive, e, com muita honra, nesse momento ele vive aqui no CCBB".

 

 

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Fósseis na exposição Museu Nacional Vive - Arqueologia do Resgate. (Fernando Frazão)

 

Marcelo disse que pretende levar à direção do Banco do Brasil, em Brasília, a ideia de realizar a exposição em outros estados onde o banco público tem centros culturais. "É questão de conversar e ver a disponibilidade tanto do material quanto de grade do CCBB", disse, acrescentando que a fragilidade das obras contribuiria para elevar os custos de logística e seguro, mas não seria um impedimento definitivo.

Meteorito

O público já começa a ter contato com o Museu Nacional no térreo do CCBB, onde está o meteorito Santa Luzia, que caiu do espaço em 1922 e pesa aproximadamente duas toneladas.

A exposição está no segundo andar do CCBB e oferece como primeiro impacto uma harpia embalsamada. Apesar de não ter sido afetada pelo incêndio, a ave, que é uma das maiores do continente americano, é considerada símbolo do Museu Nacional.

Outro destaque da exposição é o crânio do jacaré-açu, que foi resgatado inteiro dos escombros e é exposto ao lado de outro crânio da mesma espécie de réptil. No que foi retirado do palácio, é possível ver as marcas das chamas, que escureceram o fóssil.

A diversidade do acervo do museu vai além da história natural, e isso se reflete na exposição. Cerâmicas marajoaras, bonecas karajá, objetos trazidos do Benin e parte das coleções de Dom Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina estão expostas.

Danos

A exposição faz questão de descrever ao público os danos causados nas peças expostas e mostrar o trabalho de resgate que vem sendo conduzido nos últimos cinco meses.

"Nós queremos que as pessoas se lembrem da tragédia que acometeu o Museu Nacional. Não é para esquecer ou modificar o passado. Ele existe e faz parte da nossa história. O que a gente precisa é aprender com ele para que tragédias como as que aconteceram com o museu nacional não se repitam jamais", disse o gerente-geral do CCBB-RJ, Marcelo Fernandes.

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