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Casos de dengue aumentam, enquanto saneamento básico pouco avança

A ausência de saneamento básico vivida no dia a dia de milhões de brasileiros favorece a proliferação do mosquito Aedes aegypti

Dengue e saneamento: Até o início de fevereiro, houve 15 mortes da doença e outros 149 óbitos estão em investigação (Soumyabrata Roy/Getty Images)

Dengue e saneamento: Até o início de fevereiro, houve 15 mortes da doença e outros 149 óbitos estão em investigação (Soumyabrata Roy/Getty Images)

Publicado em 14 de fevereiro de 2024 às 14h31.

Última atualização em 18 de março de 2024 às 16h08.

No Brasil, o verão teve início oficialmente no dia 22 de dezembro de 2023 e está previsto para terminar em 20 de março de 2024. O forte calor acompanhando de intensas chuvas, infelizmente, torna-se o ambiente ideal para a proliferação do mosquito da dengue, aumentando os casos da doença no país. Segundo informações divulgadas pelo Ministério da Saúde, foram mais de 232 mil casos nas primeiras quatro semanas de 2024 – o número é mais que triplo do que o apresentado no mesmo período de 2023, que contou com 65 mil casos. Até o início de fevereiro, houve 15 mortes da doença e outros 149 óbitos estão em investigação.

Entre as localidades brasileiras, Minais Gerais, Acre e o Distrito Federal decretaram situação de emergência devido ao alto número de casos de dengue. Comparando o mesmo período de janeiro de 2023 e 2024, o Rio Grande do Sul aumentou em 2.825% os casos da doença – Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e o Distrito Federal tiveram aumento dos diagnósticos em mais 1.000%. No estado de São Paulo, a alta da dengue é de 181% maior que o ano anterior - conforme apontam informações do Painel de Monitoramento das Arboviroses, do Ministério da Saúde.

A dengue é uma doença viral grave classificada como arbovírus, isto é, a transmissão acontece por meio de mosquito (no caso da dengue, pela picada da fêmea do mosquito Aedes Aegypti). O vírus possui quatro sorotipos diferentes (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). Entre os alguns sintomas da doença, o infectado pode apresentar febre, dores de cabeça e no corpo, manchas vermelhas no corpo, além de náuseas ou até mesmo em alguns casos não apresentar sintomas. Em casos graves, quando ocorre hemorragia intensa e choque hemorrágico, o quadro pode levar a pessoa doente a óbito.

A dengue tem apresentado comportamento endêmico no Brasil desde o início da década de 80. Esse ano, com a predominância de circulação do sorotipo DENV-3 que, não circulava de forma importante no Brasil há alguns anos, observou-se o aumento do número de casos, algo que ocorre sempre que um sorotipo volta a circular depois de algum tempo.

Ainda sobre os cenários que resultam no aumento dos casos de dengue, a ausência de saneamento básico vivida no dia a dia de milhões de brasileiros favorece a proliferação do mosquito Aedes aegypti, que se reproduz em água parada, seja limpa ou suja. O mosquito pode até mesmo se proliferar em caixas d'água, caso elas não estejam devidamente vedadas.

A dura realidade vista no país mostra um panorama em que milhões de residências sofrem com algum tipo de privação de saneamento. Considerando as moradias brasileiras, da totalidade de 74 milhões, quase 9 milhões não possuem acesso à rede geral de água; quase 17 milhões contam com uma frequência insuficiente de recebimento de água; cerca de 11 milhões não possuem reservatório de água (caixa d’água, por exemplo); cerca de 1,3 milhão não possuem banheiro; e 22 milhões não contam com coleta de esgoto - conforme aponta o estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil com base da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continuada Anual (PNADCA), produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2013 e 2022.

São milhões de famílias vivendo em condições sanitárias extremamente precárias e estando cada vez mais suscetíveis a problemas de saúde. Com a precariedade da infraestrutura, como, por exemplo, a falta de coleta dos esgotos e o armazenamento inadequado do recurso hídrico, aumentam-se as chances de acúmulo de água parada, consolidando o cenário em que os mosquitos da dengue utilizam para se proliferarem.

Ou seja, a falta de saneamento contribui para o aumento da oferta de potenciais criadouros de mosquito. Sem água em quantidade e qualidade adequada para a realização das atividades diárias, a população precisa acumular água nos mais diferentes tipos de reservatórios. Na maioria das cidades brasileiras, esses depósitos 'informais' usados pela população para armazenar água para consumo próprio são os principais criadouros de mosquitos.

A luta pelo combate da proliferação do mosquito da dengue deve ser constante e rotineira. Como uma das medidas de controle, o que impactaria significativamente para a mudança do atual panorama seria o avanço dos serviços básicos a partir da ampliação do atendimento de água potável e esgotamento sanitário para os habitantes. Para além, é fundamental o fomento de campanhas para sensibilizar a população sobre medidas de controle e prevenção que precisam ser realizadas na residência de cada cidadão.

A fim de evitar que a residência se torne um criadouro do mosquito da dengue é essencial que a população execute medidas rotineiras, como por exemplo verificar se a caixa d’água está devidamente fechada; não deixar qualquer tipo de depósito de água em aberto que possa servir de criadouro para o mosquito; evitar o acúmulo de água parada em pneus e outros recipientes; descartar adequadamente os resíduos utilizados no cotidiano para evitar entupimentos e vazamentos; e eliminar sempre água acumulada em vasos de flores e plantas.

Uma vez mais, será imprescindível o empenho de toda sociedade para impedir o avanço ainda mais incisivo da dengue no país. Saneamento é básico e urgente.

* Luana Siewert Pretto é Engenheira Civil (UFSC), com mestrado na área de Análise Multicritério (UFSC) e pós-graduada em Gestão de Projetos (FGV). Atuou na concessionária estadual de saneamento básico de Santa Catarina (CASAN) e como presidente da Empresa Pública municipal de saneamento básico Companhia Águas de Joinville. Atualmente, é Presidente-Executiva do Instituto Trata Brasil.

* Luciano Pamplona de Góes Cavalcanti é biólogo formado pela Universidade Estadual do Ceará (2001), com especialização em Vigilância Epidemiológica pela Escola de Saúde Pública do Ceará (2003) e Epidemiologia para Gestores de Saúde pela Johns Hopkins University/MS (2005). Também é Mestre em Saúde Pública (Concentração em Epidemiologia) pela Universidade Federal do Ceará (2006) e Doutor em Ciências Médicas (2009). Atua como professor universitário dos cursos de medicina da Universidade Federal do Ceará e Centro Universitário Christus.

Sobre o Instituto Trata Brasil

O Instituto Trata Brasil (ITB) é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que surgiu em 2007 com foco nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país. Tornou-se uma fonte de informação ao cidadão para que reivindique a universalização deste serviço mais básico e essencial para qualquer nação. O ITB produz estudos, pesquisas e projetos sociais visando conscientizar o cidadão comum do problema e, ao mesmo tempo, pressionar pela solução nos três níveis de governo. A proposta é que todos conheçam a realidade do acesso à água tratada, coleta e tratamento dos esgotos e busquem avanços mais rápidos. Para mais informações, acesse: https://tratabrasil.org.br/

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