Brasil

Caso Richa: Lava Jato aponta sérias dúvidas sobre parcialidade de ministro

Presidente do STJ mandou soltar ex-governador nesta quinta-feira, 31, após oito dias preso; operação analisa o que fazer sobre "decisão equivocada"

Beto Richa: Ex-governador do Paraná foi solto pelo STJ (Fabio Pozzembom/Agência Brasil/Agência Brasil)

Beto Richa: Ex-governador do Paraná foi solto pelo STJ (Fabio Pozzembom/Agência Brasil/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de fevereiro de 2019 às 21h31.

A força-tarefa da Operação Lava Jato pôs em xeque a parcialidade do presidente do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio de Noronha, que mandou soltar o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) nesta quinta-feira, 31. Por meio de nota, divulgada nesta sexta, 1, os procuradores da República afirmaram que declarações públicas do magistrado sobre a prisão do tucano "fora dos autos". A força-tarefa ainda diz que "está avaliando as providências a serem tomadas em relação à precipitada e equivocada decisão".

A Lava Jato diz que o "ministro João Noronha já havia criticado publicamente decisão de prisão emitida contra o governador, no dia 17 de setembro de 2018, fora dos autos, o que levanta sérias dúvidas sobre sua parcialidade para emitir a decisão no referido habeas corpus".

"A ordem de soltura foi dada pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça (3ª instância de julgamento) sem que a decisão que decretou a prisão tenha sido avaliada pelo E. Tribunal Regional Federal da 4ª Região (2ª instância), em evidente supressão de instância", sustentam os Procuradores.

Segundo a força-tarefa, o "objeto do habeas corpus não era a decisão de prisão que foi equivocadamente cassada". "Por isso, as questões enfrentadas pelo ministro não estavam sequer na petição inicial do habeas corpus".

"As circunstâncias não usuais em que o habeas corpus foi concedido se somaram à ausência de oportunidade para o Ministério Público se manifestar, apresentando informações e documentos relevantes, sobre a questão levada unilateralmente pela parte interessada", argumentam.

Segundo a força-tarefa, "diferentemente do que alegou o eminente ministro, ao largo da questão relativa à participação de Beto Richa na obstrução da investigação apontada pelo Ministério Público, os fatos criminosos não se restringiram aos anos de 2011 e 2012, mas se estenderam até pelo menos janeiro de 2018, tratando-se de situação semelhante àquela que embasou diversas prisões na Lava Jato, mantidas nas quatro instâncias".

"Por fim, a segunda soltura de Beto Richa, em circunstâncias que causam surpresa para o Ministério Público, seguiu-se à concessão de liberdade para o paciente, em oportunidade anterior, pelo Ministro Gilmar Mendes, sem livre distribuição. Isso, aliás, acabou por ser objeto de exame pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, que entendeu que outro ministro é o competente para o julgamento dos feitos relacionados à operação Integração no Supremo Tribunal Federal", afirmam.

Por tudo isso, com o devido respeito pelo ministro Presidente do Superior Tribunal de Justiça, esta força-tarefa está avaliando as providências a serem tomadas em relação à precipitada e equivocada decisão.

Prisões

O tucano foi preso pela segunda vez na sexta-feira, 25, na 58ª fase da Operação Lava Jato, por suposta participação em esquema de fraude na gestão das concessões rodoviárias federais do estado.

Esta é a segunda vez que Richa é solto. Ele chegou a ser encarcerado em setembro de 2018, em meio à Operação Radiopatrulha, que mirava supostos desvios em programa para a recuperação de estradas rurais do estado. Poucos dias depois, no mesmo mês, foi solto por ordem do ministro Gilmar Mendes.

Para Noronha, a prisão de Beto Richa era precipitada e motivada por fatos praticados há mais de sete anos."Além disso, a realidade é outra, houve renúncia ao cargo eletivo, submissão a novo pleito eleitoral e derrota nas eleições. Ou seja, o que poderia justificar a manutenção da ordem pública - fatos recentes e poder de dissuasão - não se faz, efetivamente, presente", disse o presidente do STJ.

Agentes da Polícia Federal também chegaram a criticar a decisão. Segundo o Sindicato dos Policiais Federais do Estado do Paraná, a notícia do habeas corpus foi recebida com "indignação".

Na avaliação dos policiais federais, além da clara possibilidade de o ex-governador exercer influência sobre as investigações, a medida revela o descompasso entre os profissionais de segurança pública e o Judiciário no combate à corrupção. O sentimento é de desmotivação", afirma o Sindpef.

Acompanhe tudo sobre:Beto RichaOperação Lava JatoParaná

Mais de Brasil

Banco Central comunica vazamento de dados de 150 chaves Pix cadastradas na Shopee

Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio

Bruno Reis tem 63,3% e Geraldo Júnior, 10,7%, em Salvador, aponta pesquisa Futura

Em meio a concessões e de olho em receita, CPTM vai oferecer serviços para empresas