Marielle: ministro Flávio Dino pontuou que, nas próximas semanas, deverão haver outras operações contra alvos apontados nas investigações como mandantes do crime (Wagner Meier/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 24 de julho de 2023 às 09h54.
Última atualização em 24 de julho de 2023 às 17h00.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou nesta segunda-feira, 24, que a delação premiada do ex-PM Élcio Queiroz trouxe novos elementos para a investigação do caso Marielle. A PF deflagrou nesta manhã a Operação Élpis, na primeira fase de uma nova investigação sobre os homicídios da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
"Élcio Queiroz confirmou em delação premiada a participação dele próprio, do Ronnie Lessa e do Maxwell. Temos o fechamento desta fase, com a confirmação de tudo que aconteceu no crime. Há elementos para um novo patamar da investigação, que é descobrir os mandantes", disse em entrevista coletiva ao lado do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.
O ex-PM deu detalhes do atentato contra a vereadora. Na delação, Élcio confessou que dirigiu o Cobalt prata usado no ataque e afirmou que Ronnie fez os disparos com uma submetralhadora contra Marielle. Élcio disse ainda que o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, fez campanas para vigiar a vereadora e participaria da emboscada, mas acabou trocado por ele.
O ministro pontuou que, nas próximas semanas, deverão haver outras operações contra alvos apontados nas investigações como mandantes do crime. Até agora, a PF estava debruçada nos executoras da parlamentar e de seu motorista. "O senhor Suel fez o trabalho de monitoramento e campana da rotina da vereadora Marielle Franco e, posteriormente, no acobertamento dos executores", explicou Dino.
De acordo com Andrei, o ex-sargento do Corpo de Bombeiros Maxwell Simões Correa, o Suel, participou antes, durante e depois do crime. Além de suporte logístico, ele realizou monitoramentos e ainda destruiu uma das provas do homicídio - o carro que foi utilizado também para transporte de armas.
De acordo com o ministro Flávio Dino, a operação de hoje se deu a partir de uma delação premiada realizada há cerca de 15 dias por Elcio de Queiroz, que estava preso em penitenciária federal pelo homicídio. Foi ele quem apontou a participação de Suel também no assassinato da vereadora e de seu motorista.
Quinta vereadora mais votada da cidade nas eleições de 2016, Marielle Franco (PSOL), de 38 anos, foi executada no dia 14 de março, por volta das 21h30m, dentro de seu carro, no Estácio. Ela foi atingida por quatro disparos no rosto. Seu motorista, Anderson Pedro Gomes, também foi assassinado. Logo após o crime, amigos e políticos levantaram a hipótese de execução.
Em fevereiro, o ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que a Polícia Federal iria "intensificar" a atuação em conjunto com o Ministério Público do Rio de Janeiro nas investigações sobre o assassinato. A decisão foi tomada após Dino se reunir com o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Luciano Mattos.
Com a decisão, a Polícia Federal passou a ser mais atuante na força-tarefa do MP fluminense. Em 2019, um inquérito concluiu que havia uma organização criminosa dentro das forças policiais atuando para atrapalhar as investigações do assassinato da vereadora.
O assassinato da vereadora completou cinco anos este ano. O caso já passou pelas mãos de cinco delegados e quatro equipes de promotores. Até hoje, ninguém conseguiu responder quem mandou matá-la. A Polícia Federal já desvendou um esquema de suborno para atrapalhar a elucidação do crime. Mesmo assim, o Superior Tribunal de Justiça barrou uma tentativa de federalizá-lo.
Ao negar o pedido, a ministra Laurita Vaz criticou a imprensa e elogiou o “evidente empenho” e o “excelente trabalho” das autoridades locais. Até aqui, a polícia só prendeu dois acusados pela execução do crime: os ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz. Eles ainda não foram levados a júri e nada disseram sobre os mandantes, nem sobre o paradeiro da submetralhadora usada na noite de 14 de março de 2018.