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Caso Begoleã: 'Você nos destruiu', diz mãe de brasileiro morto para assassino em julgamento

Begoleã Fernandes, que sofre de delírio paranoico, alegava que vítima era canibal; caso aconteceu em fevereiro do ano passado

Mãe de Alan Lopes, morto por Begoleã Fernandes, falou no tribunal holandês sobre morte de filho (Reprodução)

Mãe de Alan Lopes, morto por Begoleã Fernandes, falou no tribunal holandês sobre morte de filho (Reprodução)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 26 de janeiro de 2024 às 16h12.

A mãe do brasileiro Alan Lopes, morto pelo compatriota Begoleã Fernandes em Amsterdam no ano passado, falou em uma sessão do tribunal de Amsterdam, que julga o caso. Na fala, feita em português, ela diz perdoar o assassino do filho, preso no dia seguinte ao crime, no aeroporto de Lisboa, em fevereiro do ano passado.

Após peritos identificarem que Begoleã sofre de delírio paranoico, o Ministério Público holandês pediu para que ele fosse internado compulsoriamente em uma instituição psiquiátrica. O resultado do julgamento será divulgado dentro de duas semanas.

Begoleã Fernandes alegava ter matado o amigo em legítima defesa. Segundo ele, a vítima era canibal e planejava comê-lo. O vídeo da fala de Antônia Lima, mãe de Alan Lopes, pode ser visto abaixo. O trecho começa aos 48s e vai até 1 minuto e 30s.

— Begoleã, você não tirou só a vida do Alan, meu filho. Mas você também matou minha nora, meus netos, e toda uma geração (...). Você nos destruiu de uma forma irreparável. E, mesmo com o meu coração dilacerado, não existe nele lugar para o ódio. Aprendi que o caminho para ter paz é o perdão. Por isso eu o perdoei. Eu espero que meu perdão possa trazer um pouco de paz para o seu coração — disse Antônia Lima, mãe de Alan Lopes.

De acordo com o MP, os peritos holandeses concluíram que Begoleã Fernandes desenvolveu delírio paranoico em relação à vítima. Ele acreditava ser o objetivo de Alan Lopes, com quem matinha uma relação de amizade, matá-lo e comê-lo. Por isso eu o perdoei. O promotor responsável pelo caso acatou o entendimento dos peritos e pediu para que o brasileiro seja internado e submetido a tratamento compulsório.

No entendimento do MP, o crime foi premeditado pelo brasileiro. "Ele estava convencido de que seria comido pela vítima (...) Naquele dia ele foi até a vítima ‘para resolver’ e naquela noite ameaçou a vítima de morte", afirma o Ministério Público holandês. Quando o crime aconteceu, Begoleã passava a noite na casa de Alan Lopes.

"A vítima dormia no andar de cima e o suspeito no sofá do andar de baixo. A certa altura, o suspeito subiu as escadas com uma faca na mão porque temia que a vítima o matasse. O suspeito espionou a vítima adormecida por algum tempo. Enquanto a vítima estava deitada, o suspeito estava pronto para atacar. Quando a vítima se levantou, houve uma briga e a vítima foi morta", descreve o MP, em nota.

— Essa pessoa (Begoleã) é amigo de dois, três anos, do meu irmão. Meu irmão abrigava ele, já que ele não tinha casa, moradia. Meu irmão ajudava muito ele. E, infelizmente foi assim que ele retribuiu — disse a irmã de Alan, Kamila Lopes ao GLOBO em março do ano passado.

Begoleã foi preso no dia seguinte ao crime, em 27 de fevereiro, ao ser abordado por agentes da alfândega no aeroporto de Lisboa. Na ocasião da prisão, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) português informou que havia com Begoleã "uma embalagem de plástico contendo diversos pedaços de carne". O brasileiro dizia que o material era humano, mas, posteriormente, a perícia holandesa indicou se tratar de carne animal.

Antes de ser preso, enquanto dava início a uma tentativa de fuga do continente europeu, o brasileiro chegou confessar o crime para amigos e familiares através de mensagens. O áudio foi enviado a um interlocutor identificado apenas como Messias. O GLOBO teve acesso ao conteúdo.

— Ele é canibal, tem muito tempo que a galerinha dele sabe, entendeu. O Marcos sabia, Wesley sabia, o Rafael sabia. Mas é uma parada tão bizarra que ninguém acredita — iniciou Begoleã.

— Aí ele pegou um marroquino e decepou o cara dentro do açougue [onde Alan trabalhava], como um porco. Ele me mostrou o vídeo e me chamou para a casa dele para comer um pedaço da carne do cara — prosseguiu.

'Bife humano'

Em entrevista ao canal de televisão português SIC, Carla Pimentel, mãe de Begoleã, reafirmou o que foi dito pelo filho no áudio. Segundo ela, Begoleã foi convidado para dormir na casa de Alan, que estava vazia após seus familiares partirem em viagem para a França. Lá, o brasileiro teria servido ao suspeito um prato de carne, que chamou a atenção de Begoleã por ser "preta" e de "gosto estranho", segundo descreveu à mãe.

Questionado sobre o que seria aquela carne, Alan, na versão apresentada por Begoleã à sua família, respondeu que seria "carne de gente". Com o celular, a vítima teria mostrado ao suspeito de homicídio cenas de execuções.

Apesar disso, no entanto, Begoleã optou por continuar na casa e lá teria decidido dormir. Por volta das 15h de domingo, foi acordado por Alan, que estava "em cima dele, para matar ele", disse a mãe ao canal SIC.

No áudio enviado a amigos, Begoleã afirma ter ido armado com uma faca ao local por suspeitar de Alan. Com experiência como lutador de kickboxing, Begoleã conseguiu revidar:

— Ele falou que na luta corporal conseguiu passar a faca no pescoço do Alan. O Alan caiu no chão, mas ainda mexendo. E ele deu uma facada no peito do Alan — diz a mãe, que conta ter recebido a ligação do filho relatando o ocorrido em seguida.

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