Papa Francisco: "Vi nele um verdadeiro seguidor de Cristo e das palavras de Cristo, um verdadeiro Pastor", diz Toni (Tony Gentile/Reuters)
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2017 às 16h39.
São Paulo - Após receber uma carta do Vaticano felicitando o batismo de seus três filhos, o casal homossexual Toni Reis e David Harrad, que vive em Curitiba, afirma estar vivendo um momento de "felicidade imensa".
O casal enviou uma correspondência para o papa Francisco para falar sobre a alegria de ter seus três filhos - Alyson, de 16 anos, Jéssica, 14, e Filipe, 12 - batizados pela Catedral Basílica de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, na capital paranaense, no último dia 23 de abril.
O que não esperavam era que a Santa Sé enviasse uma resposta para eles.
"Uma sensação de êxtase, de felicidade imensa. Como católico, venho de uma tradição católica, de uma família católica, e o Papa representa o ser supremo na Terra. Ele mandando uma carta em papel timbrado do Vaticano à nossa família é uma honra", disse Toni Reis à ANSA nesta terça-feira (8).
"Sempre fui católico, mas era uma ovelha negra. Com a carta, ele nos tornou uma ovelha branca agora. Vi nele um verdadeiro seguidor de Cristo e das palavras de Cristo, um verdadeiro Pastor", exaltou.
A carta assinada pelo assessor de Assuntos Gerais da Secretaria de Estado do Vaticano, monsenhor Paolo Borgia, foi enviada no dia 10 de julho, mas só foi vista pela família nesta semana, ao chegarem de uma viagem de férias.
Na correspondência, o monsenhor informa que "o Santo Padre viu com apreço" a correspondência enviada e que o "papa Francisco lhe deseja felicidades, invocando para a sua família a abundância das graças divinas".
Solicitado para entrevistas de imprensa de todo o mundo, Reis relatou ainda que tinha acabado de voltar da vidraçaria onde contratou um serviço para envidraçar a carta para um quadro. "Vamos colocar no panteão da família Reis e Harrad", disse.
Reis, que é secretário de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e diretor-executivo do Grupo Dignidade, ressaltou a importância do ato de Francisco.
"Para o Papa, pode ter sido só mais uma cartinha. Mas, para nós, significa o reconhecimento da nossa família", acrescentou à ANSA. Desde que assumiu o Pontificado, Jorge Mario Bergoglio mostrou que atuaria na questão das "pessoas de orientação homossexual", como gosta de ressaltar sempre, de maneira mais aberta.
Apesar de durante o Sínodo das Famílias, ocorrido no ano passado, ter mantido a definição de casamento apenas como a união abençoada pela Igreja Católica entre um homem e uma mulher, o Pontífice afirmou que os gays precisavam ser "aproximados e não afastados" da fé.
Para Francisco, que teve como uma de suas principais frases de início do Pontificado um "quem sou eu para julgar os gays", todos devem ser abraçados pela Igreja Católica.
"As pessoas devem ser acompanhadas, assim como fez Jesus. Quando uma pessoa que tem essa condição chega em Jesus, ele não dirá 'vá embora porque você é homossexual", disse durante o voo de volta da viagem aos EUA, feita em outubro de 2016.
Poucos meses antes, Bergoglio já havia causado uma polêmica com a forte ala conservadora da Igreja ao dizer que concordava com as afirmações de um bispo alemão de que a Igreja Católica deveria pedir perdão aos gays.
Segundo ele, os ensinamentos dizem que ninguém "deve ser discriminado" e que os homossexuais devem ser "respeitados e acompanhados pastoralmente".
Para Reis, essa mudança feita por Francisco é uma "grande evolução". "Acho que é uma grande evolução porque éramos queimados na fogueira em séculos atrás.
Acho fabuloso porque estamos no século 21, não somos mais bárbaros e o Papa e a Igreja precisam se atualizar. Se Cristo descesse à Terra hoje, ele continuaria dizendo que temos que amar a Deus e ao próximo e isso nós fazemos", disse ainda à ANSA.
Questionado sobre a reação de seus três filhos, Reis informou que todos estão muito felizes. "O mais novo, que adora futebol, disse que nunca pensou que ia gostar de um argentino", disse, aos risos.
"Já Jéssica, que é roqueira, fala que o Papa é pop e que ele é muito querido. O mais velho está muito feliz e me disse 'que bom sermos reconhecidos como família', não somos mais escória", contou à ANSA.
Com a repercussão da resposta do Pontífice, especialmente nas redes sociais, Reis já recebeu algumas críticas de católicos conservadores, mas diz que não se incomoda.
"Todos têm o direito de falar, mas tenho pedido o Whatsapp e o telefone dessas pessoas para, quem sabe, ligar no futuro e pedir a opinião sobre algo da minha vida. O que vale, para mim, é a opinião do Papa. Se não quiser me aceitar, tudo bem, eu só exijo respeito", acrescenta.
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da ANSA.