Abraham Weintraub: ex-ministro da Educação pediu demissão do governo Bolsonaro após um ano e dois meses de gestão (Walterson Rosa/MEC/Flickr)
Agência O Globo
Publicado em 19 de junho de 2020 às 19h40.
Última atualização em 19 de junho de 2020 às 23h15.
Um dia depois de o governo anunciar sua ida para o Banco Mundial (Bird), Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, já começa a enfrentar resistências de representantes da sociedade civil. Uma carta com quase 300 assinaturas foi enviada, nesta sexta-feira, às embaixadas de países que integram o grupo do Brasil, na instituição.
O documento faz um apelo para que Weintraub não seja eleito diretor executivo do Bird, sob o argumento de que sua gestão no ministério foi "destrutiva e venenosa" e que ele não tem competência e condições técnicas de assumir essa função.
A correspondência foi endereçada aos embaixadores da Colômbia, da República Dominicana, do Equador, do Haiti, do Panamá, das Filipinas, do Suriname e de Trindade e Tobago.
Junto com o Brasil, esses nove países têm votos suficientes para eleger o ex-ministro da Educação para o cargo — que já foi ocupado pelo ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan; os secretários de Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Caramuru e Otaviano Canuto; o ex-secretário do Tesouro Nacional, Murilo Portugal, entre outras personalidades.
Na carta, os signatários afirmam ter recebido com perplexidade a notícia. Desaconselham "fortemente" a indicação e destacam que a demissão do ex-ministro é resultado de um ambiente "destrutivo e venenoso que ele inflou em todo o sistema político do Brasil."
Segundo o documento, desde que assumiu o cargo, Weintraub sempre respondeu com "desprezo, sarcasmo e agressividade a críticas ou mesmo recomendações de cidadãos comuns, jornalistas, legisladores e até juízes da Suprema Corte."
"Devido a seu comportamento odioso e desempenho medíocre como ministro da Educação, houve pedidos quase unânimes de sua renúncia em todos os segmentos da sociedade brasileira", diz um trecho da carta.
Assinada por institutos e organizações governamentais ligadas a várias áreas, como direitos humanos, urbanismo e defesa do consumidor, a carta também tem como signatários artistas, economistas, escritores, antropólogos e historiadores.
São exemplos o ex-presidente do BNDES, Pio Borges; os economistas Laura Carvalho e José Roberto Afonso; o cantor e escritor Chico Buarque, a cantora Olívia Byington; o ator Paulo Betti; a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero.
"Weintraub pode comprometer os interesses do Brasil no banco. Uma pessoa que define a si próprio como um homem da militância, não pode tratar com isenção um pedido do governador do Maranhão [Flavio Dino, do PCdoB], por exemplo. Não tem cabimento botar num posto que é eminentemente técnico alguém que é militante de extrema direita", disse Ricupero ao O Globo.
O documento enumera uma série de fatores como argumento de que Weintraub é a "antítese" de tudo o que o Banco Mundial procura representar na política de desenvolvimento e no multilateralismo: ideologia baseada em evidências, fracas habilidades de gerenciamento, falta de capacidade de lidar com injustiças sociais e econômicas por meio de políticas públicas, desrespeito aos valores do multilateralismo e conduta incompatível com os padrões de integridade ética e profissional.
Procurado, o Ministério da Educação informou que a pasta e o próprio Weintraub não vão se manifestar.