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Cármen Lúcia defende direito a memória em palestra

A ministra afirmou que é importante identificar o que é a memória que precisa ser guardada e não pode ser rediscutida e o que não pode ser guardado

Cármen Lúcia: "Este debate é para que a gente saiba qual é o limite da liberdade na construção de uma democracia" (Adriano Machado/Reuters)

Cármen Lúcia: "Este debate é para que a gente saiba qual é o limite da liberdade na construção de uma democracia" (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de agosto de 2017 às 21h35.

Brasília - A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, defendeu a preservação da memória histórica, em uma palestra que fez na noite desta segunda-feira, 21, em Brasília, no Fórum "Esquecimento x Memória".

"O direito à memória de um povo é um direito de, construindo a sua história, o povo construir-se e reconstruir-se naquilo que é a sua identidade", disse a ministra.

O comentário foi feito na abertura do debate que tem como tema principal o "direito ao esquecimento", tema complexo que opõe a liberdade de expressão ao direito à privacidade e que será abordado pelo Supremo Tribunal Federal em uma ação de relatoria do ministro Dias Toffoli.

Sobre o tema, que qualificou como "candente", Cármen Lúcia afirmou que não poderia antecipar posição, mas falou sobre o que está em jogo em cada lado desta discussão. A ministra afirmou que é importante identificar o que é a memória de alguém que precisa ser guardada e não pode ser rediscutida e o que não pode ser guardado.

"Acredito que encontraremos o equilíbrio para deixar que as liberdades garantam a dignidade, mas que a liberdade de um não se sobreponha à dos outros de tal maneira que não tenhamos capacidade de saber qual o nosso passado", afirmou a ministra. "Minha liberdade de expressão para falar sobre o direito ao esquecimento, na condição de juíza, é menor do que seria na condição de professora, até porque temos um recurso extraordinário em tramitação no STF exatamente tratando do tema no ponto específico. Não posso falar porque o juiz não pode se antecipar a falar sobre aquele objeto de seu julgamento", disse, explicando porque não tomaria lado na discussão.

"Este debate é para que a gente saiba qual é o limite da liberdade na construção de uma democracia que seja justa e que garanta plena liberdade a todos e não a alguns", disse. A palestra de Cármen Lúcia abriu o Fórum "Esquecimento X Memória - Reflexão sobre o direito ao esquecimento, o direito à informação e à proteção da memória", na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Distrito Federal. O evento foi organizado pela Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e o Instituto Palavra Aberta.

Em sua fala, a ministra relembrou a decisão do Supremo Tribunal Federal que, em junho de 2015, garantiu a possibilidade de biografias não autorizadas serem publicadas no Brasil. Naquele julgamento, a ministra Cármen Lúcia citou o provérbio popular "cala-boca já morreu". "E não é calando-se que se fará cumprir a Constituição. A história humana se faz de histórias humanas", disse na ocasião.

Direito ao esquecimento

O direito ao esquecimento é a busca de uma pessoa por não ter a exposição de um fato ou informação pública que, mesmo sendo verdadeira, possa lhe causar constrangimentos e transtornos. Este tema é discutido em uma ação no Supremo Tribunal Federal, que deverá firmar o entendimento para o Brasil inteiro.

O assunto é polêmico porque opõe princípios da Constituição Federal. De um lado, existe o direito à liberdade de expressão e o direito à informação; de outro, a dignidade da pessoa humana e vários de seus corolários, como a inviolabilidade da imagem, da intimidade e da vida privada.

Acompanhe tudo sobre:Cármen LúciaSupremo Tribunal Federal (STF)

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