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"Capital da Esperança", Brasília completa 60 anos em meio à quarentena

Distrito Federal tinha prevista uma robusta programação de eventos comemorativos, entre concertos de rua e exposições de arte

Palácio do Planalto em construção: cidade planejada com icônicos edifícios futuristas, completará 60 anos na próxima terça-feira (Arquivo Público de Brasília/AFP)

Palácio do Planalto em construção: cidade planejada com icônicos edifícios futuristas, completará 60 anos na próxima terça-feira (Arquivo Público de Brasília/AFP)

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AFP

Publicado em 17 de abril de 2020 às 08h56.

Última atualização em 17 de abril de 2020 às 08h57.

Apelidada de "capital da esperança", Brasília, cidade planejada com icônicos edifícios futuristas, completará 60 anos na próxima terça-feira (21) mergulhada no desânimo planetário causado pelo novo coronavírus e em meio a uma tensão política extrema pelas críticas do presidente Jair Bolsonaro às medidas de quarentena.

O Distrito Federal tinha prevista uma robusta programação de eventos comemorativos, entre concertos de rua, exposições de arte e uma missa em sua bela catedral, um dos edifícios projetados na capital federal pelo saudoso Oscar Niemeyer, o arquiteto da "curva sensual".

Mas tudo foi adiado por pelo menos três meses. No lugar, as autoridades propõem agora que os moradores cantem "Parabéns pra você" das janelas de suas casas e preparam um vídeo comemorativo com artistas e personalidades vinculados às origens de Brasília.

Será um aniversário discreto para celebrar o nascimento de um projeto faraônico, desenhado pelo urbanista Lúcio Costa e erguido em quatro anos na então despovoada região central do Brasil, a mais de mil quilômetros do Rio de Janeiro, que tinha sido a capital do Brasil desde 1763.

"Outro planeta"

Não é de se estranhar que, quando visitou Brasília em 1961, o cosmonauta russo Yuri Gagarin tenha dito ter a impressão "de estar desembarcando em outro planeta".

Do alto, o chamado Plano Piloto de Brasília tem a forma de um avião, com dois grandes eixos que se cruzam: o monumental, com a ampla Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes, e o residencial, uma sucessão de "superquadras", com edifícios residenciais praticamente idênticos com jardins e amplas áreas verdes.

Nestes dias, as ruas desta cidade utópica que quis eliminar as diferenças sociais, mas acabou sendo um espelho das desigualdades do Brasil, com dezenas de empobrecidas cidades satélite, estão praticamente vazias.

Em 12 de março, o governador Ibaneis Rocha se tornou o primeiro do país a decretar estritas medidas de isolamento social, como a proibição de eventos maciços e o fechamento de colégios, comércios, bares e restaurantes até o começo de maio.

"Gripezinha"

Uma decisão que desagradou a Bolsonaro, muito criticado por ter minimizado em um primeiro momento a importância da COVID-19, que comparou a uma "gripezinha".

O presidente tem enfrentado autoridades estaduais e municipais, inclusive aliados, ao fazer campanha contra uma quarentena que vem sendo cumprida por boa parte da sociedade. O argumento de Bolsonaro é que se deve evitar desastre econômico e o consequente caos social.

E isso a poucas semanas do pico da pandemia, previsto para acontecer a partir de maio no país, o mais atingido pelo coronavírus na América Latina.

O presidente de 65 anos saiu várias vezes às ruas de Brasília para visitar estabelecimentos comerciais e cumprimentar e tirar selfies com simpatizantes. A cada passeio, gera pequenas aglomerações, desaconselhadas neste momento.

Sua pressão não surte efeito no Distrito Federal, porém, que tem a maior renda per capita do Brasil e onde o presidente teve quase 70% dos votos no segundo turno das eleições presidenciais.

Segundo dados divulgados pela imprensa local, seus cerca de três milhões de habitantes são os que mais estão seguindo o confinamento voluntário, apesar de na semana passada o governador ter permitido a abertura de alguns comércios não essenciais para reativar a economia.

"O isolamento social foi possível de ser feito pelo perfil das pessoas que moram aqui, muito funcionário público que pode fazer 'home office'. Por esse perfil, conseguimos até o momento um isolamento social horizontal bastante bom", explica à AFP a infectologista Eliana Bicudo, assessora da Sociedade Brasileira de Infectologia.

"Mas, nas cidades satélite, são muitas pessoas (vivendo) em espaços menores que no Plano Piloto. São muitos trabalhadores de serviços que já estão com dificuldade de se manter... A situação vai ser diferente seguramente, o isolamento vai começar a se flexibilizar", acrescentou.

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