Campos Neto: para o presidente do BC, um gasto maior que não respeite o teto pode afetar a credibilidade do país e causar um efeito negativo no crescimento de médio prazo (Amanda Perobelli/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 7 de outubro de 2020 às 12h32.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, defendeu nesta quarta-feira que o teto de gastos foi essencial para que o país pudesse fazer as despesas extraordinárias da pandemia. De acordo com ele, a regra fiscal permitiu que o Brasil continuasse com a credibilidade junto a investidores porque havia o compromisso de voltar a gastar menos assim que a pandemia acabasse. O presidente deu entrevista para a rádio Jovem Pan.
— O teto foi exatamente a âncora que permitiu o país a gastar mais para enfrentar o desafio da pandemia porque depois os agentes entendiam que iam retornar o teto. Quando você começa a ter uma dúvida se de fato vai retornar ou não, você não só corre o risco do não retorno, mas de precificar uma trajetória de dívida com uma estabilidade que é questionável.
Na visão de Campos Neto, um gasto maior que não respeite o teto pode afetar a credibilidade do país e causar um efeito negativo no crescimento de médio prazo. O presidente explica que o custo desse gasto é muito maior do que o benefício que ele gera.
— É importante entender que não tem mágica, quando você tem uma situação fiscal mais frágil, o gasto que você pensa que vai beneficiar o curto prazo, ele pode ser o elemento inibidor do crescimento de médio prazo, que é o que importa para o país.
A fala do presidente do Banco Central acontece em meio às discussões de como financiar o Renda Cidadã, projeto do governo de renda básica. Entre as opções já apresentadas pelo senador Márcio Bittar (MDB-AC) e pelo governo, estão o uso de recursos reservados para o pagamento de precatórios
e do Fundeb, visto por alguns como uma forma de furar o teto.
A última possibilidade estudada pelo governo, conforme mostrou O GLOBO, foi de cortar os supersalários do funcionalismo para financiar o programa.
Na comunicação oficial, o Banco Central vem ressaltando a importância do fiscal para as taxas de juros. Na última decisão da taxa básica de juros, a Selic, o BC destacou que uma piora na trajetória fiscal do país de forma prolongada poderia elevar os juros.
— A nossa trajetória de juros está muito ligada à percepção de estabilidade fiscal. As pessoas precisam entender e a sociedade, a gente precisa comunicar isso, não tem como ter inflação baixa e a juros baixos com o fiscal desorganizado.
Campos Neto defende que há investidores internacionais interessados em vir para o Brasil, mas ressalta que é necessário ter credibilidade e, para isso, ser fiscalmente responsável. O mercado consumidor grande e a agropecuária seriam os principais chamarizes para esses investidores.
— Nossa melhora de credibilidade, melhora de percepção em relação a investidores estrangeiros, está muito ligada ao fiscal. O Brasil precisa mostrar que tem disciplina fiscal.
Segundo o presidente do Banco Central, a autarquia continua “relativamente tranquila” com o cenário de inflação, mesmo com as recentes altas nos combustíveis e nos preços de alimentos. Campos Neto disse que para entender melhor o fenômeno, é preciso decifrar os componentes que formam o aumento de preços.
Ele explica, por exemplo, que a inflação no varejo está muito ligada ao aumento nos combustíveis. Já na inflação dos alimentos, Campos Neto, disse que é algo que está acontecendo em vários emergentes e citou duas razões. Com o distanciamento social, as pessoas deixam de gastar com alguns produtos, como viagens, e passam a gastar mais em casa, com alimentos, por exemplo. Essa alta na demanda faz com que o preços subam. Além disso, ele cita o auxílio emergencial.
— Tem o efeito do auxílio emergencial que a gente consegue ver segmentação preço de alimento. Os itens que eram mais direcionados a pessoas que recebiam auxílio emergencial tiveram alta mais expressiva.