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Caminhoneiros dizem que greve continua até encontro com Pacheco

Representantes do grupo dizem que alta do combustível não é uma pauta e que presidente não pediu que grupo se desmobilizasse

Greve dos caminhoneiros: O grupo se mobilizou em apoio ao governo nos atos de 7 de setembro (Adriano Machado/Reuters)

Greve dos caminhoneiros: O grupo se mobilizou em apoio ao governo nos atos de 7 de setembro (Adriano Machado/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 9 de setembro de 2021 às 16h35.

Última atualização em 9 de setembro de 2021 às 17h34.

Após serem recebidos por Jair Bolsonaro nesta quinta-feira no Palácio do Planalto, caminhoneiros afirmaram que não vão se desmobilizar. Segundo um representante do grupo, na reunião, o presidente não pediu que eles cessassem a paralisação. Eles aguardam serem recebidos pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e negam que a alta do preço dos combustíveis seja um dos motivos do protesto.

Os atos entraram no segundo dia com menos força. Segundo o boletim divulgado hoje à tarde pelo Ministério da Infraestrutura, foram registradas manifestações em rodovias federais de 13 estados. No entanto, não há registro de interdições, de acordo com a pasta.

Havia a expectativa que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, desse uma declaração, após a reunião de Bolsonaro com os caminhoneiros que começou ainda na manhã. Entretanto, os caminhoneiros surgiram no saguão no Palácio do Planalto acompanhados dos deputados bolsonaristas Carla Zambelli (PSL-SP), Major Vitor Hugo (PSL-GO) e Bibo Nunes (PSL-RS).

"A gente está aqui manifestando, representando um segmento da sociedade brasileira. A gente estabeleceu uma pauta de entrega de um documento ao senador Rodrigo Pacheco e até o momento não tivemos êxito nisso. Permanecemos no aguardo de ser recebido pelo mesmo. E talvez existam algumas questões sobre quanto tempo vai durar: estamos aguardando sermos recebidos pelo Senador Rodrigo Pacheco. Até que isso seja realizado estamos mobilizados em todo o Brasil", disse Francisco Dalmora Burgardt, o Chicão Caminhoneiro.

Francisco Burgardt foi candidato a vereador nas eleições de 2020 em Canoinhas, Santa Catarina, pelo PRTB. Burgardt também é um dos manifestantes listados em um pedido de habeas corpus protocolado na madrugada desta quinta-feira no Superior Tribunal de Justiça para evitar que apoiadores de Bolsonaro não sejam retirados da Esplanada dos Ministérios.

No habeas corpus, os manifestantes indicam que agenda que desejam encaminhar ao senador Rodrigo Pacheco inclui o desarquivamento e encaminhamento de todos os pedidos de impeachment de ministros do STF e a instauração de um processo de cassação do mandado do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).

O grupo se mobilizou em apoio ao governo nos atos de 7 de setembro, que tiveram caráter antidemocrático — havia uma série de faixas e cartazes defendendo o fechamento do Congresso, a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e uma intervenção militar, todas pautas sem previsão da constitucional. Muitos caminhões foram vistos em Brasília e, na véspera do ato, veículos furaram o bloqueio na Esplanada dos Ministérios e invadiram o local.

Em gravação compartilhada ontem, Bolsonaro diz que a ação "atrapalha a economia" e "prejudica todo mundo, em especial, os mais pobres".

"Aquilo que vocês ouviram no áudio e que o Tarcísio soltou no vídeo, é a mesma questão. Não mudou nada. Não cabe ao presidente decidir o que eles fazem", disse a deputada Carla Zambelli.

Questionado se o presidente havia pedido para que desmobilizassem, Chicão Caminhoneiro afirmou que não houve apelo. Na noite de quinta-feira, Bolsonaro e o ministro Tarcísio gravaram mensagem pedindo a liberação das estradas.

"Não, o presidente não nos pediu nada. Estamos numa visita de cortesia visto que viemos ao Senado e até o momento não pudemos ser recebidos. Como nós estamos mobilizados aqui aproveitamos a oportunidade para estar com o presidente que diga-se de passagem foi muito cordial. E estamos avançando no sentido de construir uma agenda positiva para o povo brasileiro", disse.

Apesar da alta de combustível que afeta diretamente a categoria, eles afirmam que o tema não está na pauta de reivindicação deles.

"Não temos nada com relação a preço de combustível nesse momento. Estamos mobilizados pelos direitos de liberdade, de expressão, de manifestação. O povo está sendo impedido de se posicionar em muitas questões e precisamos que isso mude, que a Constituição seja respeitada de forma integral", disse Chicão.

Outro representante do movimento, Cleomar Araújo também disse que a pauta do grupo é demonstrar a insatisfação com o Judiciário e repetiu o discurso promovido pelo presidente Jair Bolsonaro de que o STF estaria descumprindo a Constituição.

"Nossa pauta nunca foi com o presidente, sempre foi STF via Senado. Que o Senado teria a obrigação de atender e tentar resolver a nossa questão. A insatisfação do povo brasileiro com o Judiciário seria isso. O único poder político foi o Executivo que nos abriu as portas para entender o que estava acontecendo e o por que disso. Porque tem alguns elos inclusive da imprensa que estão dizendo que nossa pauta é contra o presidente", disse outro porta-voz do grupo, Cleomar José.

Aliado de Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli não explicou se o presiedente recuou após ter gravado áudio pedindo que os caminhoneiros encerrassem os bloqueios iniciados com os atos de 7 de Setembro, convocados pelo próprio chefe do Executivo. A deputada reafirmou que o áudio gravado pelo presidente na noite anterior, pedindo a desmobilização, continuava valendo.

"O presidente externou para eles uma preocupação com os mais vulneráveis nessa questão da paralisação. E foi ouvido por eles. E a voz deles na verdade é a voz do povo brasileiro que clamou no dia 7 do 9 por liberdade, por respeito à Constituição e contra a censura", disse a deputada.

Até o momento, segundo o Ministério da Infraestrutura, são registrados pontos de concentração em 13 estados, mas não há mais registros de interdições na malha rodoviária nacional.

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