Luiz Inácio Lula da Silva: é a primeira vez que os negócios do petista aparecem nas investigações da Operação Lava Jato (Paulo Fridman/Bloomberg News)
Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2015 às 10h16.
São Paulo - A construtora Camargo Corrêa pagou R$ 3 milhões para o Instituto Lula e R$ 1,5 milhão para a LILS Palestras Eventos e Publicidade, empresa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2011 e 2013.
É a primeira vez que os negócios do petista aparecem nas investigações da Operação Lava Jato, que apura um esquema de cartel e corrupção na Petrobras com prejuízo de R$ 6 bilhões já reconhecidos pela estatal.
O registro sobre o elo da empreiteira - uma das líderes do cartel acusado de corrupção pela Lava Jato - com Lula consta do laudo 1047/2015, da Polícia Federal, anexado ontem aos autos da investigação.
O laudo tem 66 páginas e é subscrito pelo perito criminal federal Ivan Roberto Ferreira Pinto.
A perícia foi realizada na contabilidade da Camargo Corrêa de 2008 a 2013, período em que a empreiteira recebeu R$ 2 bilhões da Petrobras. O documento mostra que a construtora repassou R$ 183 milhões em "doações de cunho político" - destinadas a candidaturas e partidos da situação e da oposição.
O Instituto Lula, criado pelo ex-presidente após deixar o Planalto, em 2011, recebeu três pagamentos de R$ 1 milhão cada.
Dois são registrados como "Doações e Contribuições": um em 2 de dezembro de 2011 e outro de 11 de dezembro de 2013.
O que chamou a atenção dos investigadores foi o lançamento de 2 de julho de 2012, sob a rubrica "Bônus Eleitoral".
No caso dos pagamentos ao LILS, cujo endereço declarado é a própria residência de Lula, em São Bernardo do Campo, a empreiteira registrou o deposito em conta corrente de R$ 337,5 mil, em 26 setembro de 2011, R$ 815 mil, em 17 de dezembro de 2012, e R$ 375,4 mil, em 26 de julho de 2013.
Esses valores, que somam R$ 1,5 milhão, são tratados pela empreiteira como serviços de "consultoria".
Dois executivos da Camargo, Dalton dos Santos Avancini e Eduardo Hermelino Leite, confessaram nos processos da Lava Jato, em acordo de delação premiada, que foram feitas doações eleitorais ao PT, após pedido do ex-tesoureiro João Vaccari Neto - preso desde abril, em Curitiba. Eles não citaram Lula.
O nome do ex-presidente chegou a ser mencionado pelo doleiro Alberto Youssef - peça central da Lava Jato - ao afirmar em delação à Procuradoria, em 4 de outubro de 2014, que "tinham conhecimento" do esquema de corrupção na estatal "o Palácio do Planalto" e "a presidência da Petrobras".
Lula não é alvo de investigação da Lava Jato.
Recentemente, o ex-presidente atacou o que chamou de "insinuações" envolvendo seu nome na operação.
"Eu não ia dizer isso aqui, mas estou notando todo santo dia insinuações. 'Lá na Lava Jato vão citar o nome do Lula'. 'Querem que empresários citem meu nome'. 'O objetivo é pegar o Lula'", desabafou, no ato de 1.º de Maio, em São Paulo.
O Instituto Lula informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que os valores registrados na contabilidade da Camargo Corrêa foram doados legalmente, sem qualquer relação com a Petrobras ou eleições.
Dirceu
No mesmo documento da PF, constam os pagamentos da Camargo Corrêa para a JD Assessoria e Consultoria, empresa do ex-ministro José Dirceu.
Ele é investigado por suposto uso das consultorias para empresas do cartel como forma de ocultar propina para o PT.
O laudo aponta que foram lançados como pagamentos para a JD, entre 2010 e 2011, R$ 900 mil, em dez depósitos bancários.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.