O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, fala em coletiva de imprensa na terça (Marina Ramos/Câmara dos Deputados Fonte: Agência Câmara de Notícias/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 12 de novembro de 2025 às 11h41.
O secretário licenciado de Segurança Pública do estado de São Paulo e deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) apresentou na noite de terça-feira, 11, sua terceira versão do relatório do projeto Antifacção. O texto sofreu forte oposição do governo — a começar pela indicação pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, de um aliado do governador paulista Tarcisio de Freitas (Republicanos) para elaborar o parecer — e de juristas e pesquisadores de segurança.
Com a pressão, Derrite modulou seu texto. Ontem, ao lado de Motta, afirmou que manteria as prerrogativas da Polícia Federal (PF), cuja atuação contra grupos criminosos aparecia em redação anterior do relatório condicionada à comunicação a gestores estaduais.
A nova versão do texto acalmou os ânimos e abre espaço para a votação prevista nesta quarta-feira, 12, no plenário da Câmara — Motta que votar hoje ou na quinta, 13. A sessão do Plenário está agendada para as 13h55.
Governistas ainda analisam trechos do texto, enquanto Tarcisio e membros da oposição classificaram a proposta como o “Marco Legal do Combate ao Crime Organizado”.
Segundo o presidente da Câmara, o esforço buscará “a convergência” entre governo e oposição. Na terça, ele passou o dia em reuniões e ouviu do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que a penúltima versão de Derrite estava recheada de “inconstitucionalidades”. Mais cedo, o ministro da Justiça havia sinalizado que recorreria ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso aquela versão do texto fosse à frente.
Após as alterações de Derrite no texto, governistas consideraram o desfecho uma vitória. Para o secretário de segurança pública paulista, o interesse do povo brasileiro foi atendido. "O que você chama de recuo eu chamo de estratégia. Eu atendo ao interesse do povo brasileiro", disse, em coletiva na noite de terça.
As últimas alterações buscam reduzir resistências. A equiparação de penas entre as condutas praticadas por facções e terroristas provocou fortes críticas. Segundo o governo e especialistas em segurança, a medida poderia abrir caminho para que empresas e cidadãos brasileiros fossem alvos de sanções internacionais.
Em sessão de "homenagem ao governo do RJ e aos policiais da Operação Contenção" nesta manhã, que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro, o governador do estado, Cláudio Castro voltou a chamar as facções criminosas como narcoterroristas, uma nomenclatura que tem mobilizado a narrativa da direita sobre o tema.
Outro ponto crítico se referia a um eventual conflito de competência entre a PF e autoridades estaduais.
Na primeira redação de Derrite, havia a menção ao pedido de autorização a governadores em caso de ações da PF contra grupos criminosos. Na segunda versão do texto, a atuação da PF contra o crime organizado ficava condicionada a uma “comunicação” prévia aos Estados ou a um pedido da Polícia Civil.
Importante o recuo do relator deputado Guilherme Derrite no novo parecer que apresentou ao projeto de lei Antifacção Criminosa enviado pelo presidente @LulaOficial ao Congresso Nacional. Retirou as propostas que enfraqueciam a ação da polícia federal contra o crime organizado e…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) November 12, 2025
“Importante o recuo do relator deputado Guilherme Derrite no novo parecer que apresentou ao projeto de lei Antifacção Criminosa enviado pelo presidente Lula ao Congresso Nacional. Retirou as propostas que enfraqueciam a ação da Polícia Federal contra o crime organizado e as que ameaçavam a soberania nacional. Também relevante o relator ter mantido propostas centrais do projeto do governo”, escreveu a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, nas redes.
Motta também celebrou o entendimento. Para ele, o projeto não discutirá soberania nem o papel da Polícia Federal. "Estamos agora criando uma lei nova, o Marco Legal do Enfrentamento ao Crime Organizado", afirmou. "Temos que ter a capacidade de construir e buscar convergência, principalmente para os grandes temas. A segurança pública nunca foi um tema tão urgente. Temos conversado para a proposta conversar com o sentimento do país."
O Ministério da Justiça fará agora uma análise mais apurada do texto para orientar os posicionamentos do governo, segundo o jornal O Globo. Em meio às críticas de integrantes da PF e do governo Lula, Motta ressaltou que conversou por duas vezes nos últimos dois dias com o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e almoçou na terça com Lewandowski.
Derrite classificou como “equivocada” a interpretação de que a autonomia da PF era cerceada em versões anteriores, mas reconheceu a necessidade de alteração. "Se o problema está no conflito de competência da PF e na soberania nacional, a gente está discutindo. Vamos manter um texto duro, disso não abro mão", afirmou Derrite. "Vamos entregar um marco legal do combate ao crime organizado no Brasil."
O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), avisou que o seu partido ainda buscaria equiparar as facções a grupos terroristas em outra iniciativa que tramita na Câmara. "Não abriremos mão de colocar os criminosos no Brasil como terroristas", disse Sóstenes em entrevista à CNN Brasil.
O relator também articula com o Senado para preparar o avanço da matéria na Casa Revisora, após uma aprovação na Câmara. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), designou informalmente o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) como um dos principais canais de diálogo sobre o texto, segundo o jornal O Globo.
Vieira, que também é relator da CPI do Crime Organizado, tem conversado sobre ajustes pontuais com o relator e tenta aparar arestas que possam dificultar a tramitação na Casa ao lado.
Com Agência O Globo