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Câmara aprova PEC que torna Fundeb permanente

Agora a proposta segue para o Senado. Se os senadores aprovarem a matéria em dois turnos, ela será promulgada e passará a vigorar

Escolas, educação, ensino, crianças (Germano Lüders/Exame)

Escolas, educação, ensino, crianças (Germano Lüders/Exame)

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Clara Cerioni

Publicado em 21 de julho de 2020 às 20h51.

Última atualização em 22 de julho de 2020 às 08h24.

Com amplo apoio das bancadas de todos os matizes ideológicos, a Câmara dos Deputados aprovou na noite desta terça-feira em dois turnos a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que torna permanente o Fundeb, o fundo de financiamento da educação básica no país.

Ao incorporar sugestões feitas pelo governo de última hora, o texto da relatora, deputada Professora Dorinha (DEM-TO), prevê uma elevação da parcela da União no fundo dos atuais 10% para 23% em seis anos. A versão anterior previa um repasse federal de 20%.

"Essa Casa assume um compromisso público com a educação brasileira", disse Dorinha, durante a discussão da proposta em plenário.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), elogiou o governo que "dialogou" no debate e permitiu se encontrar um caminho.

"Aqui estamos fazendo história hoje e com muita responsabilidade", disse. "São despesas que são investimentos nas nossas crianças", completou.

Agora a proposta segue para o Senado. Se os senadores aprovarem a matéria em dois turnos, ela será promulgada e passará a vigorar.

A relatora da proposta na Câmara não acatou sugestão que chegou a ser feita pelo Executivo para que 5% do fundo financiasse a transferência de renda a famílias com crianças em idade escolar e pré-escolar, dentro do Renda Brasil --o programa que o governo quer criar para substituir o Bolsa Família, uma marca registrada dos governos petistas.

Na conclusão da votação do primeiro turno, os deputados aprovaram um destaque que retira a compensação da Lei Kandir como um das fontes de financiamento do Fundeb.

O atual Fundeb iria ser encerrado em dezembro deste ano e o governo cogitou só retomá-lo em 2022, deixando o próximo ano sem esse aporte de recursos federais para Estados e municípios. Mas o parecer manteve o repasse ininterruptamente.

Na votação em segundo turno, a Câmara rejeitou um destaque apresentado pelo Novo que tentava retirar um instrumento chamado CAQ (Custo Aluno-Qualidade). Ele prevê um repasse mínimo de recursos por estudante em cada escola.

Na véspera da votação, o Palácio do Planalto tentou pressionar parlamentares a adiar a votação da proposta para a quarta-feira, mas tanto o presidente da Câmara quanto a relatora da matéria se posicionaram contra.

Mais cedo nesta terça, lideranças do centrão chegaram a apresentar um requerimento de adiamento da votação da PEC, mas retiraram o pedido.

Riscos do fim do Fundeb

Existente desde 2007, o fundo tem o objetivo de garantir um investimento mínimo padrão por aluno na rede pública de todo o Brasil e reduzir a desigualdade entre regiões. Os recursos são compartilhados entre estados, municípios e União.

A corrida é para votar a PEC a tempo de os recursos serem incluídos no orçamento de 2021, já que estados e municípios podem ficar sem dinheiro para bancar as aulas no ano que vem. Além da aprovação da PEC, os parlamentares ainda precisam discutir a lei de regulamentação. 

Nesses mais de 20 anos, a eficácia do Fundeb é quase uma unanimidade entre especialistas da área. Sua criação levou a uma drástica redução nas desigualdades regionais entre estados mais ricos e mais pobres do Brasil, que hoje é de 564% na relação entre o maior e o menor valor investido por aluno nos municípios. De acordo com um estudo da Câmara dos Deputados, sem a política de fundo, a desigualdade seria de 10.000%.

Por serem vinculados à arrecadação, os recursos do Fundeb também cresceram nos anos de bonança da economia brasileira. Em 2007, o valor correspondia a cerca de 48 bilhões de reais. Em 2020, a projeção feita no fim do ano passado estimava 172 bilhões de reais.

O fundo é destacado como uma das raras políticas públicas do Brasil que se consolidaram como política de Estado e não de governo, ou seja, que se mantém apesar das trocas de presidentes.

(Com Carolina Riveira e informações da Reuters)

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