Brasil

Câmara aprova projeto que flexibiliza teto de gastos dos estados

Emendas parlamentares serão excluídas de cálculo que limita despesas

Câmara dos Deputados: a imposição do teto local, inclusive, foi uma contrapartida à renegociação de dívidas de 20 estados com a União (Agência Câmara/Agência Câmara)

Câmara dos Deputados: a imposição do teto local, inclusive, foi uma contrapartida à renegociação de dívidas de 20 estados com a União (Agência Câmara/Agência Câmara)

AO

Agência O Globo

Publicado em 1 de outubro de 2021 às 16h06.

A Câmara dos Deputados aprovou na quinta-feira proposta que flexibiliza o teto de gastos de estados. Por 372 votos a favor e 13 contrários, o novo dispositivo deixa de contabilizar despesas como emendas parlamentares de bancada para o cálculo do limite de gastos.

O texto, enviado ao Senado, foi aprovado com o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e de todos os partidos, à exceção do Novo. O teto de gastos é um mecanismo que proíbe o crescimento das despesas acima da inflação. A solução foi apresentada na Câmara após parlamentares se queixarem do bloqueio de emendas, previstas em orçamento da União.

Durante a votação, o deputado Paulo Ganime (Novo-RJ) argumentou que o texto abre brecha para que qualquer transferência da União seja desconsiderada para efeito do cálculo do teto de gastos local. Lira, por sua vez, sinalizou apoio do Ministério da Economia.

— Não há risco nenhum de rompimento do teto de gastos por parte dos governadores. Não estamos quebrando e nem fazendo exceção. Tão somente adequação de recursos extraordinários repassados ao estados, para que não impacte no teto de gastos — disse o presidente da Câmara.

Após a votação, no entanto, o ministério redigiu nota técnica em que critica os termos da proposta. O tema é sensível, especialmente no caso de estados em dificuldades e até mesmo em regime de recuperação fiscal, como o Rio de Janeiro.

A imposição do teto local, inclusive, foi uma contrapartida à renegociação de dívidas de 20 estados com a União. Hoje, as transferências da União previstas na Constituição e as emendas parlamentares individuais já estão fora do limite para as despesas nos estados.

Com a possível sanção da proposta, haveria uma brecha maior para o descontrole. A pasta de Paulo Guedes diz que “o alargamento do rol de exceções às limitações de despesas” pode “reduzir substancialmente o impacto fiscal positivo da contenção de despesas”.

“Considerando que a ampliação de despesas gerará a uma piora da situação fiscal dos Estados, então se estariam lançando as sementes para uma nova crise fiscal subnacional – especialmente para aqueles Estados no Regime de Recuperação Fiscal, pois são os que têm mais dificuldades para aumentar a arrecadação – e de novas judicializações dos contratos de financiamento e garantia que prejudicariam o endividamento da União, a confiança dos investidores e, consequentemente, a economia e a inflação”.

Para Paulo Ganime (Novo-RJ), que se posicionou de forma contrária ao texto, o projeto “acaba com o teto dos estados”.

— Segundo a interpretação de quem apoia (o projeto), o texto só afeta as emendas de bancada. As (emendas) individuais já estão fora do teto, o que é verdade. Mas aí já há um erro. No momento em que eles estão conseguindo emenda de bancada para fazer outras coisas, estão usando para gastar e não sanar as dívidas. Esse é o primeiro ponto. Mas o problema é maior porque, segundo o nosso entendimento, quando o texto cita o artigo 166 da Constituição, são abarcados todos os repasses da União, inclusive Fundo de Participação dos Estados (FPE). Eles têm o entendimento de que não valerá (para o FPE) . Mas, nas futuras peças orçamentárias, pode valer e abrir a porteira — diz Ganime.

O projeto de lei orçamentária para 2022, encaminhado pelo governo, reserva R$ 5,7 bilhões para as emendas de bancada, que têm execução obrigatória. Segundo os apoiadores da proposta, esse valor será importante para o desenvolvimento de políticas locais.

Relator da proposta, o deputado Lucas Vergílio (Solidariedade-GO) argumentou que as transferências visam o desenvolvimento econômico.

— Isso vai abrir espaço para estados em crise fiscal recuperar suas contas — disse.

  • Fique por dentro das principais notícias do Brasil e do mundo. Assine a EXAME
Acompanhe tudo sobre:Câmara dos DeputadosEstados brasileirosPEC do Teto

Mais de Brasil

Acidente com ônibus escolar deixa 23 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP