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Cabral disse que tinha de ganhar eleição ao pedir propina

O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, exigiu entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões, disse diretor da JBS em delação

 (VEJA.com/Reprodução)

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EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de maio de 2017 às 15h14.

São Paulo - O diretor de Relações Institucionais e de Governo da JBS, Ricardo Saud, relatou à Procuradoria-Geral da República que pagou R$ 27,5 milhões em propina para a campanha de Luiz Fernando Pezão (PMDB) ao governo do Rio em 2014. Em delação premiada, o executivo afirmou que negociou o dinheiro com o antecessor e padrinho político de Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral, também do PMDB - preso na Operação Calicute, desdobramento da Lava Jato, desde novembro de 2016. Cabral exigiu entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões, segundo o delator.

Em troca, a JBS assumiu, sem custos, segundo o delator, uma fábrica inutilizada da BR Foods de 400 mil m² em Piraí, no interior do Rio. Ele afirma que foram R$ 20 milhões de propinas "dissimuladas em doações oficiais" e mais R$ 7,5 milhões em espécie, supostamente entregues ao ex-secretário de Obras do estado Hudson Braga.

"Eu fui até o Sérgio Cabral e falei que a fábrica era tudo para nós. Eu perguntei se ele teria peito de tomar da BR Foods e ele disse que sim. Eu conversei com o Joesley (Batista, acionista da JBS) e disse: "Ganhar uma fábrica de graça num momento desse é a melhor coisa que tem'", disse no depoimento.

Saud ressaltou que nunca tratou diretamente com Pezão sobre recursos financeiros. Toda a negociação teria sido feita com Cabral, que era o articulador da campanha, segundo o executivo. Ele disse ainda que, quando iniciaram as conversas sobre o pagamento, Cabral disse: "Preciso ganhar a eleição", se referindo à campanha de Pezão.

"Ele pediu entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões de propina. Eu falei: "Você tá louco". Aí, fechamos em R$ 27,5 milhões. Uma parte grande foi para a eleição do Pezão e outra parte para deputados que ele queria eleger".

Segundo Saud, o dinheiro teria sido pago de forma parcelada entre julho e outubro de 2014. O delator informou que, além dos montantes para a campanha e para o PMDB do Rio, R$ 900 mil teriam sido destinados ao PDT.

"Ele disse: 'Preciso de tempo de televisão. Você precisa trazer um ou dois partidos'. Eu disse: 'Posso te apresentar alguns presidentes de partidos, que você já conhece e falar que nós damos a garantia, que se houver negócio, nós vamos pagar'. Mas depois de três ou quatro dias, ele disse: 'Não, você me dá o dinheiro e eu resolvo o problema'".

A reportagem não localizou neste domingo (21) a defesa do ex-governador do Rio Sérgio Cabral. A reportagem fez contato com o governo do Rio.

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