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Butantan deve divulgar hoje mais dados de eficácia da Coronavac. O que esperar?

O Instituto Butantan divulgou uma eficácia de 78% da Coronavac para casos leves e ausência de casos graves entre os vacinados, mas falta a eficácia geral

Vacina da Sinovac. (Nicolas Bock/Bloomberg)

Vacina da Sinovac. (Nicolas Bock/Bloomberg)

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Carolina Riveira

Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 06h21.

Última atualização em 12 de janeiro de 2021 às 12h04.

O Instituto Butantan deve divulgar nesta terça-feira, 12, mais dados de eficácia da Coronavac, vacina testada no Brasil com a chinesa Sinovac. Na semana passada, o Instituto divulgou que uma eficácia por grupos: de 78% para casos leves e 100% para graves e moderados.

O valor quer dizer que, de um grupo hipotético de 100 vacinados, 22 tiveram casos leves. E nenhum vacinado foi hospitalizado, foi parar na UTI ou precisou de respirador. Mas faltou divulgar a eficácia geral dos testes, o que deve ser anunciado hoje, segundo informou o governo paulista à imprensa.

Com base em números revelados até então, pesquisadores já estimavam que a eficácia da Coronavac teria ficado na casa dos 60%. Com base em fontes com acesso ao estudo, o site UOL também afirmou nesta segunda-feira que a eficácia nos testes no Brasil ficou abaixo de 60% e acima de 50%.

O patamar de 50% é o mínimo exigido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Anvisa para aprovação de uma vacina.

A Coronavac teve pedido de registro emergencial feito na Anvisa na última sexta-feira, 9. No fim de semana, a Anvisa solicitou mais detalhes sobre a Coronavac, após o envio da documentação inicial. O secretário de Saúde paulista, Jean Carlo Gorinchteyn, disse que o material completo já havia sido enviado, mas o Butantan afirmou que está enviando a documentação solicitada.

Na opinião de ex-presidentes da Anvisa, o pedido de mais dados sobre a Coronavac não coloca em risco a aprovação da vacina. Os dados pedidos, segundo divulgados pela Anvisa à imprensa, dizem respeito a faixa etária e outras características demográficas dos voluntários testados, mais números sobre os testes e registro dos eventuais desvios de protocolo. 

Também nesta segunda-feira, a Indonésia divulgou seus resultados de eficácia dos testes da Coronavac no país, de 65,3%. Antes, a Turquia já havia divulgado eficácia de 91%. A agência reguladora da Indonésia também aprovou a Coronavac para uso emergencial.

O Brasil terá vacina em 20 de janeiro?

Após meses de embates, o governo federal anunciou que vai adquirir todo o estoque da Coronavac e incluir a vacina no Plano Nacional de Imunização. O governo federal comprou 46 milhões de doses da Coronavac, com parte do montante produzido no Butantan e parte importado, e distribuirá o imunizante a todos os estados de acordo com os grupos prioritários e população de cada lugar.

A outra vacina no Brasil mais próxima da aprovação é de AstraZeneca e Universidade de Oxford, testada em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que também teve o pedido de registro junto à Anvisa feito na última sexta-feira. Para essa vacina, a AstraZeneca divulgou eficácia entre 62% e 90%, mas também não tornou pública a eficácia geral, que deve ficar mais perto do patamar menor.

As primeiras doses dessa vacina, cerca de 2 milhões, virão importadas do indiano Instituto Serum, o maior fabricante de vacinas do mundo e parceiro da AstraZeneca para fabricar vacinas a países em desenvolvimento. Em seguida, as doses também serão produzidas pela Fiocruz.

O governo federal estimou começar a vacinar em 20 de janeiro, em um cenário classificado como otimista, ou no começo de fevereiro. Mas ainda não definiu um dia preciso. Ontem, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, virou motivo de questionamentos nas redes sociais ao afirmar que o Brasil começaria a vacinar "no dia D, na hora H".

A Anvisa pediu prazo de até 10 dias desde o pedido de registro emergencial para analisar e eventualmente aprovar os imunizantes. 

Assim, se a Coronavac for aprovada pela Anvisa nos próximos dias para uso emergencial, o imunizante é por ora o mais próximo de estar disponível ainda em janeiro -- embora a data de 20 de janeiro, em menos de 10 dias, passe a ficar cada vez menos possível.

A importação do Serum da vacina de Oxford, além da aprovação de ambas as vacinas pela Anvisa, definirão se o Brasil conseguirá começar a vacinar a população ainda em janeiro.

O estado de São Paulo diz que mantém o início de sua vacinação para 25 de janeiro, com sua fatia que lhe cabe da Coronavac no Plano Nacional de Imunização, ainda que o governo federal não inicie a imunização nacionalmente neste dia, segundo informou o governo paulista na semana passada. 

O que dizem os dados de eficácia

Na prática, ter vacinas com eficácia menor, na casa dos 60%, como se desenha para a Coronavac e a vacina de Oxford, indicam que o Brasil terá de vacinar uma fatia maior da população para alcançar maior eficiência na imunização, possivelmente mais de 70%.

Como os vacinados não deixam de transmitir o vírus (segundo o que se sabe até agora), uma vacina será mais eficiente quanto maior o número de imunizados

Uma esperança é que a vacina também ajude a tornar a doença mais fraca, evitando mortes e a superlotação de UTIs, sobretudo em meio à população de maior risco. É algo que já acontece com a vacina da gripe, aplicada em idosos e que tem eficácia menor, entre 40% e 70%. 

Após os números em cada país, a Sinovac precisará ainda divulgar em breve a eficácia somada dos testes em todos os países onde a Coronavac foi testada na fase 3, para que se saiba a eficácia geral nos testes globais.

No Brasil, por exemplo, os voluntários foram somente profissionais de saúde -- que costumam ter menos idosos atuantes, diante da desobrigação de atuarem de forma presencial na pandemia --, enquanto outros países testaram outros grupos mais diversos.

Não somente o resultado só do Brasil, mas a soma dos resultados nesses variados grupos dará uma ideia melhor do impacto da vacina.

A tendência, como se mostrou com Turquia e Indonésia, é que os outros países tenham eficácia melhor da Coronavac do que o Brasil, uma vez que os profissionais de saúde voluntários estavam altamente expostos ao vírus.

Os primeiros números da Coronavac no Brasil, os 78% de eficácia em casos leves, também só levaram em conta os pacientes que se contaminaram com alguns sintomas, mas não incluíram os assintomáticos ou que tiveram sintomas extremamente leves.

Esses grupos são classificado como grupos 1 e 2 de contágio em uma definição da OMS; o grupo 3, o que foi classificado como "casos leves" nos testes da Coronavac, indica que o paciente precisou de alguma ajuda, mas com sintomas leves o suficiente para não ser internado em hospital, e 4 em diante indica hospitalização.

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