BRICS: Bloco econômico é formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Gianluigi Guercia/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 23 de agosto de 2023 às 15h09.
Última atualização em 23 de agosto de 2023 às 15h14.
Os cinco países que integram atualmente os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) devem anunciar nesta quinta-feira, 24, no encerramento da cúpula em Johannesburgo, uma ampliação inédita do grupo, incorporando Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Indonésia e Irã.
Segundo informação de fontes do governo ao GLOBO, o consenso em relação aos nomes, alcançado durante uma reunião na manhã desta quarta-feira (tarde na África do Sul, que está cinco horas à frente do Brasil), só foi possível porque os países conseguiram elaborar critérios para o ingresso dos postulantes.
A entrada da Argentina no Brics, defendida pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, é dada como certa. Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes foram mencionados como prováveis, enquanto Indonésia e Irã foram citados separadamente, sendo possível a entrada dos dois ou de um deles. Mudanças de última hora não podiam ser descartadas, afirmou uma das fontes consultadas, mas, acrescentou, o entendimento sobre os novos membros foi alcançado depois de longos debates.– Chegamos a um acordo quanto ao tema da expansão – disse Naledi Pandor, chanceler sul-africana, em uma entrevista à Ubuntu Radio, uma estação do Ministério das Relações Exteriores do país africano. – Nós temos um documento em que concordamos em estabelecer diretrizes e princípios, processos para considerar os países que desejam se unir ao Brics... Isso é muito positivo.
Segundo um interlocutor do governo brasileiro ouvido pelo GLOBO, um desses critérios, que atende aos interesses de Brasil, Índia e África do Sul, foi a concordância da China com a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Os três países são candidatos a uma vaga permanente no organismo, enquanto chineses e russos já têm esse status.
Além da adesão, nas últimas 48 horas, os negociadores de todos os países do bloco também decidiram criar a categoria de “parceiros" do Brics, a ser implementada em futuras incorporações. Atualmente, 23 países estão na lista dos que querem entrar para o grupo criado em 2009 por Brasil, China, Rússia e Índia. A África do Sul foi a última a tornar-se membro pleno, em 2011.
Os parceiros serão países que poderão participar de reuniões, mas não terão direito a voto. Depois de um período experimental, ainda a ser determinado, poderão se tornar membros plenos. O objetivo da nova categoria, explicou uma das fontes, é administrar o fluxo de entrada de novos países ao Brics. A ideia, frisou, não é ter um novo G-77.
Os cinco novos membros que devem ser anunciados nesta quinta contaram com o respaldo de todos os governos que integram atualmente o grupo. O Brasil apoiou especialmente Argentina e Emirados Árabes Unidos.
No caso da Argentina, que há bastante tempo expressou seu desejo de entrar para o Brics, as razões são evidentes: o presidente Lula tem uma forte vinculação com o governo do presidente Alberto Fernández e tem feito tudo o que está ao seu alcance para ajudar o país, que atravessa uma situação econômica e social delicada. A entrada da Argentina acontecerá em plena campanha eleitoral e com o candidato da extrema direita, Javier Milei, como favorito para as presidenciais de 22 de outubro.
No caso dos Emirados Árabes Unidos, altas autoridades do país se comunicaram com o presidente Lula para pedir o respaldo do Brasil, e o governo brasileiro decidiu apoiar o país. Os Emirados Árabes Unidos, juntamente com Egito e Bangladesh, integram o Banco dos Brics, mas não, ainda, o grupo.
— Já ultrapassamos o G7 [grupo das sete nações mais ricas do mundo: Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido], respondemos por 32% do PIB mundial em paridade de poder de compra [PPP, que leva em conta o poder de cada moeda localmente, não apenas a cotação financeira] — disse o presidente Lula, na última terça-feira.
Lula também defendeu publicamente a entrada da Argentina, mas não se referiu a outros países.
— Essa reunião deixa muito claro isso. Todo esse interesse que existe de expansão, de países que desejam ser parceiros ou membros plenos do Brics, demonstra que o grupo é uma nova força no mundo, que o mundo não pode mais ser visto como ditado pelo G7 — disse o assessor especial para a Presidência da República, embaixador Celso Amorim, também na terça.
A lista de países que querem pertencer ao grupo inclui, entre outros, a Venezuela de Nicolás Maduro. Mas, segundo uma das fontes consultadas, a possível entrada da Venezuela ao Brics, solicitada há pouco tempo pelo governo venezuelano, não esteve na pauta de conversas da cúpula. Ou seja, ainda não foi considerada.