Brasil

Bremmer, da Eurasia, vê Bolsonaro como parte de tendência internacional

Presidente do Eurasia Group, principal consultoria de risco político do mundo, também vê exagero na capa da The Economist

Bremmer, da Eurasia: "O Congresso vai resistir a grandes mudanças" (Richard Jopson/Divulgação)

Bremmer, da Eurasia: "O Congresso vai resistir a grandes mudanças" (Richard Jopson/Divulgação)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 9 de outubro de 2018 às 13h17.

Última atualização em 9 de outubro de 2018 às 13h48.

São Paulo - Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco político Eurasia, acredita que a votação expressiva de Jair Bolsonaro é parte de uma tendência internacional anti-establishment:

"As pessoas estão frustradas e bravas, e os candidatos que elas estão elegendo estão começando a refletir isso", escreve para EXAME.

Bremmer acredita que mesmo com vitória fácil no segundo turno, Bolsonaro terá dificuldades com o o Congresso Nacional, e que por isso as reformas econômicas serão fracas.

No entanto, não vê risco à democracia e avaliou a capa da The Economist que pintou o candidato como ameaça de "exagerada".

Veja a entrevista concedida por e-mail para EXAME:

Você vê alguma possibilidade de virada no segundo turno?

Ian Bremmer - Uma virada significativa é muito improvável; votos de primeiro turno são bem indicativos do resultado final.

Ambos os candidatos tem rejeições altas, mas é muito mais fácil para o Bolsonaro chegar na faixa dos 50% partindo de 46% do que para Haddad conseguir os mais de 20 pontos percentuais para sair na frente.

Quais serão as estratégias dos candidatos?

Se há uma mensagem clara deste primeiro turno, é que o sentimento anti-establishment no Brasil está extremamente forte.

O Bolsonaro vai capitalizar isso, assim como a questão de corrupção e segurança de forma geral. Enquanto isso, o Haddad vai focar na política econômica e na classe trabalhadora. Deve ser uma vitória fácil para Bolsonaro.

O que esperar de um eventual governo Bolsonaro considerando o Congresso que foi eleito?

Devemos esperar grandes desafios para que políticas substanciais passem pelo Congresso. O PSL, partido de Bolsonaro, foi melhor do que o esperado, mas no final do dia também terá que trabalhar com o establishment.

Isso não vai ser fácil, porque seu partido tem pouca experiência de governo e porque ele passou uma campanha inteira enquadrando a classe política tradicional como a oposição.

Quais ficam as perspectivas para as reformas econômicas?

Como uma consequência de tudo isso, bem limitadas. Alguma versão de reforma da Previdência e fiscal provavelmente passará, mas a pergunta não é se ela será aprovada, e sim o quão forte ela será. O Congresso vai resistir a grandes mudanças.

Reformas micreconômicas e regulatórias provavelmente avançarão porque são menos controversas e porque os membros centristas do Congresso são bem pró-negócios.

Você vê Bolsonaro como parte de uma tendência internacional?

Com certeza sim. Ele é parte de uma onda de políticos em ascensão que estamos vendo ao redor do mundo (exceto no Japão) e cada vez mais nos países emergentes.

As pessoas estão frustradas e bravas, e os candidatos que elas estão elegendo estão começando a refletir isso.

Que paralelos você vê com outros países especificamente?

Aumento da desigualdade, mídias sociais e uma expansão da polarização estão entre as causas.

Menos um problema com o livre comércio e fronteiras abertas, como nos Estados Unidos e na Europa, até porque no Brasil (e ao redor da América Latina) as pessoas em geral se beneficiariam do comércio.

Você vê um risco para a democracia brasileira, considerando o apoio de Bolsonaro à tortura e seus ataques a minorias, por exemplo?

Não, e acho que a capa da Economist foi exagerada. Bolsonaro disse algumas coisas que certamente sugerem pouco interesse em direitos humanos e instituições democráticas, mas é forte a legitimidade destas instituições, tanto entre os partidos políticos quanto no Judiciário.

Acompanhe tudo sobre:DemocraciaEleições 2018Jair Bolsonaro

Mais de Brasil

Dino determina que cemitérios cobrem valores anteriores à privatização

STF forma maioria para permitir símbolos religiosos em prédios públicos

Governadores do Sul e do Sudeste criticam PEC da Segurança Pública proposta por governo Lula

Leilão de concessão da Nova Raposo recebe quatro propostas