Brasil

Brasília em Off: O temor do governo sobre a Eletrobras

Pressão de parlamentares pela instalação de termelétricas como condição para a privatização da estatal tem preocupado a equipe econômica

O texto da privatização da Eletrobrás foi aprovado na Câmara com a exigência de contratação prévia de 6.000 megawatts de térmicas a gás nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste (Adriano Machado/Reuters)

O texto da privatização da Eletrobrás foi aprovado na Câmara com a exigência de contratação prévia de 6.000 megawatts de térmicas a gás nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste (Adriano Machado/Reuters)

B

Bloomberg

Publicado em 11 de junho de 2021 às 18h06.

A pressão de parlamentares para instalar termelétricas em estados específicos é o que mais preocupa a equipe econômica na tramitação da MP da Eletrobras no Senado. O texto foi aprovado na Câmara com a exigência de contratação prévia de 6.000 megawatts de térmicas a gás nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. No entanto, há uma movimentação de senadores para direcionar essas obras para suas bases. Nesse grupo estaria o ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre, do Amapá. A queda de braço poderia atrasar a votação, que precisa ocorrer até o dia 22 de junho, quando a MP perde a validade.

Na Câmara, os deputados chegaram a propor que as térmicas fossem instaladas em municípios específicos, mas o governo conseguiu negociar a retirada dessa exigência. Ela agora voltou à carga no Senado.

Novo Bolsa Família

A demora do governo em anunciar o novo Bolsa Família ocorre por conta de obstáculos legais que precisam ser eliminados antes de o programa ser criado. É preciso, por exemplo, enviar ao Congresso uma proposta que modifica a lei de enfrentamento à covid-19, de 2020, que impede a criação de despesas obrigatórias de caráter permanente até 31 de dezembro de 2021. Também é preciso retirar amarras previstas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Somente depois disso, é que o Bolsa turbinado pode ser criado.

O governo, no entanto, corre contra o tempo, pois além da pressão política, existe a do próprio calendário. O Projeto de Lei Orçamentária de 2022 precisa ser enviado ao Congresso até o dia 31 de agosto e já deveria trazer uma previsão de recursos a serem destinados ao novo programa social. De acordo com um integrante da equipe econômica, o pior dos mundos seria fazer um Orçamento sem prever essa despesa e depois ter que negociar sua inclusão com os parlamentares. O governo não pode correr o risco de uma crise orçamentária como a de 2021, segundo ele.

Pressão eleitoral

Outra pressão também vem da lei eleitoral. A regra impede o pagamento de benefícios por parte da administração pública, exceto em casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior.

Até que as amarras sejam resolvidas e o novo programa entre em vigor, o governo vai manter o pagamento do auxílio emergencial por dois ou três meses como já disse o ministro da Economia, Paulo Guedes. O governo não quer correr o risco de ter um hiato entre o fim do auxílio e o novo Bolsa Família, o que enfraqueceria o presidente Jair Bolsonaro politicamente.

Ao mesmo tempo, não é razoável deixar que haja uma sobreposição entre o auxílio e o programa, o que daria um sinal negativo ao mercado do ponto de vista fiscal. Para prorrogar o auxílio será editada uma medida provisória para a liberação de um crédito extraordinário fora do teto de gastos.

Montezano

O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, tem dito a interlocutores que pretende encerrar sua missão à frente da instituição no final de 2022. Montezano já teria dado sua contribuição à atividade pública, colocando o BNDES num papel-chave na agenda de privatizações. O banco foi o responsável pela modelagem da venda da Cedae e agora prepara a capitalização da Eletrobras, prevista para ocorrer até fevereiro de 2022. O BNDES também fez uma venda expressiva de ações do BNDESPar, seu braço de participações em empresas como Vale e Petrobras. Já foram vendidos R$ 65 bilhões de uma meta de R$ 90 bilhões até o final de 2022.

Guedes

O ministro da Economia anda animado com o avanço da agenda econômica no Congresso e com a boa fase da relação com o presidente. Em reuniões com agentes do setor privado, Guedes tem dito que até voltou a dormir melhor e que, nos momentos cruciais, Bolsonaro está sempre do seu lado.

Acompanhe tudo sobre:CongressoEletrobrasEnergiaGoverno BolsonaroPrivatização

Mais de Brasil

Justiça nega pedido da prefeitura de SP para multar 99 no caso de mototáxi

Carta aberta de servidores do IBGE acusa gestão Pochmann de viés autoritário, político e midiático

Ministra interina diz que Brasil vai analisar decisões de Trump: 'Ele pode falar o que quiser'

Bastidores: pauta ambiental, esvaziamento da COP30 e tarifaço de Trump preocupam Planalto