Protestos: manifestações anteriores terminaram em confrontos com a polícia (Bruno Kelly/Reuters)
AFP
Publicado em 24 de maio de 2017 às 10h34.
Última atualização em 24 de maio de 2017 às 12h20.
Aos gritos de "Fora, Temer!" e "Diretas já!", a esquerda vai protestar nesta quarta-feira em Brasília para pressionar ainda mais o presidente Michel Temer, encurralado por um escândalo de corrupção.
Os protestos têm sido modestos desde a explosão da crise política há uma semana, quando veio à tona uma gravação feita pelo empregador Joesley Batista, dono da JBS, em que o presidente parece apoiar o pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha preso por corrupção.
Mas nesta quarta-feira os brasileiros têm uma nova oportunidade para mostrar a impopularidade recorde de Temer, agora sob investigação pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A Procuradoria-Geral da República acusa o chefe de Estado de obstrução da justiça para impedir o avanço da operação "Lava Jato" num enredo de corrupção e organização criminosa.
Enquanto as alianças do governo cambaleiam no Congresso, outro objetivo neste dia de protestos é evitar que as reformas de austeridade de Temer avancem.
Apoiadas por economistas e pelos mercados, estas propostas pretendem tirar o país da pior recessão de sua história.
No entanto, a reforma que visa aumentar a idade mínima de aposentadoria em um sistema previdenciário insustentável, é fortemente rejeitada no país.
As manifestações anteriores - incluindo de sindicatos de corporações públicas - terminaram em confrontos com a polícia.
A tensão em Brasília era palpável na terça-feira no Senado, quando uma comissão de assuntos econômicos avaliava um relatório sobre a reforma trabalhista, a outra grande aposta de Temer.
Uma briga iniciada por senadores do Partido dos Trabalhadores (PT) do ex-presidente Lula fez com que a sessão fosse suspensa temporariamente. "Fora Fora! Fora Temer!", gritaram os senadores.
A austeridade alardeada por Temer é controversa, mas a corrupção desenfreada no Brasil deixou em segundo plano esse debate e enfraqueceu ainda mais o presidente.
Temer assumiu o cargo há apenas um ano, após o impeachment de Dilma Rousseff, acusada de manipular as contas públicas.
Sua principal promessa era arrumar a economia depois de uma contração de 7,2% do PIB entre 2015 e 2016.
Temer enfrenta agora uma dúzia de pedidos de impeachment no Congresso e são poucos os analistas que acreditam que ele pode sobreviver por muito tempo.
Enquanto isso, a Polícia Federal (PF) prendeu na terça-feira um assessor presidencial e dois ex-governadores de Brasília supostamente ligados a uma mega-fraude durante a Copa do Mundo de 2014.
Os detidos são acusados de integrar uma rede criminosa que superfaturou em quase 900 milhões de reais um projeto inicialmente estimado em 600 milhões de reais para construir o estádio Mané Garrincha, o mais caro de todos para a Copa.
A polícia prendeu o assessor presidencial Tadeu Filippelli, que foi demitido pelo Palácio do Planalto, e os dois ex-governadores do Distrito Federal, José Arruda e Agnelo Querioz.
Em um episódio a parte, que ressalta o longo alcance da luta contra a corrupção no Brasil, o STF condenou a quase oito anos de prisão o até então intocável Paulo Maluf, deputado de 85 anos aliado de Temer, por lavagem de dinheiro.