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Brasília rebate matéria do New York Times (com força)

Reportagem do jornal norte-americano usou expressões como “escala desumana” e “desbrasileira” para se referir à Brasília. Moradores decidiram responder


	Vista do Estádio Nacional de Brasília: matéria do NYT durante Copa provocou reações
 (Phil Walter / Staff / Getty Images)

Vista do Estádio Nacional de Brasília: matéria do NYT durante Copa provocou reações (Phil Walter / Staff / Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 31 de julho de 2014 às 17h54.

São Paulo – Ficou “entalado” na garganta de vários moradores de Brasília reportagem do The New York Times publicada nesta semana que, em meio à descrição da capital, trazia críticas à cidade na opinião de alguns entrevistados. Um urbanista de San Francisco, que a conheceu na Copa, chega a afirmar se sentir “mal pelas pessoas que vivem aqui e estão tão isoladas umas das outras”, além de dizer que o projeto – ousado – fracassou.

A reportagem, é verdade, não apresentava apenas pontos negativos. Mas o panorama geral era de um lugar em “escala desumana”, que esqueceu os pedestres.

De tão organizada, Brasília foi até chamada de “desbrasileira”, um lugar onde nas ruas não se encontram símbolos brasileiros como samba e futebol, tal como aponta um jornalista sueco, também entrevistado.

No Twitter e Facebook, as respostas vieram em peso. Mas quem catalisou a insatisfação geral foi a brasiliense e analista de redes sociais Carol Soares, de 29 anos.

Seu texto “Não se sinta mal por eu morar em Brasília. Não mesmo” passou de 30 mil visualizações em dois dias, uma marca bem distante do usual de sua página pessoal.

No texto, a publicitária de formação esbraveja que Brasília tem vida, diversidade e, claro, defeitos, como qualquer cidade, mas que seus cidadãos não estão “isolados”.

A distância entre os vários pontos, aliás, pode até virar vantagem.

“Eu moro em uma cidade que, pela dificuldade de locomoção, me estimulou a, desde pequena, conviver tão intensamente com meus amigos a ponto de fazer parte da família. Eram finais de semana e até férias de revezamento entre as casas”, escreve, defendendo que não faltam boas opções musicais e culturais na capital.

Apoio
“(Brasília) É limpa, organizada. Uma cidade que oferece uma qualidade de vida excelente. Sou maranhense, mas abracei Brasília como minha”, escreveu a internauta Rilane Sousa no Facebook.

“Não me sinto isolado em Brasília. Pelo contrário, o fato que você conviver com o concreto, o verde e os grandes espaços, de forma harmoniosa, me tirou a paranoia que qualquer outra grande cidade tradicional provoca no morador. Aqui não me sinto sufocado”, escreveu, também no Facebook, Luiz Guilherme Castro.

Mas houve brasiliense que concordasse, ao menos em parte, com alguns dos tópicos pincelados pelo New York Times.

“Nasci em Brasília e morei lá por 22 anos. Mas hoje percebo mais ou menos isso que o jornalista disse. Não é muito simples em Brasília começar uma conversa com um desconhecido. Muito bem, os amigos da minha rua vão durar, mas quero dizer que não tem uma opção de lazer e interação que de fato misture as pessoas, em que todas as classes sociais estejam ali em contato direto, onde de repente um morador rico do Lago esteja na maior conversa com um morador pobre da Ceilândia, por exemplo”, afirmou Fabricio Pereira dos Santos, em resposta ao texto de Carol Soares.

Ele diz amar a cidade, de qualquer forma.

Ainda no terreno da oposição, outro texto publicado em blog dá uma resposta direta aos desabafos de "Não se sinta mal...", defendendo que ele difunde uma visão romântica da pluralidade e da diversidade da capital.

Chama-se "Pode se sentir mal por eu morar em Brasília. Eu deixo".

A discussão toda, vale lembrar, ocorre apenas no âmbito do Plano Piloto – as asas originais desenhadas por Lúcio Costa – e não se estende ao restante do Distrito Federal, o que levantaria uma série de outras questões.

A repercussão do texto do NYT e das posteriores respostas mostra que, se Brasília é mesmo “ame ou odeie” – como cita um integrante do governo local ao jornal – ao menos não se furta ao debate do uso do espaço e a interação dos moradores com sua região, presente em qualquer centro urbano do mundo hoje.

Uma diferença em relação a outras cidades, porém, é que ela - tombada - não pode mudar e se transformar ao bel-prazer de seus moradores e governantes.

Para o Brasil
No país, por certo, a imagem da capital, sede federal dos três poderes, é bem ruim, e isto longe de qualquer razão urbana: Brasília permanece no imaginário como ligada à corrupção.

Uma leitura, mesmo desatenta, dos comentários nas redes sociais ou mesmo de EXAME.com evidenciam isso.

Mas se a discussão sobre a (falta de) vida nas ruas é subjetiva, neste ponto a resposta dos moradores está sempre na ponta da língua: dos 81 senadores e 513 deputados, Brasília só elege 3 e 8, respectivamente.

O restante de vossas excelências são enviadas para lá pelo restante do país.

Veja abaixo alguns trechos do texto de Carol Soares, que pode ser conferido na íntegra em seu blog:

Eu moro em uma cidade que todo mundo anda dentro de suas caixinhas conhecidas como carros, mas lotamos o maior parque urbano do mundo, todo santo final de semana. Lotamos os clubes também. Lotamos a orla.

Eu moro em uma cidade que tem um metrô horrível e eu nem sei pegar ônibus. Mas tem um monte de gente tentando mudar isso: gente que ajuda a gente a saber qual ônibus pegar, gente que defende a bicicleta como meio de transporte (afinal a cidade é fantástica para isso).

Eu moro em uma cidade que vem lutando para construir uma identidade, afinal somos muito jovens ainda. Que tem uma geração ávida por cultura, lazer e diversão. Que tem gente muito boa fazendo arte e gente lutando para que a arte seja valorizada.

 

Matéria atualizada às 15h30.

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