Brasil

Brasileiros que apoiam o governo são os que mais querem estar na rua

O país está reabrindo, mas nem todos já sentem segurança para sair de casa e consumir, segundo revela pesquisa do Ideia Big Data, realizada para a EXAME

Shoppings: os aliados do presidente estão mais ativos no comércio — dos entrevistados, 21,2% afirmaram que voltaram normalmente a frequentar os espaços (Bruno Rocha/Estadão Conteúdo)

Shoppings: os aliados do presidente estão mais ativos no comércio — dos entrevistados, 21,2% afirmaram que voltaram normalmente a frequentar os espaços (Bruno Rocha/Estadão Conteúdo)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 14 de agosto de 2020 às 13h33.

Última atualização em 14 de agosto de 2020 às 15h43.

O Brasil todo está reabrindo, isso é fato. Mas a retomada das atividades econômicas, mesmo com a curva de contágio pelo novo coronavírus ainda em um patamar elevado, não gerou segurança para toda a população voltar a circular.

Na verdade, os brasileiros que mais querem estar nas ruas são os que mais aprovam o governo de Jair Bolsonaro, segundo revela uma pesquisa de opinião inédita do Ideia Big Data, realizada por telefone entre 10 e 13 de agosto, com 1.200 pessoas, a pedido da EXAME.

A predominância da resposta "voltou a frequentar normalmente desde a reabertura" em apoiadores do presidente foi identificada em todas as perguntas feitas, desde o retorno às aulas até a reabertura de shoppings, comércios, igrejas, bares e restaurantes.

De acordo com o levantamento, o percentual de pessoas que aprovam o governo e também concordam com a volta das aulas nas escolas é de 34,9%, ante 13,8% da parcela que nem aprova nem desaprova e 13,6% dos que desaprovam. O mesmo se repete em relação a quem considera que, se as escolas fossem reabertas, a maioria dos alunos voltaria a frequentar.

Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro se colocou como uma voz contrária às medidas de isolamento social, consideradas por cientistas de todo o mundo como a política mais eficaz para frear a transmissão da covid-19. Hoje, o país é um dos epicentros da transmissão do vírus, com mais de 3 milhões de casos e 105.000 mortos.

Em relação ao retorno às igrejas e templos, a maioria daqueles que aprovam o governo federal (16,2%) já está frequentando cultos e missas normalmente, ante 2,8% daqueles que não aprovam e nem desaprovam, e 2,7% dos que desaprovam.

Shoppings e comércios, os aliados do presidente também estão bem mais ativos: dos entrevistados, 21,2% afirmaram que voltaram normalmente a frequentar os espaços, ante 7,8% dos neutros e 3,5%, dos opositores.

No caso, de bares e restaurantes, 16,7% daqueles que aprovam o presidente afirmaram que estão indo, ante 8,7% dos que não aprovam nem desaprovam, e 2,5% dos que desaprovam.

"Os dados não deixam dúvidas: quem apoia o governo está circulando mais", diz Maurício Moura, fundador do Ideia Big Data e pesquisador da George Washington University na área de políticas públicas.

A amostra da pesquisa foi equilibrada para garantir representatividade de faixa etária, gênero, escolaridade, classe social e regiões do país. A margem de erro é de 2,8 pontos percentuais para mais ou para menos.

Mais igreja menos consumo

Excluindo recortes específicos dos entrevistados, como sua simpatiza pelo governo, a pesquisa também colheu informações da população em geral para descobrir qual o status do retorno das atividades de igrejas, comércios, shoppings, bares e restaurantes.

Em resumo, a conclusão é a de que a parcela dos brasileiros que ainda vão esperar mais para começar a frequentar os estabelecimentos é maior quando se trata de bares e restaurantes e menor quando se trata de igrejas e templos.

Nessa questão, 66,3% dos entrevistados disseram que ainda não estão prontos para voltar a sair para comer e beber, ante 56,3% que vão esperar um pouco mais para ir a shoppings ou comércio e 55,3% que não estão indo à igreja.

"Igrejas e templos são o que têm o menor índice de que vão 'esperar mais um tempo para frequentar'. É por isso que a economia está tão fragilizada, não há consumo, mas há reza", afirma Moura.

O levantamento revela também que 75,3% dos brasileiros discordam do retorno às atividades escolares. E, caso haja volta às aulas, 54,1% consideram que poucos alunos voltariam. Só 4,7% acreditam que "a quase totalidade dos estudantes retornaria" e 17,5% crêem que "a maioria voltaria".

Uma conclusão relevante em relação às escolas, segundo Moura, é a de que a maioria esmagadora (63%) considera que é responsabilidade dos pais e não do gestor público decidir se uma criança volta para a escola ou não.

"Isso é reflexo tanto da descrença da população com os gestores públicos quanto do entendimento de que os pais sabem o que é melhor para seus filhos."

Acompanhe tudo sobre:ComércioCoronavírusEvangélicosGoverno BolsonaroJair BolsonaroShopping centers

Mais de Brasil

Acidente com ônibus escolar deixa 23 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP