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Brasil vota contra resolução que condena embargo a Cuba na ONU

Apenas Brasil, Estados Unidos e Israel votaram contra a resolução

Cuba: Brasil mudou o posicionamento adotado desde 1992 (Lost Horizon Images/Getty Images)

Cuba: Brasil mudou o posicionamento adotado desde 1992 (Lost Horizon Images/Getty Images)

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AFP

Publicado em 7 de novembro de 2019 às 14h59.

Última atualização em 7 de novembro de 2019 às 16h45.

A Assembleia-Geral da ONU condenou nesta quinta-feira (7) pelo 28º ano consecutivo o embargo dos Estados Unidos imposto a Cuba há quase 60 anos, por 187 votos a três. Opuseram-se à condenação Estados Unidos, Israel e, pela primeira vez, o Brasil.

O embargo americano, imposto há 57 anos e intensificado em várias oportunidades, não conseguiu derrubar o governo do Partido Comunista cubano.

Mas o presidente Donald Trump, que busca uma mudança de regime tanto em Cuba quanto na Venezuela e que considera Havana responsável pela sobrevivência do governo de Nicolás Maduro na Venezuela, inclusive aumentou as sanções contra a ilha no âmbito de sua luta contra a "Cubazuela", termo cunhado por seu chefe diplomático para a América Latina.

Após dois dias de discussões em que dezenas de países condenaram o embargo por considerá-lo "anacrônico" e "desumano", o Brasil rompeu com a tradição de exigir o fim do embargo no comando do presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump e feroz opositor do socialismo.

Apenas dois países se abstiveram de votar na ONU: Ucrânia e pela primeira vez a Colômbia, cujo presidente de direita Iván Duque é outro grande aliado de Washington.

O governo cubano assegura que desde que o presidente americano, John F. Kennedy, impôs o embargo à ilha, em fevereiro de 1962, menos de um ano depois de Fidel Castro ter declarado o caráter socialista da Revolução cubana, este provocou prejuízos ao país de mais de 138 bilhões de dólares no câmbio atual.

Escalada da agressão

Estados Unidos "não escondem seu propósito de asfixiar economicamente Cuba e aumentar os danos, carências e sofrimentos ao nosso povo", afirmou na Assembleia o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, que denunciou "uma escalada na agressão contra Cuba" de parte de Trump.

"É tempo de deter a demência imperialista", disse por sua vez o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, que viajou a Nova York para assistir ao debate.

A política americana com relação a Cuba "fracassou, como o golpe contra Maduro fracassou", disse Arreaza. Mas a "América Latina e o Caribe não são, nem nunca serão os quintais de nenhum império".

Há um ano, a resolução que pedia o fim do embargo a Cuba foi apoiada na ONU por 189 países e rechaçada apenas por Estados Unidos e Israel, assim como em 2017. Ucrânia e Moldávia se abstiveram.

Apenas uma vez, em 2016, Washington se absteve de votar contra a resolução que condena o embargo em um contexto de aproximação do governo de Barack Obama para a ilha, que incluiu a reabertura de embaixadas nas duas capitais em 2015.

- Abusos "contra sua própria gente" -

Mas Trump voltou atrás nessa política e continua aumentando a pressão contra a ilha com novas sanções que provocaram uma crise de energia e combustíveis e que busca reduzir à metade o turismo a Cuba, visitada no ano passado por 600 mil americanos.

Os Estados Unidos asseguram que o embargo é necessário para punir um governo que viola os direitos humanos de seu próprio povo e onde mais de 50.000 ativistas, jornalistas e outros foram presos arbitrariamente desde 2010, segundo a embaixadora na ONU, Kelly Kraft.

"Os Estados Unidos não são responsáveis pelos intermináveis abusos do regime contra a sua própria gente; não aceitamos responsabilidade por isso", disse na Assembleia a embaixadora americana na ONU, Kelly Kraft, reivindicando o direito de seu país a negociar com quem quiser.

Além disso, sustentou, "Cuba é um contribuinte ativo à instabilidade regional" e "colabora com o antigo regime de (Nicolás) Maduro, perpetuando uma crise humanitária e econômica que se estende para além das fronteiras da Venezuela", destacou.

O embargo fracassou e a política americana com relação a Cuba é um modelo de "diplomacia desgastada" que está castigando os novos pequenos empresários cubanos, disse à AFP Christopher Sabatini, pesquisador do centro de análises Chatham House para a América Latina e professor da Universidade de Columbia.

"As transições democráticas da União Soviética e no leste europeu não ocorreram quando estes países estavam sob embargo", lembrou. Em sua avaliação, as sanções "estão levando os cubanos mais para os braços dos russos e do que resta do apoio do petróleo venezuelano; sendo assim, está tendo o efeito contrário" ao desejado.

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