Multidão: até o fim do ano, teremos consumido 1,7 planeta Terra. (Salvator Barki/Getty Images)
João Pedro Caleiro
Publicado em 15 de julho de 2020 às 15h07.
Última atualização em 23 de julho de 2020 às 14h35.
A população brasileira atingirá seu pico no ano de 2043, de acordo com um estudo da escola de medicina da Universidade de Washington publicado nesta terça-feira, 14, pela The Lancet, uma das revistas científicas mais prestigiadas do mundo.
O país, que registrou 211 milhões de habitantes em 2017, chegaria aos 235 milhões em 2043 para então passar a cair e chegar aos 164 milhões no cenário-base de 2100. Isso faria com o que o Brasil, hoje o 6º país mais populoso do mundo, caísse para o 13º lugar.
As projeções foram feitas para 195 países com base em fatores como fertilidade, mortalidade e imigração e divergem em larga escala das projeções da Organização das Nações Unidas (ONU).
O desafio é calcular a velocidade em que ocorre a transição demográfica, fenômeno pelo qual sociedades com alta mortalidade e fertilidade passam a ter baixa mortalidade e fertilidade.
Isso acontece na esteira de melhoras de saúde e maior inclusão educacional e laboral das mulheres, assim como acesso a contraceptivos. Combinados, os fatores tendem a adiar o momento do casamento e dos filhos.
O Brasil é um exemplo de transição demográfica acelerada: de uma média de seis filhos por mulher, nos anos 1960, foi para uma taxa hoje próxima de 1,7.
A taxa de manutenção da população é, grosso modo, de dois filhos por mulher; abaixo disso, a população tende a cair, caso não seja compensada por imigrantes.
Isso tem efeitos fortes sobre a economia. A previsão do estudo é que o Brasil se manteria com o 8º maior PIB até 2050, para depois ser ultrapassado por Austrália, Nigéria, Canadá, Turquia e Indonésia, ficando na 13ª posição no ranking em 2100.
A previsão do estudo é que a população global de 7,6 bilhões registrada em 2017 subiria até um pico de 9,73 bilhões em 2064 para depois cair a 8,7 bilhões em 2100 no cenário de referência. É 2 bilhões de pessoas a menos do que prevê a ONU.
Pelos mesmos cálculos, 23 países incluindo Tailândia e Espanha, têm previsão de quedas de população maiores do que 50% no período. Já outros como Japão, Grécia, Itália e Portugal deixaram seu pico populacional para trás e já estão em queda.
A China, hoje o país mais populoso do mundo com quase 1,4 bilhão de habitantes, atingiria o pico de população em breve, daqui quatro anos, para depois perder 48% da população até 2100. Já a Índia, segundo país mais populoso do mundo, cresceria até o ponto de 1,6 bilhão de habitantes em 2048.
Alguns países com taxas de fertilidade abaixo daquela necessária para reposição, segundo o estudo, vão compensar as perdas por meio de uma maior imigração líquida. É o caso de Estados Unidos, Austrália e Canadá.
E há países que seguem crescendo em população de forma orgânica até pelo menos 2100, como muitos da Ásia Central e da África subsaariana.
Isso criaria novas potências populacionais como a Nigéria, que iria de 206 milhões de habitantes hoje para 790 milhões daqui 80 anos, além de República Democrática do Congo, Etiópia, Egito e Tanzânia, que também entrariam para o top 10 das maiores populações mundiais até 2100.
A pirâmide etária do planeta também deve mudar radicalmente: a projeção é que o número de crianças abaixo dos 5 anos cairia de 681 milhões em 2017 para 401 milhões em 2100, enquanto o número de idosos acima dos 80 anos iria de 141 milhões em 2017 para 866 milhões em 2100.
O menor crescimento populacional tem um lado positivo: coloca menos pressão sobre recursos naturais, e portanto sobre o aquecimento global, e reduz a necessidade de terras para produção de alimentos.
O lado negativo é que o menor crescimento populacional deve se traduzir em um crescimento econômico mais lento, pois os mais velhos tendem a produzir menos inovação e consumir menos bens duráveis do que os mais jovens.
Além disso, o envelhecimento gera uma pressão crescente sobre os sistemas de proteção social e Previdência, construídos e sustentados na atual estruturas etária e de mercados de trabalho.
O estudo cita o risco de que, diantes desse desafio, alguns países considerem adotar políticas que restrinjam o acesso das mulheres a seus direitos reprodutivos, e que há outros caminhos.
Eles passam por dar apoio econômico e social para que as mulheres possam ter filhos sem que isso implique perdas para sua carreira, assim como incluir produtivamente todas as faixas etárias.
O incentivo à imigração para países atrativos também pode ser uma saída e é defendido pela imensa maioria dos economistas, mas também enfrenta resistência política.