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Brasil pode chegar a 200 mil mortes por covid em outubro, diz especialista

Em entrevista, especialista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP critica as autoridades pelo "sacrifício da população"

Coronavírus: especialista atribui número de mortes ao "negacionismo" do governo sobre a pandemia (Pedro Vilela/Getty Images)

Coronavírus: especialista atribui número de mortes ao "negacionismo" do governo sobre a pandemia (Pedro Vilela/Getty Images)

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AFP

Publicado em 6 de agosto de 2020 às 13h32.

Última atualização em 6 de agosto de 2020 às 13h45.

O Brasil se aproxima dos 100.000 mortos pelo novo coronavírus e, caso se mantenha no ritmo atual, esse balanço terá duplicado em meados de outubro, segundo projeção de Domingos Alves, especialista em estatísticas relacionadas com a pandemia.Em entrevista à AFP, o coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP critica duramente as autoridades pelo "sacrifício da população". E atribui a catástrofe ao "negacionismo" do governo de Jair Bolsonaro sobre a pandemia, à falta de medidas estritas para reduzir o número de contágios e à suspensão precipitada do confinamento.

Nesse ritmo, quando se estima que o país chegará aos 200.000 mortos pela COVID-19?

Devemos chegar a esse número entre os dias 15 e 16 de outubro, se as tendências não mudarem. Eu tinha previsto originalmente que a gente iria chegar entre 9 e 10 de agosto aos 100.000, mas deve acontecer entre (os dias) 7 ou 8.

Ou seja, já pode adiantar a predição dos 200.000 óbitos para a primeira quinzena de outubro.

Na minha opinião, as curvas (de casos e mortes) vão acelerar nas próximas semanas (...) Vejo que essa epidemia vai ficar desse jeito até dezembro, até que tenhamos uma vacina.

O que pensa sobre a evolução da pandemia no Brasil?

Com o passar do tempo, a contaminação aumenta no interior dos estados que começaram a reduzir (o número de casos) nas capitais; (em) regiões que antes não estavam na pandemia, como a região Centro-Oeste, a região Sul e Minas Gerais.

Quanto ao número subestimado de casos, quando começamos a modelar tínhamos uma subnotificação de 16 vezes. Hoje, está em torno de 6 a 7 vezes.

O motivo disso não é porque conseguimos controlar qualquer coisa, na verdade porque aumentou o número de testes.

Ainda somos um dos países que menos testa no mundo.

Como o país chegou a uma situação tão dramática?

Do ponto de vista federal, houve uma negação histórica da pandemia. O governo federal ainda acredita que é uma "gripezinha" e não existe uma política nacional integrada de combate à COVID-19.

O Brasil nunca poderia ter adotado medidas de relaxamento com esse crescente número de casos. Isso é consequência desse negacionismo, agora com o apoio dos governadores. A partir de 1º de junho, temos 26 governadores e mais de 5.000 prefeitos preocupados com as eleições municipais (previstas para novembro).

Continuamos tendo recordes diários de casos e óbitos, ao mesmo tempo em que (as autoridades) tentam mostrar para a população de maneira sistemática que a ideia é aumentar o número de leitos.

Estão tomando todas as medidas possíveis para promover a reabertura de certos setores da economia. Todo esse plano é um plano de sacrifício da população em torno de uma pseudo recuperação economia, para satisfazer quem deve financiar as campanhas dos prefeitos do país.

O Brasil rejeitou sistematicamente, tanto por parte do governo federal e agora mais recentemente por parte dos governos estaduais, a adoção das medidas que foram sugeridas pela OMS e que funcionaram em vários países europeus.

A ciência foi para o espaço há muito tempo nesse país.

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