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Brasil pode encerrar 2020 com menos de 100 mortes diárias por covid-19

Apesar da queda no número de mortes, os casos devem seguir em alta e até surgir uma segunda onda, apontam especialistas ouvidos por EXAME

Hospital de Campanha Municipal (Ingrid Anne/Fotos Públicas)

Hospital de Campanha Municipal (Ingrid Anne/Fotos Públicas)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 29 de outubro de 2020 às 15h29.

Desde o fim de agosto, a média diária de mortes por covid-19 vem caindo no Brasil. Mesmo que seja de forma tímida, o país saiu do chamado platô, quando houve uma estabilidade de cerca de 1.000 novas vítimas diárias - cenário que perdurou por três meses. Este valor agora está em 461, segundo dados do Ministério da Saúde.

Apesar de ser difícil definir uma data, seguindo a tendência de queda no número de mortes, com um olhar estatístico e também sanitário, é possível que entre o fim de dezembro de 2020 e o começo de janeiro de 2021 a média diária de mortes fique abaixo de 100 no Brasil.

Especialistas ouvidos por EXAME acham difícil cravar uma data exata, levando em conta dois principais fatores: a pandemia se comportou de maneira diferente no Brasil, em relação a outros países, e o segundo ponto é que há ainda a possibilidade de uma segunda onda de casos, e de mortes, como ocorreu na Europa, levando a um novo lockdown.

“É difícil este tipo de projeção. A gente saiu de um platô e começou a cair de maneira significativa. Quando a gente fechou agosto, a média móvel foi 15% mais baixa que julho. Depois foi 20% mais baixa que o mês anterior. Parece que está acelerando a queda. Eu acho plausível que possa fechar o ano com uma média móvel em torno de 100, mantendo a caída atual”, avalia o médico, professor e coordenador do Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica da PUCPR, José Rocha Faria.

A média diária de óbitos é calculada levando em conta a semana epidemiológica, que começa sempre em um sábado e vai até domingo. Estamos na semana 44, que começou no dia 25 de outubro. Os número se referem até a semana 43, que terminou no dia 24 de outubro. Segundo os especialistas, esta é a melhor maneira de avaliar tendências de alta e queda da pandemia, sem tantas interferências repentinas de apenas um dia.

 

Mortes diminuem e casos aumentam

Por ser uma doença nova, os pesquisadores e cientistas avaliam constantemente o comportamento e a maneira como ela se espalha. O clima frio, por exemplo, é um fator que costuma agravar o contágio de doenças respiratórias. No caso da covid-19 isso não parece ser tão preponderante.

Outro fato que chama a atenção dos especialistas é que o número de mortes está caindo mas o de casos não. De acordo com dados do Ministério da Saúde, na semana epidemiológica 42 foram 141.725 novas infecções, e na semana 43 teve um aumento e ficou em 156.273.

Nesta quinta-feira, 29, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, justificou o aumento como uma atualização de infecções de outras semanas que estavam sem uma causa determina. Segundo ele, os casos foram esclarecidos e incluídos na base de dados.

Na segunda onda da Europa, os casos aumentaram significativamente depois da reabertura, mas os óbitos não acompanharam no mesmo ritmo da primeira onda.

“Há várias hipóteses para esta diferença entre casos e mortes. Há mais transmissão entre jovens, que evoluem mais raramente a óbito, aperfeiçoamento do atendimento hospitalar que levou à queda da letalidade dos casos internados, e até especula-se cepas menos virulentas do Sars-CoV-2”, explica o pesquisador do Observatório COVID-19 BR e da USP, Paulo Inácio Prado.

Mesmo que no Brasil a doença tenha se comportado de uma maneira diferente, e que nenhum governo tenha imposto um lockdown de fato, os especialistas não descartam uma segunda onda, tanto de casos quanto de mortes, fazendo com que a média não caia tanto ou até mesmo volte a subir.

“Impossível saber isso agora. A média brasileira é a combinação de várias epidemias locais, de comportamento ainda incerto. O aumento de casos sem um aumento tão grande de mortes na Europa ainda não é totalmente entendido”, avalia Paulo Inácio Prado.

O médico e pesquisador da PUCPR também acredita que pode haver uma segunda onda no Brasil. “Não temos razão para achar que aqui será diferente. A vacina pode chegar junto com uma segunda onda, no fim do primeiro trimestre”, diz José Rocha Faria.

Vacina

Há duas vacinas com as pesquisas mais adiantadas: a desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca, em parceria com a universidade de Oxford, e a do laboratório chinês Sinovac, feita em parceria com o Instituto Butantan.

As projeções mais otimistas falavam que a vacina poderia estar disponível para ser aplicada já em dezembro de 2020, mas com atraso na fase de testes, é mais provável que as duas cheguem juntas no primeiro trimestre de 2021.

 

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