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Brasil lidera registro diário de mortes por coronavírus no mundo

Pelo segundo dia consecutivo, Brasil supera os Estados Unidos no número diário de mortes por coronavírus

Coronavírus: no total, 24.512 mortes foram confirmadas no Brasil desde o início da pandemia (Bruno Kelly/Reuters)

Coronavírus: no total, 24.512 mortes foram confirmadas no Brasil desde o início da pandemia (Bruno Kelly/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de maio de 2020 às 07h54.

Última atualização em 27 de maio de 2020 às 17h10.

Com 1.039 novas mortes pelo coronavírus registradas nesta terça-feira, 26, o Brasil se consolidou como o país com o maior número diário de óbitos no mundo, superando os Estados Unidos, que ocupavam até domingo essa posição. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil já acumula 24.512 mortes desde o início da pandemia e chegou à marca de 391.000 infecções - 16.324 em um dia.

O Brasil já é o segundo colocado em todo o mundo em relação ao número acumulado de infecções - atrás apenas dos Estados Unidos, que registraram, nos últimos dias, números inferiores na comparação com o início do mês. Até ontem, havia 1,6 milhão de casos nos EUA, com 98.200 mortes, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Foram 592 novos óbitos nos EUA em 24 horas. Enquanto os números começam a diminuir por lá, por aqui a expectativa é de alta.

O aumento em dados diários de óbitos no Brasil ocorre em um contexto no qual a América do Sul é considerada o novo epicentro da pandemia. Países europeus, como Itália e França, têm apresentado queda nos registros. O fracasso na adoção do isolamento social, o déficit de testagem e a posição negacionista de parte dos líderes políticos são apontados por especialistas como fatores que levam ao agravamento do quadro no país.

Na opinião de Mario Scheffer, professor na Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo (USP), o país atingiu esse patamar por causa do fracasso no distanciamento social e da falta de testes para identificar os infectados. "Não foi estruturada uma rede de testagem para detectar e isolar os sintomáticos, persistindo a infecção intra e extradomiciliar", diz. "Três meses depois de decretada a emergência nacional, ainda é improvisada e insuficiente a rede de terapia intensiva e de suporte a casos graves."

O virologista Rômulo Neris, mestre em microbiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atuou na Universidade da Califórnia como pesquisador visitante até a semana passada. Mas decidiu retornar ao Brasil para trabalhar na força-tarefa contra a covid-19. O especialista afirma que os dois países mostraram trajetórias similares no início do enfrentamento à pandemia, mas depois se distanciaram.

"No início da pandemia, os dois países tinham déficit na capacidade de exames, mas os EUA conseguiram aumentá-la. Eles adquiriram respiradores e máscaras, em alguns casos de maneira até questionável. Mas se preocuparam em acumular recursos para enfrentar a pandemia. O Brasil continua com déficit na capacidade de exames a ponto de não conseguir fazer previsões sobre o surto", opina.

O epidemiologista Paulo Lotufo também vê similaridades entre os EUA e o Brasil nas dificuldades de enfrentamento. "Brasil, Estados Unidos e outros países que tomaram atitudes baseadas no desejo político dos governantes, minimizando os efeitos da pandemia, estão se dando mal", opina. "O negacionismo dos presidentes [Donald Trump e Jair Bolsonaro] e a demora em adotar a quarentena são algumas semelhanças entre os países. Lá pesou um sistema privado fragmentado e aqui, um SUS sucateado", analisa Scheffer.

Depois que os EUA se transformaram no epicentro mundial do vírus, Trump mudou a atitude, negociou com o Congresso um pacote financeiro para resgatar a economia e estendeu as restrições. No Brasil, Bolsonaro critica a quarentena.

A maneira como a doença se expandiu foi semelhante nos dois territórios, segundo Márcio Bittencourt, mestre em saúde pública e médico do Hospital Universitário da USP. "No Brasil, tivemos surtos separados e independentes acontecendo paralelamente", afirma. "Nos EUA, houve um surto em Seattle, quase um mês antes de Nova York. Depois em New Orleans e Chicago."

Isolamento

Agora o desafio brasileiro é desacelerar o avanço da doença, segundo Neris. "Na falta de vacina, a maior parte das alternativas para tentar controlar a dispersão do vírus está relacionada ao isolamento. O lockdown não pode ser usado para remediar. Tem de ser preventivo, e a ideia é que seja imediato.

A Califórnia estabeleceu lockdown logo no início e não confirmou a previsão de que seria um dos centros da epidemia." Lotufo também defende o lockdown e recomenda o isolamento radical com duração de pelo menos 15 dias em São Paulo e no Rio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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