Madeira: (foto/Thinkstock)
AFP
Publicado em 21 de novembro de 2017 às 19h21.
A madeira amazônica ameaçada e vendida por um exportador brasileiro, que estaria por trás do massacre de nove agricultores este ano, está sendo comercializada livremente em todo o mundo - alertou o Greenpeace nesta terça-feira (21).
A ONG disse que a compra de produtos manchados por homicídios por importadores de países tão distantes quanto Japão e Estados Unidos ilustra a falta de controle sobre uma indústria madeireira que está devastando a maior floresta tropical do mundo.
Em seu relatório, "Madeira manchada de sangue - Violência no campo e roubo de madeira da Amazônia", o Greenpeace catalogou os envios contínuos e em larga escala da Madeireira Cedroarana nos meses que se seguiram ao "massacre de Colniza", como ficou conhecido o caso, de 19 de abril.
A polícia acusou o dono da empresa, Valdelir João de Souza, de enviar um grupo de extermínio conhecido como "Os Encapuzados" para atacar agricultores pobres no caminho da exploração madeireira em uma área rica em espécies de alto valor no Mato Grosso.
As vítimas foram torturadas, depois mortas a tiros, ou esfaqueadas, e algumas delas foram encontradas com as mãos amarradas nas costas. De Souza foi acusado, mas está foragido.
Apesar do escândalo envolvendo De Souza, "suas madeireiras continuam funcionando a pleno vapor, como o Greenpeace pôde constatar durante uma viagem de campo, em julho de 2017", apontou o relatório.
O Greenpeace disse que empresas nos Estados Unidos, na Holanda e na França foram as maiores importadoras de madeira Cedroarana no ano passado. Os clientes também estavam localizados na Bélgica, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Itália e Japão, segundo o relatório, citando dados comerciais.
"No dia em que ocorreu a chacina em Colniza, a Madeireira Cedroarana embarcou cargas de madeira para os Estados Unidos (...) e para a Europa", de acordo com o Greenpeace.
As regiões remotas, onde poderosos fazendeiros e madeireiros são acusados por ambientalistas de desmatamento maciço, estão entre as mais perigosas do país.
Essa violência brutal "faz parte do cotidiano de muitas comunidades rurais Brasil adentro, especialmente na Amazônia, onde conflitos violentos pela ocupação de terra são frequentes, impulsionados por madeireiras clandestinas e grileiros de terra que desmatam a floresta ilegalmente para cultivo, ou atividade pecuária", acrescentou o relatório do Greenpeace.
O relatório disse que a história do massacre de Mato Grosso e a aparente impunidade para a empresa do suposto autor intelectual refletem uma brutalidade e uma ilegalidade muito mais amplas na indústria madeireira amazônica.
Muitas "mortes anunciadas" poderiam "ter sido evitadas, se a exploração ilegal de madeira na Amazônia tivesse sido devidamente enfrentada e combatida pelo Estado brasileiro", completou o Greenpeace.
O relatório ressalta, porém, que as empresas estrangeiras têm uma responsabilidade igual, apontando que as aparentemente rígidas legislações da União Europeia e dos Estados Unidos contra as importações ilegais de madeira não são aplicadas de forma correta.