(Sanja Gjenero / SXC)
Bárbara Ferreira Santos
Publicado em 6 de dezembro de 2016 às 08h00.
Última atualização em 6 de dezembro de 2016 às 11h37.
São Paulo — O Brasil está entre os oito piores países no ranking do PISA de aprendizado de jovens na área de ciências, atrás de países como Trinidad e Tobago, Costa Rica, Qatar, Colômbia e Indonésia. O país ficou na 63ª posição entre as 70 nações avaliadas nessa disciplina em 2015.
A prova é feita em países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e nações convidadas, entre elas o Brasil. Neste ano ciências foi o enfoque, mas também foram avaliados os aprendizados em matemática e português. O país teve baixo desempenho em todas as disciplinas.
Fazem a avaliação estudantes entre 15 anos e 3 meses (completos) e 16 anos e 2 meses (completos) no início do período de aplicação, que estejam matriculados em instituições educacionais localizadas no país participante e que estejam cursando no mínimo a 7ª série/ano.
No Brasil, o PISA foi feito em 2015 com 23.141 estudantes, de 841 escolas das 27 unidades federativas do Brasil.
Mais preocupante é o nível de aprendizado médio dos estudantes nessa disciplina. Entre os avaliados, 81,96% ficaram entre o nível mais baixo de conhecimento e o nível 2 - o nível básico. A média da OCDE para esses grupos é de 46,04% no total.
O nível 2 de aprendizagem em ciências é o mínimo necessário para se tornar um cidadão “crítico” e “informado”, segundo a OCDE. Nesse nível, os estudantes começam a demonstrar as competências que vão permitir que eles participem “efetivamente e produtivamente” nas situações cotidianas relacionadas a ciência e tecnologia.
Consequentemente, o Brasil teve poucos jovens no níveis mais altos de aprendizado (do nível 3 ao 6), enquanto nos países da OCDE são esses grupos que concentram a maior parte dos alunos.
Um das razões para esse baixo desempenho é a distorção aluno-série, ou seja, alunos que estão em séries inferiores às correspondentes para suas idades e que, portanto, aprenderam menos que os demais.
Para se ter uma ideia, em 2015, o Brasil foi o terceiro país com a maior taxa de alunos avaliados no PISA que afirmam ter repetido ao menos uma série no primário ou ensino fundamental (36,4%), atrás apenas da Argélia (68,5%) e Colômbia (42,6%).
“O fato de nós termos 70% dos alunos abaixo do nível dois – considerado o nível mínimo - em matemática, 56% abaixo desse patamar em ciências e 51% abaixo em leitura é uma preocupação imensa porque significa que o Brasil não melhorou a qualidade e a equidade do sistema nos últimos 13 anos”, diz Maria Helena Guimarães de Castro, secretária executiva do Ministério da Educação.
Já em leitura, o Brasil ficou entre os 12 piores países, com uma média de 407, bem abaixo da média de 493 da OCDE.
Cerca de 20% dos estudantes de países membros da OCDE, em geral, não atingem o nível mínimo de proficiência em leitura. Em países como o Brasil, o Peru e a Indonésia, há mais alunos no nível mais baixo de proficiência que em qualquer outro nível.
Na média da OCDE, 80% dos estudantes chegam ao nível 2 ou mais. Em Hong Kong, mais de 90% dos estudantes ficam neste ou em níveis superiores. Já no Brasil, Peru e Indonésia, entre outros países, menos que um a cada dois estudantes ficam nesse patamar.
O pior desempenho geral do Brasil foi em Matemática, disciplina em que aparece entre os cinco piores países, com uma média de 377 (ante uma média de 490 entre os países da OCDE).
No país, 70,3% dos estudantes estão abaixo do nível 2 em Matemática, o mínimo necessário para que o aluno possa exercer plenamente sua cidadania. Em países desenvolvidos, como a Finlândia, essa taxa é de 13,6%.
O cenário é ainda mais desigual para as meninas, que tiveram um desempenho bem inferior que ao dos meninos nessa disciplina. Na média da OCDE, os garotos ficam cerca de oito pontos na frente das meninas. No entanto, um grupo de 28 países, entre eles o Brasil, Chile, Costa Rica, Alemanha, Irlanda, Itália e Espanha, os rapazes superam as meninas em mais de 15 pontos. Em apenas nove países, entre eles Finlândia e Macau - que se destacam nos rankings -, as mulheres têm melhor desempenho que os homens.
Nos dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) sobre desempenho por estados no PISA, o Paraná apresentou o melhor desempenho (406 pontos) e Alagoas, o pior desempenho (339). Segundo o governo federal, os dados, no entanto, ficam comprometidos pois o Paraná, bem como o Amapá, não atingiu a taxa de respostas exigida, prejudicando, assim, uma análise fidedigna desses estados.
Os dados revelam ainda que há grandes de nível de proficiência entre as regiões do país. Por exemplo, enquanto 59,1% dos estudantes do estado do Espírito Santo estão abaixo do nível 2, em Alagoas esse percentual é de 83,2%.
Para a secretaria executiva do MEC, o resultado geral do Brasil é alarmante, já que é inferior ao registro de nações que investem menos que o país em educação.
“Países como a Colômbia e o México, que tinham resultados similares aos nossos, nos deixaram para trás. Portugal e Polônia, que também estavam próximos, deram um salto de qualidade e superaram a média da OCDE”, diz Maria Helena.
De acordo com o ministério, é possível melhorar os números “se as políticas públicas funcionarem”. Sobre a desigualdade interna, o estudo destaca que os números refletem as diferenças sociais e econômicas nas regiões do país. Enquanto o Espírito Santo foi o destaque positivo de 2015, Alagoas amargou a “lanterna” do ranking.
“Alagoas, Bahia e Maranhão são os estados que apresentam o resultado mais decepcionante. Não podemos continuar reproduzindo essa desigualdade”, afirma a secretaria executiva da pasta.
Como possível solução, Maria Helena acredita que é preciso atualizar a base curricular comum por ser essencial à qualidade e à equidade do sistema. “É preciso investir na formação dos professores, nos materiais de apoio, nos materiais didáticos e nas plataformas digitais”, afirma.
Além disso, a secretaria executiva do MEC destacou que os números do estudo da OCDE reforçam a necessidade do estabelecimento da reforma do ensino médio.
“O que esses materiais indicam é que os alunos não têm aprofundamento em nenhuma área. O que estamos propondo com a reforma do ensino médio é garantir uma base curricular nacional comum, que vai melhorar a qualidade do conjunto do sistema de ensino fundamental e médio, além do aprofundamento nas áreas e estudo para que o aluno possa continuar sua formação geral e aprender mais”, diz Maria Helena.