Parada Gay em São Paulo: cerca de 1,6 mil pessoas foram mortas no Brasil por razões homofóbicas, (REUTERS/Nacho Doce)
Talita Abrantes
Publicado em 5 de julho de 2016 às 12h38.
São Paulo – O Brasil vive hoje uma epidemia de violência contra homossexuais que transformou o país no lugar mais perigoso do mundo para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Essa é a conclusão de reportagem do jornal americano New York Times publicada nesta terça-feira.
Citando dados do grupo Gay Bahia, a publicação afirma que mais de 1,6 mil pessoas foram assassinadas no Brasil por motivações homofóbicas nos últimos quatro anos e meio – o que representa praticamente uma morte por dia.
Para o jornal americano, esses números contrastam com a “imagem de uma sociedade tolerante e aberta” de um país que “aparentemente alimenta expressões de liberdade sexual durante o carnaval e que tem a maior parada gay do mundo”.
Essa reputação, diz a publicação, não é sem fundamento. “Nas quase três décadas desde que a democracia tomou o lugar da ditadura militar, o governo brasileiro introduziu diversas leis e políticas com o objetivo de melhorar a vida das minorias sexuais”, diz o texto.
A reportagem cita que o Brasil foi um dos primeiros países a oferecer medicamentos antirretrovirais para diagnosticados com HIV, foi pioneiro na América Latina a reconhecer a união civil de pessoas do mesmo sexo para fins de imigração e um dos precursores a liberar a adoção de crianças por casais homoafetivos.
O ponto, segundo a publicação, é que as tradições sociais de alguns grupos não caminharam no mesmo ritmo dos avanços obtidos no sistema normativo.
A reportagem relaciona a violência contra gays com a cultura machista que ainda perpetua na sociedade brasileira e com o crescimento de alas evangélicas mais conservadoras, que se opõem abertamente ao público LGBT.
De acordo com o cientista político Javier Corrales, ouvido pela reportagem, os brasileiros até estariam mais tolerantes. O problema é que aqueles que se mantêm intolerantes estariam “desenvolvendo novas estratégias e um discurso mais virulento para barrar o progresso nessas questões”, afirmou.