Galípolo: "A demanda pelos produtos existe, o problema é a conversibilidade da moeda" (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 1 de maio de 2023 às 17h45.
Última atualização em 1 de maio de 2023 às 17h48.
O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira, 1, que Brasil e Argentina discutem a criação de uma linha de crédito de exportação entre ambos países. O risco da modalidade, segundo ele, está atrelado à conversibilidade da moeda, especialmente por envolver o dólar.
"A demanda pelos produtos existe, o problema é a conversibilidade da moeda, ele (empresário) vai vender em pesos na Argentina, aí quando tiver que pagar o financiamento do lado de cá, o que vai acontecer é que tem problema de conversibilidade. Será que o volume de pesos aferidos ao converter para real vai ser suficiente para pagar a dívida?", disse durante entrevista à Globo News.
O secretário acrescentou ainda que a complexidade dessa estrutura envolve um problema de conversibilidade em um comércio realizado hoje por uma moeda de um terceiro país, os Estados Unidos, que não participa dessa relação. "Hoje existe comércio entre Brasil e Argentina que é feito por uma moeda de um terceiro País, não participante desse comércio, e a política monetária desse país afeta a disponibilidade dessa moeda para realização desse comércio", afirmou.
Galípolo explicou que as linhas de exportação são financiamentos que pagam diretamente as empresas brasileiros que vendem serviços e mercadorias para empresas argentinas e, segundo ele, são relevantes dada a restrição de balanço de pagamento que ocorre no país vizinho, que enfrenta uma grave crise econômica. Ele estima que existem, hoje, cerca de 210 empresas brasileiras que comercializam com a Argentina.
O secretário reforçou que o BNDES desempenha um papel essencial no processo dessas linhas de exportação, com governança do ponto de vista de garantias e exigências que precisam ser cumpridas. Ele também disse que tem ocorrido um diálogo com bancos multilaterais sobre a situação da Argentina e afirmou que o banco dos Brics tem um peso adicional, já que envolve a China, principal parceiro comercial que tem alta musculatura de participação econômica.
Galípolo declarou ainda que a Argentina é um importante parceiro comercial, especialmente por importar produtos industriais e de alto valor agregado. Ele estima que houve uma perda de aproximadamente U$ 6 bilhões de espaço no comércio com o país vizinho diante da entrada da China nos últimos cinco anos. "O país asiático vem viabilizando mecanismos de financiamento em alternativa a meios de pagamento", afirmou.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira, 1, que a partir do meio do ano o sistema do programa Desenrola deve estar mais avançado para angariar dados e fazer com que as renegociações de dívidas entre credor e devedor sejam concretizadas na plataforma.
Ele afirmou que, como serão disponibilizados recursos públicos para "colar o sujeito na curva de oferta", a equipe tem trabalhado em destacar um fundo para que fique visível o esforço fiscal traçado. "Queremos assegurar que o acesso a esse recurso vai se dar da melhor maneira possível", disse, durante entrevista à GloboNews. "É importante ter zelo e cuidado com dinheiro público".
O secretário explicou que os credores que oferecerem maiores descontos na dívida terão hierarquia no processo. Ele disse que o sistema é complexo e garantirá transparência, por isso há uma demora para ser colocado em funcionamento.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já declarou que R$ 11 bilhões do fundo para garantir a renegociação das dívidas por meio do programa Desenrola já estão separados. Serão, no total, R$ 15 bilhões. Pessoas com renda de até dois salários mínimos (R$ 2,6 mil) contarão com subsídios de crédito por meio de garantia, segundo ele.
Haddad também já disse que a medida provisória do programa já está redigida e será publicada assim que o sistema operacional do programa estiver pronto.
Galípolo também minimizou durante a entrevista as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao elevado patamar da taxa de juros e ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O secretário disse que o chefe do Executivo tem "toda autoridade" para falar sobre o tema. Ele também reforçou a independência da autoridade monetária e relembrou que o mandato de Campos Neto vai até 2024.