Local onde o Exército Brasileiro construiu um centro de tortura, durante a Guerrilha do Araguaia, na Ditadura Militar (MARCOS ROSA/VEJA)
Da Redação
Publicado em 21 de maio de 2014 às 22h52.
San José - Organizações não governamentais afirmaram nesta quarta-feira perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH) que o Brasil não cumpriu a sentença ditada há quatro anos sobre o desaparecimento forçado de pessoas em casos relacionados com a Guerrilha do Araguaia.
A CorteIDH recebeu hoje as partes em uma audiência privada para analisar o avanço no cumprimento da decisão relacionada com operações militares para erradicar os militantes do Partido Comunista do Brasil, entre 1972 e 1975, e que provocaram o desaparecimento de 69 pessoas.
A diretora da ONG Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil), Viviana Krsticevic, disse à Agência Efe que "o Estado brasileiro está em dívida com as vítimas destes fatos e seus familiares".
"Não se avançou em encontrar os corpos dos desaparecidos, não se sabe o que ocorreu com eles, e não se deram os passos necessários para que se faça justiça", lamentou.
Krsticevic declarou que durante a audiência o Estado expôs que criou dentro do Ministério Público uma política para investigar e castigar os crimes cometidos durante a ditadura, e que os fatos que motivaram a sentença da CorteIDH estão sendo investigados.
No entanto, para a Cejil e organizações brasileiras como Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro e a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, o que o Estado fez não é suficiente.
Até o momento, o Estado avançou na identificação de duas vítimas e vinculou apenas dois militares com os crimes, mas os processos judiciais estão suspensos, segundo as ONGs.
Victoria Gravois, que perdeu seu pai durante a ditadura, faz parte de Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro e afirmou à Efe que sente "frustração" pelo pouco avanço das investigações e a "falta de vontade política do Estado".
"É preciso fazer identificações dos desaparecidos, abrir os documentos militares desse período, mas o governo deve ter vontade política para fazê-lo", comentou.