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Brasil diz adeus ao maior lixão da América Latina, em Brasília

Encerramento do lixão da Estrutural marca o começo de uma nova história na gestão do resíduo, sem perder de vista a cicatriz ambiental deixada

Lixão da Estrutural no DF (Brasília) (Arquivo/Wilson Dias/Agência Brasil)

Lixão da Estrutural no DF (Brasília) (Arquivo/Wilson Dias/Agência Brasil)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 20 de janeiro de 2018 às 07h19.

Última atualização em 20 de janeiro de 2018 às 07h19.

São Paulo - Após mais de dez anos de contenda e planejamento, o Brasil vai finalmente encerrar as atividades do lixão da Estrutural, em Brasília, o maior em atividade na América Latina e o segundo maior do mundo, atrás apenas do de Jacarta, na Indonésia. O fechamento está previsto para ocorrer neste sábado (20).

Diariamente, mais de três mil toneladas de resíduos do Distrito Federal tinham como destinação final o lixão, a pior forma possível de descarte. Seis décadas desde que começou a ser usado, Estrutural acumula atualmente 40 milhões de toneladas de detritos. É tanta sujeira emaranhada num mesmo espaço que o ponto mais alto da montanha de entulho chega a 60 metros de altura.

No começo de 2017, Brasília inaugurou o aterro sanitário de Samambaia, projetado para comportar 8,13 milhões de toneladas de rejeitos, com uma vida útil de 13 anos. Para garantir que só vá rejeito para o aterro -- ou seja, resíduo sem possibilidade de reutilização -- o governo do distrito federal  planejou a abertura de cinco centros de triagem de material.

Esses centros são essenciais para a separação de recicláveis e, mais ainda, para a reinserção no mercado de quase 2 mil catadores que tiravam do lixão da Estrutural o seu sustento.

Desafio nacional

O encerramento do lixão, localizado a 15 quilômetros da Praça dos Três Poderes, marca o começo de uma nova história para a gestão de resíduos na região e no Brasil, mas sem perder de vista a imensa cicatriz deixada.

"A remediação do impacto ambiental pode levar de 30 a 50 anos. Serão necessárias várias etapas de contenção de vazamentos, emissões e tratamento da área, é como um quebra-cabeça de custo elevado", diz a EXAME.com Gabriela Otero, coordenadora do departamento técnico da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

A entidade fechou um acordo de cooperação para acompanhar o fechamento do lixão até sua conclusão definitiva. "O fechamento do lixão da estrutural e a criação de uma nova logística de descarte pode mobilizar outras cidades a fazer o mesmo", destaca a especialista.

Segundo levantamento da entidade, 1559 municípios brasileiros (quase 30% do total) recorreram aos lixões em 2016, contra 1552 em 2015, anos com dados mais recentes disponíveis. No total, em todo o território nacional, existem 2976 lixões em operação.

Pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída com 20 anos de atraso em 2010, o país deveria extinguir todos os lixões até 2014. O prazo foi adiado, e as capitais e municípios de região metropolitana têm até 31 de julho de 2018 para acabar com os lixões, e  cidades pequenas, até 2021. Claramente, a extinção dos lixões está longe de acontecer. 

Para a representante da Abrelpe, embora a consciência sobre o problema venha crescendo, faltam mudanças concretas.

O estímulo, segundo ela, pode vir do governo, por meio, por exemplo do estabelecimento de um sistema de aproveitamento energético de resíduo, pode vir pelo próprio setor industrial, que precisa se mexer para atender à logística reversa prevista na PNRS, e também da revisão de hábitos e atitudes por parte da população.

"O que não dá é ficar inércia, a inércia custa bilhões. Precisamos nos movimentar e rever nossa relação com o lixo", sublinha.

 

 

 

 

 

 

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