O vice-presidente Geraldo Alckmin, líder da delegação brasileira na COP29, que partiu hoje de Baku (Leandro Fonseca/Exame)
Editora ESG
Publicado em 14 de novembro de 2024 às 10h22.
Última atualização em 14 de novembro de 2024 às 11h15.
*De Baku
A delegação brasileira se despede hoje da COP29 em Baku, no Azerbaijão, para aterrisar quase diretamente no Rio de Janeiro, onde acontece a reunião do G20, a partir da próxima segunda-feira, 18. E levará na mala o peso da tensão pós rompante do presidente argentino Javier Milei que, na tarde de quarta-feira, 13, ordenou que a pequena delegação de seu país deixasse a Conferência do Clima imediatamente.
Desde então, cresceu a apreensão entre integrantes da comitiva brasileira liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, aspecto reforçado hoje pela manhã, em Baku, por um dos membros, que disse que "não há ideia do que o argentino possa aprontar em terras cariocas, mas que todos estão razoavelmente preocupados".
Não havia grande expectativa para o encontro entre Milei e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, visto que a relação entre os dois chefes de estado nunca foi das melhores. Em relação ao G20, durante as negociações iniciais para definir o documento final, a equipe argentina apresentou diversas ressalvas a todos os membros do grupo, incluindo o Brasil.
Na reunião de sherpas (representantes de chefes de Estado e Governo) da última terça-feira, 12, a Argentina já havia sinalizado resistência em endossar acordos internacionais como a Agenda 2030 e o Pacto para o Futuro, duas das iniciativas desenvolvidas no âmbito da ONU e voltadas para o desenvolvimento sustentável.
E até o momento, o único documento que não obteve aprovação unânime foi a declaração ministerial sobre igualdade de gênero e empoderamento feminino, devido justamente à oposição argentina, que se alinha à postura de nações árabes, Rússia e China.
O futuro a Milei pertence?
Questionada pelo The Guardian, a subsecretária de meio ambiente da Argentina, Ana Lamas, principal autoridade do país em clima e natureza depois que Milei dissolveu o ministério do Meio Ambiente, disse não ter mais informações sobre a justificativa para o pedido de retirada. Destacou, porém, que a decisão se aplicava apenas à COP29, sem qualquer relação - direta, claro - com o Acordo de Paris.
Após o acontecido na COP29, já há um consenso entre diplomatas e o governo brasileiro de que as tratativas com os "hermanos" demandarão esforços adicionais. O mesmo membro que conversou reservadamente com a imprensa hoje, em Baku, ponderou a necessidade de aguardar o desenvolvimento das negociações. Contudo, reconheceu que a comoção gerada com a debandada na COP29 tem especial e negativo impacto para o Brasil.