Ana Paula Repezza, diretora de negócios da Apex (Divulgação)
Agência de Notícias
Publicado em 3 de outubro de 2025 às 10h18.
O Brasil aposta no comércio internacional e na atração de investimentos estrangeiros não apenas para impulsionar seu crescimento, como para reduzir as desigualdades de gênero no país, onde 51,5% da população é formada por mulheres.
A afirmação foi feita em entrevista à EFE pela diretora de negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Ana Paula Repezza, que destacou o potencial econômico e social de uma maior participação feminina.
Repezza explicou que, como as empresas que comercializam com outros países pagam melhores salários e são mais resilientes a crises, o comércio exterior representa uma importante oportunidade para as mulheres elevarem seus rendimentos.
Quando têm uma renda maior, segundo Repezza, elas tendem a investir em alimentação ou educação para a família, o que melhora as condições para as gerações futuras e gera um "ciclo virtuoso" de impacto em toda a economia.
"É muito potente esta equação que une as empresas exportadoras ao fato de que as mulheres que têm mais renda vão reinvesti-la nas futuras gerações. Isso transforma o comércio exterior em uma grande ferramenta de diminuição da desigualdade social", afirmou.
Segundo um relatório do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, apenas 2% do valor total exportado pelo Brasil em 2024, que atingiu US$ 337 bilhões, correspondeu a empresas com maioria feminina na estrutura societária.
No entanto, o estudo revela sinais de mudança: a proporção de companhias exportadoras com maioria de mulheres sócias passou de 13,9% em 2022 para 14,5% em 2024, com especial presença em micro e pequenas empresas.
Para Repezza, é evidente que há "uma consciência muito maior sobre a importância da participação das mulheres" e do desenvolvimento de políticas públicas que facilitem essa inclusão.
"Nos últimos anos, a inclusão da mulher no mercado de trabalho e na economia brasileira é cada vez maior, e esse é um caminho sem volta", defendeu.
Para acelerar essa mudança, a ApexBrasil busca apoiar e potencializar a liderança feminina com o programa Mulheres e Negócios Internacionais (MNI), que desde 2023 já atendeu mais de 4.000 empresas.
Com mais de 70 aliados estratégicos, a iniciativa oferece desde capacitações técnicas e socioemocionais até rodadas de negócios, além de missões internacionais.
A agência brasileira também se integrou à plataforma SheTrades Hub, do Centro de Comércio Internacional (ITC), que oferece uma rede de centros de apoio, capacitação e conexão em 18 países.
"O intercâmbio internacional ajuda muito, porque elas percebem que os problemas muitas vezes são os mesmos, e isso gera uma conexão emocional que favorece uma maior compreensão e também a busca de soluções, além de poder culminar em acordos comerciais", afirmou Repezza.
Além disso, o Brasil aderiu ao Acordo Global sobre Comércio e Gênero (GTAGA) e avançou na implementação do capítulo sobre comércio e gênero do Acordo de Livre Comércio com o Chile, que entrou em vigor em 2022 e é uma referência nas exportações de empresas lideradas por mulheres entre os dois países.
Segundo dados oficiais, enquanto as brasileiras registraram um aumento de 112% no valor total exportado para o Chile entre 2021 e 2024, atingindo US$ 397 milhões em 2024, as chilenas tiveram um aumento médio de 4% ao ano, chegando a US$ 1,42 bilhão no ano passado.
Com sua participação na Expo Osaka 2025, que termina no próximo dia 13 de outubro no Japão, o Brasil busca não apenas fortalecer conexões globais, mas também se projetar como uma vitrine para o empoderamento feminino.
Por seu pavilhão de 373 metros quadrados, dividido em espaços imersivos que refletem a preservação da natureza e a diversidade, já passaram quase 2 milhões de visitantes desde abril.
Paralelamente, em agosto o país promoveu a Semana da Mulher, com atrações musicais, um desfile de moda, reuniões de negócios e debates.
"Esta ação uniu negócios com debates importantes sobre o futuro da mulher. O tema da Expo este ano é o futuro que queremos, e não se pode pensar em um futuro que não seja inclusivo, no qual a mulher não possa exercer plenamente todas as suas capacidades (...) O lugar da mulher é onde ela quiser, em todo o mundo", concluiu.