Braga Netto: o ex-ministro de Bolsonaro foi uns dos principais articuladores do plano (Alan Santos/PR/Flickr)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 14 de dezembro de 2024 às 08h54.
Última atualização em 16 de dezembro de 2024 às 10h30.
Preso neste sábado, 14, pela Polícia Federal (PF) por tentativa de obstrução à Justiça, o ex-ministro da Casa Civil e Defesa Walter Souza Braga Netto é apontado pelos investigadores como uma figura central nos atos que visavam subverter o regime democrático no Brasil. O militar foi candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
No fim de novembro, a Polícia Federal indiciou Braga Netto, o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 34 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. O inquérito será enviado à Procuradoria Geral da República (PGR), que decidirá se apresentará denúncia ou não contra os indiciados perante a Corte.
Segundo o documento de mais de 800 páginas, o general quatro estrelas da reserva foi um dos principais articuladores do plano. Os investigadores afirmam que o ex-ministro de Bolsonaro faria parte do núcleo "responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado" e do núcleo de "oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos".
O relatório descreve Braga Netto como um dos líderes do grupo, juntamente com o general Augusto Heleno, que planejava a criação de um gabinete vinculado à Presidência da República após a consumação do Golpe de Estado. Esse gabinete, composto majoritariamente por militares e alguns civis, teria a função de assessorar o então presidente Jair Bolsonaro em um novo regime autoritário.
O inquérito aponta ainda que o general da reserva coordenou ataques a generais do Alto Comando do Exército que se recusavam a participar da tentativa de golpe. Ele também teria orientado a disseminação de mensagens de apoio a militares que se alinhavam ao plano golpista.
Os investigadores apontaram que uma reunião foi realizada no dia 12 de novembro de 2022 na casa do general Walter Braga Neto, em meio a um suposto planejamento para o assassinato do então presidente-eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A participação do general foi confirmada por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Na conclusão do inquérito, a PF afirmou que Braga Netto buscou informações sobre o “acordo de colaboração” do tenente-coronel Mauro Cid por meio dos pais do militar.
Durante uma operação de busca e apreensão na sede do PL, a PF localizou um documento que seria um "guia de perguntas e respostas" sobre a delação de Mauro Cid. O material estava na mesa do coronel Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto na época, que ocupava um cargo no partido.
Em nota, divulgada na época do indiciamento, Braga Netto afirmou que "nunca se tratou de golpe e muito menos de plano de assassinar alguém" e que "sempre primou pela correção ética e moral na busca de soluções legais e constitucionais".
Documentos obtidos pela PF revelaram uma série de ações e mensagens do general da reserva para pressionar militares e promover ataques contra aqueles que se opuseram à conspiração.
Braga Netto ordenou ao coronel da reserva Ailton Gonçalves Barros que organizasse ataques contra o general Freire Gomes e o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, incluindo ações direcionadas a familiares. Ambos eram contrários ao plano golpista. Em contraste, Braga Netto instruiu que elogiassem o almirante Almir Garnier Santos, que apoiava o golpe.
Mensagens recuperadas revelam que Braga Netto recebeu uma captura de tela de um texto golpista no qual Freire Gomes era chamado de “traidor da pátria”. O texto exigia um posicionamento para “SALVAR o nosso ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO”. Braga Netto concordou com a ideia de “oferecer a cabeça” de Freire Gomes “aos leões” caso ele não aderisse, afirmando: “Oferece a cabeça dele. Cagão”. Além disso, enviou uma imagem, possivelmente de uma manifestação em frente à residência de Freire Gomes, como forma de pressão.
Braga Netto também orientou Ailton Barros a “infernizar a vida” do tenente-brigadeiro Baptista Júnior e de sua família, chamando-o de “traidor da pátria”. Além disso, disseminou imagens que associavam Baptista Júnior ao comunismo e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), visando prejudicar sua reputação.
Além de atacar militares específicos, Braga Netto promoveu a difusão de mensagens que prejudicavam a imagem do general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva. Ele orientou que a mensagem fosse amplamente divulgada com a instrução: “É verdade. Pode viralizar”.
O nome de Braga Netto também foi citado como parte dos generais que pressionavam Freire Gomes a apoiar o golpe. Em uma das mensagens, o coronel Corrêa Netto lamenta a falta de ação de Freire Gomes, afirmando que “os responsáveis pela inação paguem mais caro que o resto”.