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Bolsonaro terá de cair na real e fazer política, dizem especialistas

Para os cientistas políticos Ricardo Sennes e Fernando Schüler, as reformas só vão avançar se o governo jogar o jogo político

Fórum VEJA e EXAME 100 Dias de Governo: André Lahóz Mendonça de Barros, Ricardo Sennes, Fernando Schüler e André Petry debatem os rumos da política (Flávio Santana / Biofoto/Exame)

Fórum VEJA e EXAME 100 Dias de Governo: André Lahóz Mendonça de Barros, Ricardo Sennes, Fernando Schüler e André Petry debatem os rumos da política (Flávio Santana / Biofoto/Exame)

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Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2019 às 17h28.

Última atualização em 15 de abril de 2019 às 19h07.

São Paulo -- Bolsonaro evita compromissos políticos por associá-los à corrupção. Mas, em algum momento, ele terá de aceitar a realidade e negociar com o Congresso. Quem diz isso é Ricardo Sennes, cientista político e sócio da consultoria Prospectiva.

Sennes é um dos especialistas reunidos no Fórum VEJA e EXAME 100 Dias de Governo, que faz, hoje, em São Paulo, um balanço dos primeiros 100 dias do governo Bolsonaro. Sennes discutiu os rumos da política nacional com Fernando Schüler, cientista político e professor do Insper. Os dois especialistas responderam a perguntas de André Lahóz Mendonça de Barros, diretor editorial de EXAME, e de André Petry, diretor editorial de VEJA.

Para Sennes, a população deu um recado claro nas urnas, posicionando-se contra o processo político marcado pela corrupção. Mas isso não significa que os brasileiros rejeitem as negociações políticas ou os políticos tradicionais. “Muitos líderes políticos tradicionais foram reeleitos. O recado das urnas é ‘não faça coalização com base na corrupção’. Não é ‘não faça coalizão’”, diz Sennes.

Em sua avaliação, Bolsonaro ainda não entendeu o verdadeiro desejo do eleitorado. E esse entendimento é necessário para que o presidente passe a negociar com o Congresso, possibilitando o avanço da agenda de reformas. Para o cientista político, isso deve demorar pelo menos mais alguns meses. “Talvez aconteça uma mudança em setembro ou outubro, quando poderemos ter uma reforma ministerial”, prevê.

O difícil avanço do liberalismo

Tanto Sennes como Schüler têm um prognóstico pouco animador para quem espera uma agenda liberal do governo. A análise dos dois é simples: liberalismo não combina com populismo. “Todo ajuste econômico liberal é recessivo. Quando se desmonta a agenda de gastos públicos, o primeiro impacto é negativo”, diz Sennes.

O resultado positivo, argumenta ele, só vem no longo prazo. “A grande questão dos governos liberais é como lidar com isso. Uma reforma econômica liberal requer estratégia política muito sólida”, analisa Sennes. A falta de habilidade política de Bolsonaro seria, então, um entrave ao avanço de uma economia desse tipo.

Para Schüler, poucas pessoas, no governo Bolsonaro, estão comprometidas com uma economia liberal. “Paulo Guedes e sua equipe são brilhantes. Mas há outros grupos no governo que não estão 100% alinhados com essa agenda. Há militares, políticos de agenda conservadora, o Centrão, a turma de law and order do Sergio Moro”, diz ele. “E o problema não é só o governo não ser liberal. Há a sociedade e o Congresso também.”

Schüler lembra que, no Congresso Nacional, pouco mais de 200 parlamentares se dizem a favor da reforma da previdência, o que é muito pouco para aprova-la. “É o Brasil real, com que o governo tem de lidar. E falta habilidade política para isso”, conclui.

As redes sociais e a polarização política

Uma característica do atual governo é sua presença intensa nas redes sociais. Schuler vê, nelas, um fator que tende a acentuar a polarização política da sociedade.

“Há mal estar na democracia global, não só no Brasil. As democracias hoje são mais instáveis, mais barulhentas. De 20 a 25 milhões de brasileiros, só uns 15% do eleitorado, participam digitalmente da vida pública. Essas pessoas não expressam a realidade da maioria da sociedade. São mais polarizadas e mais agressivas que a média. Isso passa a impressão de que a sociedade toda está polarizada. Brasileiros que moram fora do Brasil ficam mais radicais porque leem o Brasil pelas redes sociais. Acham que o país está em guerra”, diz ele.

Os dois especialistas não acham, porém, que a democracia brasileira esteja em risco. “Na prática, decisões perigosas são filtradas pelas instituições, como aconteceu com o decreto sobre documentos sigilosos. Nossa democracia é mais forte do que parece”, afirma Schüler.

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