Brasil

Bolsonaro sobre covid-19: "Não vou sentir nada, fui atleta e levei facada"

O presidente voltou a minimizar os impactos do coronavírus, contrariando dados, orientações dos órgãos mundiais de saúde e de seu próprio ministério

Jair Bolsonaro: presidente é a favor do isolamento apenas de grupos de risco, o que já foi comprovado que aumentaria exponencialmente o número de mortes por coronavírus no país (Alan Santos/PR/Flickr)

Jair Bolsonaro: presidente é a favor do isolamento apenas de grupos de risco, o que já foi comprovado que aumentaria exponencialmente o número de mortes por coronavírus no país (Alan Santos/PR/Flickr)

BC

Beatriz Correia

Publicado em 30 de março de 2020 às 20h27.

Última atualização em 30 de março de 2020 às 21h03.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a criticar as políticas de contenção à proliferação do novo coronavírus, defendida por governadores brasileiros, em especial a recomendação de quarentena. Segundo Bolsonaro, em entrevista à Rede TV!, "não se pode impor isolamento como alguns estados fizeram de forma quase eterna."

"Parece que há interesse por parte de alguns governadores de inflar o número de vitimados do vírus. Daria mais respaldo para eles, para justificar as medidas que eles tomaram", defendeu Bolsonaro.

Para o presidente, há restrições a uma "quarentena maior do que esta porque esse pessoal vai ter dificuldade para sobreviver." Bolsonaro disse tratar "da questão da doença, da preservação da vida e do emprego simultaneamente."

"O que o povo mais pede é para voltar a trabalhar", disse Bolsonaro relatando a conversa que teve com populares durante visita feita à Ceilândia, no Distrito Federal, no domingo. Segundo afirmou Bolsonaro, que desconsiderou as recomendações de isolamento defendidas pelo Ministério da Saúde: "Não houve nada preparado da minha parte para que houvesse gente na rua ontem".

O discurso do presidente vai de encontro às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que defende a quarentena e o isolamento, de líderes mundiais, que têm determinado o confinamento em diversos países, e do próprio Ministério da Saúde brasileiro, que também defendeu o isolamento.

Bolsonaro disse que "se [a covid-19] fosse algo terrivelmente mortal para mim, talvez não estivesse na rua." Em entrevista à Rede TV!, o presidente afirmou que "o H1N1 foi muito mais terrível e não trouxe esse pânico para nós."

Bolsonaro ainda lembrou do atentado em Juiz de Fora e disse: "Se o vírus pegar em mim, não vou sentir quase nada. Fui atleta e levei facada", recordou. De acordo com o presidente, a estimativa é que "pelo menos 60% da população vai contrair o vírus." "O que o governo está tentando fazer é que nem todos peguem ao mesmo tempo", disse.

Segundo o presidente, foi "equivocada" a decisão do TSJ de liberar provisoriamente presos no grupo de risco da doença. "Se depender de mim, não soltaria ninguém", disse Bolsonaro. "Estão mais protegidos lá dentro. Têm comida, foram proibidas as visitas", afirmou

Economia

Bolsonaro disse ainda que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem a expectativa que a economia brasileira se recupere da crise causada pela pandemia da covid-19 no período de até um ano. Segundo o presidente, as medidas do governo para conter a crise podem ter o custo de até 800 bilhões de reais.

"Conversei hoje com ele [Paulo Guedes]. As medidas tomadas podem chegar a 800 bilhões de reais. O que ele expôs para mim hoje, da possibilidade de recuperar em um ano a economia, é possível, sim. Afinal de contas, como conversei com o Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura hoje, a arrecadação de impostos cresceu 20% em fevereiro, mesmo com a questão do vírus", falou Bolsonaro.

Segundo o presidente, o ministro da Economia tem mostrado "um instinto humanitário enorme. Não está faltando recursos para a Saúde e estamos combatendo o desemprego."

As últimas notícias da pandemia do novo coronavírus:

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusJair Bolsonaro

Mais de Brasil

Bolsonaro nega participação em trama golpista e admite possibilidade de ser preso a qualquer momento

Haddad: pacote de medidas de corte de gastos está pronto e será divulgado nesta semana

Dino determina que cemitérios cobrem valores anteriores à privatização

STF forma maioria para permitir símbolos religiosos em prédios públicos