Brasil

Bolsonaro quer campo de refugiados para venezuelanos em Roraima

Deputado defende a construção de espaços para venezuelanos que chegam ao Brasil fugindo da crise econômica que assola o país latino-americano

Bolsonaro: "Já temos problemas demais aqui", diz deputado (Antonio Milena/VEJA)

Bolsonaro: "Já temos problemas demais aqui", diz deputado (Antonio Milena/VEJA)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de março de 2018 às 12h29.

Última atualização em 14 de março de 2018 às 13h56.

Rio — Depois de adotar um discurso mais atraente ao mercado, com propostas de cunho liberal, o pré-candidato do PSL à Presidência, deputado federal Jair Bolsonaro, retomou temas polêmicos.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele defendeu a construção de campos de refugiados para venezuelanos que chegam ao Brasil. "Já temos problemas demais aqui", disse, ao atender à reportagem em um quiosque no Posto 4 da Barra da Tijuca, próximo a sua casa, na zona oeste no Rio.

Mesmo filiado a um partido com poucos recursos, Bolsonaro, que lidera pesquisas de intenção de voto em cenários sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, disse que está "muito satisfeito" com a estimativa de que poderá gastar até R$ 3 milhões na campanha ao Planalto.

Quanto o senhor pretende gastar na campanha eleitoral?

Antes de escolher o PSL, sabia que nenhum partido médio e grande iria me aceitar e me preparei para fazer campanha com R$ 1 milhão para gastar em 45 dias. É mais do que suficiente. Do montante total de recursos do PSL, me caberão cerca de R$ 3 milhões. Estou muito satisfeito com o que possa ter via fundo partidário.

O senhor filiou-se a um partido pequeno, com pouco tempo de televisão e poucos recursos. Como pretende fazer campanha?

Eu não tenho obsessão para chegar lá. Quem vai decidir se eu vou estar lá ou não vai ser o povo brasileiro. Se eu for fazer a mesma coisa que os outros, procurar alianças, recursos, e com as alianças vier o tempo de televisão, eu estarei me igualando aos demais pré-candidatos.

Caso vença a eleição, como o senhor pretende governar em minoria no Congresso?

Eu serei o único pré-candidato que, quando começarem as eleições, já terei todo o ministério apresentado. Eu não vou esperar acabarem as eleições, como todo mundo faz, a futura vitória nas urnas, e depois ir para os porões do Jaburu juntar com as pessoas conhecidas de sempre do Legislativo, para lotear o governo. Para fazer a mesma coisa, estou fora.

O senhor já tem quais nomes definidos para ministro?

Não vou falar em ministro, mas o Paulo Guedes é um excelente nome para Fazenda e Planejamento, que vai ser um ministério só. O Ministério da Defesa já conversei e acertei. Quem vai indicar o quatro estrelas vai ser o general Augusto Heleno. Eu tenho conversado com setores do agronegócio. O futuro ministro da Agricultura e Meio Ambiente, que vai ser um ministério só, [quem indicará] vão ser as entidades produtoras [rurais] do Brasil.

No seu governo como seria a pasta dos Direitos Humanos?

Atender às vítimas da violência e ponto final.

A intervenção no Rio pode tirar o seu discurso de campanha?

Não estou preocupado com isso. Eu quero mais é que dê certo. Eu votei favorável. Agora, está na cara que ele [o presidente Michel Temer] segue, que o governo tem seguido algumas bandeiras minhas. Eles mudam porque o que a massa do povo quer é efetividade. Não é essa historinha de dar outra chance, audiência de custódia, política de desencarceramento. "Ó, os presídios estão cheios, eles vivem muito mal acomodados". O pessoal está enjoado disso aí. A cadeia é um local extremamente democrático, vai para lá quem fez muita besteira.

O senhor elogia o presidente Donald Trump (Estados Unidos) como um modelo. Recentemente, ele adotou uma política unilateral sobre as importações de aço que pode afetar diretamente milhares de empregos no Brasil. O que senhor acha disso? Governar unilateralmente é o melhor caminho?

Ele está partindo para o bilateralismo, essa é a intenção dele. Gostaria também de fazer a mesma coisa. Acho que fica muito mais livre, porque nós temos o que oferecer para o mundo. A política do Trump eu vejo com bons olhos, apesar de não ser economista. E, pelo que ouço do Paulo Guedes, muita coisa dá para aproveitar.

E essa questão do muro no México? Como vê propostas assim?

Ele [Trump] quer cérebros lá dentro. Os Estados Unidos, pelo que eu entendo, são uma fábrica de cérebros. E não pode, no meu entender – no lugar dele eu faria a mesma coisa – aceitar à vontade tudo quanto é tipo de gente. Porque, junto com gente boa, entra quem não presta. Olha a nossa querida Roraima, Boa Vista e Pacaraima. Eu estive lá. Hoje em dia calculam que Boa Vista tem em torno de 40 mil venezuelanos. E olha só: na ditadura, quando começa a tomar forma, a elite é a primeira a sair. Essa foi pra Miami. Da parte intermediária, grande parte foi para o Chile. E agora os mais pobres estão vindo para o Brasil. Nós já temos problemas demais aqui. Se vamos incorporar aquele exército que recebe Bolsa Família, quem vai pagar isso aí? Vamos aumentar impostos?

E qual a solução?

Primeiro, via Parlamento, revogar essa lei de imigração aí. Outra, fazer campo de refugiados. Outra: em vez de esperar passar o vexame do (Nicolás) Maduro expulsar os nossos embaixadores, já era para ter chamado há muito tempo e tomado outras decisões econômicas contra a Venezuela.

Como o senhor viu o fuzilamento de brasileiros envolvidos com tráfico de drogas (na Indonésia)?

Alguém quer levar drogas para a Ásia hoje em dia? Eles ficaram livres do problema. Eles sabem que a lei é essa lá, tanto é que lá é vendida mais cara a droga. Conseguiram o que buscavam. Eu mesmo, quando teve o caso lá do Marcelo Archer, era o Ban Ki-Moon, se não me engano, (na verdade era Joko Widodo), eu fiz um documento e o cumprimentei pela decisão.

O senhor apoiaria que fosse assim no Brasil?

A nossa Constituição veda pena de morte aqui. Só uma nova Assembleia Nacional Constituinte pode buscar isso. Só não buscarei isso por um motivo simples: não vai ser aprovado. Então, eu não vou lutar por algo que não vai ser aprovado. Agora, pretendo lutar por prisão perpétua.

O senhor seria a extrema-direita no País?

O que é extrema-direita? Isso é terrorismo, eu sou terrorista? Extrema no mundo todo é terrorista. Estão tentando me associar a terroristas. Eu sou de direita. Mas extrema-direita, jamais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Crise econômicaCrise políticaJair BolsonaroNicolás MaduroRefugiadosVenezuela

Mais de Brasil

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP

Governos preparam contratos de PPPs para enfrentar eventos climáticos extremos

Há espaço na política para uma mulher de voz mansa e que leva as coisas a sério, diz Tabata Amaral

Quais são os impactos políticos e jurídicos que o PL pode sofrer após indiciamento de Valdemar