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Bolsonaro diz que filha tem "sangue cabra da peste" e que ama o Nordeste

Durante discurso em inauguração de aeroporto na Bahia, o presidente afirmou ter "repulsa por quem não é brasileiro"

Jair Bolsonaro: "Eu amo o Nordeste. A minha filha tem em suas veias sangue de cabra da peste" (Alan Santos/PR/Divulgação)

Jair Bolsonaro: "Eu amo o Nordeste. A minha filha tem em suas veias sangue de cabra da peste" (Alan Santos/PR/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de julho de 2019 às 13h47.

Última atualização em 23 de julho de 2019 às 15h27.

Vitória da Conquista — O presidente Jair Bolsonaro fez nesta terça-feira (23) um aceno aos nordestinos e pregou união em sua segunda viagem oficial à região, depois de entrar em atrito com os governadores dos Estados, de partidos da oposição.

"Somos todos paraíbas, somos todos baianos", discursou ao público de apoiadores bolsonaristas que o aguardava sob chuva, do lado de fora do Aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista (BA), numa espécie de comício da inauguração da obra.

"É um prazer estar aqui em Vitória, na Bahia. É uma honra hoje eu também ser nordestino cabra da peste."

Na semana passada, Bolsonaro se envolveu em uma tensão com nordestinos ao ter uma conversa captada por câmeras de TV com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

“Daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada para esse cara”, afirmou o presidente, sem saber que estava sendo gravado.

Em meio a uma onda de críticas, Bolsonaro alegou que fazia críticas aos governadores do Maranhão (Flávio Dino, do PCdoB) e da Paraíba (João Azevedo Lins, do PSB).

Governadores da oposição destacaram que o termo "paraíba" é uma forma pejorativa, comum no Rio de Janeiro, para ofender os nordestinos em geral.

"Eu amo o Nordeste. A minha filha tem em suas veias sangue de cabra da peste. Cabra da peste de Crateús, no nosso Estado mais lá para cima, o nosso Ceará", disse Bolsonaro.

"Não estou em Vitória da Conquista, não estou na Bahia, e nem no Nordeste. Estou no Brasil. Não há divisão entre nós. Sexo, raça, cor, religião ou região... Somos um só povo, uma só raça, um só ideal e um só objetivo: colocar esse grande País no lugar que ele merece."

Regendo a plateia, Bolsonaro ordenou e causou frisson entre os convidados: "Quem é Nordestino levanta o braço. Quem concorda com o presidente Bolsonaro levanta o braço. Estamos juntos ou não estamos?".

"Nosso governo não tem muitos recursos. O Brasil está com dificuldades, mas o pouco que temos muito bem empregaremos", disse Bolsonaro, vestindo no palanque um chapéu de vaqueiro.

"O que não somos é aqueles que querem puxar para trás o nosso Brasil. Lamento não estar presente aqui o governador da Bahia (Rui Costa, do PT), até porque não podemos concordar com quem quer mudar a cor da nossa bandeira. A Bahia e o Nordeste vão crescer porque estão sendo pela primeira vez tratados como iguais. O Brasil é uma só união".

"Xiitas ambientais"

Durante o discurso, o presidente afirmou ter "repulsa por quem não é brasileiro" e criticou "xiitas ambientais", que, segundo ele, prejudicam o desenvolvimento do turismo no Brasil e a imagem do país no exterior.

Bolsonaro falava sobre a intenção de revogar a proteção ambiental da Estação Ecológica de Tamoios, no litoral do Rio de Janeiro.

"Eu tenho um sonho. Quero transformar a baía de Angra (dos Reis, no Rio de Janeiro) numa Cancún (balneário mexicano no Caribe). Cancún fatura U$ 12 bilhões anuais. E a baía de Angra fatura o quê? Quase zero, por causa dos xiitas ambientais, esses que fazem uma campanha enorme contra o Brasil lá fora. Eu não sei por que essa gente tem tanto amor por ONGs estrangeiras. O Estado está aparelhado. Não temos preconceito contra ninguém, mas temos uma profunda repulsa por quem não é brasileiro", disse o presidente.

Tensão no Nordeste

Essa é a segunda viagem de Bolsonaro ao Nordeste, unica região em que não venceu a eleição no segundo turno e onde tem a sua menor taxa de aprovação.

Em sua primeira entrevista como presidente, o presidente disse que os governadores nordestinos não deveriam pedir dinheiro a ele por o presidente deles “está lá em Curitiba”, numa referência a Luiz Inácio Lula da Silva, condenado na Operação Lava Jato.

De lá pra cá, como se fosse possível, as coisas só pioraram. A região Nordeste também concentra os maiores índices de fome e desnutrição do país, problema que, segundo o presidente afirmou na sexta-feira, “não existe”.

A oposição dos governadores nordestinos foi decisiva para que estados e municípios fossem retirados da reforma da Previdência, principal projeto do governo federal até aqui. Falta ainda a votação do projeto em segundo turno na Câmara e em dois turnos no Senado.

Os nove estados do Nordeste têm juntos 30 milhões de eleitores, além de compor 29% da Câmara (151 deputados) e 33% do Senado (27 senadores).

Obras pelo país

Também durante o evento, o presidente prometeu não deixar mais obras paradas no país, mas afirmou que não vai aplicar recursos no que considera projetos com fins eleitorais. "Obras eleitoreiras não aconteceram mais a partir do meu governo".

Na véspera, o governo Bolsonaro anunciou um bloqueio adicional de R$ 1,4 bilhão no Orçamento e revisou a previsão de crescimento da economia de 1,6% para 0,8%. Falando a apoiadores que o aguardavam confinados numa espécie de comício do lado de fora do aeroporto, o presidente admitiu "dificuldades" da economia.

"Não é uma obra minha, nem de qualquer outro presidente ou qualquer governador. É uma obra feita com dinheiro do povo brasileiro", disse Bolsonaro. De acordo com o Ministério da Infraestrutura, o aeroporto será aberto para voos comerciais na quinta-feira (25) e beneficiará cerca de 2,3 milhões de pessoas da região. O custo foi de R$ 105,8 milhões — sendo R$ 74,6 milhões repassados pela União. A autorização e o envio dos recursos ocorreram em governos do PT.

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