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Bolsonaro "fomenta a violência", diz Haddad em entrevista

Para Haddad, o armamento da população trata-se de uma resposta com limitações

Fernando Haddad: "Ninguém suporta bandidagem. A questão é que as propostas do Bolsonaro, que são poucas, não vão resolver" (Adriano Machado/Reuters)

Fernando Haddad: "Ninguém suporta bandidagem. A questão é que as propostas do Bolsonaro, que são poucas, não vão resolver" (Adriano Machado/Reuters)

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AFP

Publicado em 14 de outubro de 2018 às 10h10.

Última atualização em 14 de outubro de 2018 às 10h14.

O candidato à presidência, Fernando Haddad, acusou neste sábado seu adversário de ultradireita, Jair Bolsonaro, favorito nas pesquisas, de fomentar "a violência" e "a cultura do estupro".

"Meu adversário fomenta violência, inclusive a cultura do estupro, ele chegou a dizer para uma colega do parlamento que não a estuprava porque não o merecia. Você quer uma sinalização mais violenta do que essa em relação à sociedade?", alertou Haddad em uma entrevista exclusiva com a AFP em São Paulo.

Bolsonaro, que obteve no primeiro turno 46% dos votos, contra 29% de Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), propõe liberalizar o porte de armas para combater a criminalidade, um dos temas mais controversos da campanha.

Para Haddad, o escolhido do ex-presidente Lula para substituí-lo na corrida à presidência enquanto cumpre pena de prisão em Curitiba, trata-se de uma resposta com limitações.

"Ninguém suporta bandidagem. A questão é que as propostas do Bolsonaro, que são pouquíssimas, inclusive na área em que ele se diz especialista, não vão resolver", disse o ex-prefeito de São Paulo, de 55 anos.

"Armar a população não vai resolver. Quem tem que prestar o serviço de segurança publica é o Estado. E, se o Estado não está prestando o serviço corretamente, nós temos que adequar o serviço. A minha proposta é que o governo federal, que hoje cuida pouco da segurança, passe a cuidar e a assumir parte das responsabilidades, sobretudo em relação ao crime organizado", acrescentou.

Bolsonaro, de 63 anos, do Partido Social Liberal (PSL), começou o segundo turno com a ampla vantagem de 58% das intenções de votos, contra 42% para Haddad, segundo a pesquisa do Datafolha.

Além da vantagem nas intenções de voto, o ex-capitão conta com o apoio das bancadas da Câmara vinculadas ao agronegócio, às igrejas evangélicas e aos defensores do porte de armas, o que poderá viabilizar a governabilidade.

Haddad, por outro lado, obteve o apoio tímido da centro-esquerda, incluindo o candidato Ciro Gomes, do PDT, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 12,5% dos votos, e de quem esperava maior engajamento na reta final da campanha.

"Acredito que a determinação do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e do PSB (Partido Socialista Brasileiro) foi decisiva. Eu espero um apoio muito mais firme do PDT (Partido Democrático Trabalhista)? Espero, inclusive do Ciro. Mas o apoio foi dado. O engajamento na campanha é uma coisa que depende de outras variáveis. Agora toda a centro-esquerda está unida em torno da minha candidatura, inclusive o movimento social", ressaltou.

Haddad: Bolsonaro "vai perder"

No entanto, Haddad, que é professor de Ciência Política e Políticas Públicas, acredita que Bolsonaro perderá a eleição e que ele encontrará canais de diálogo com o Legislativo.

"Um professor tem muita mais chance de abrir um diálogo do que alguém como meu adversário, que nunca vi chamar ninguém para dialogar, que nunca aprovou nada relevante em 28 anos de mandato", afirmou.

Haddad ressaltou que Bolsonaro "sempre incitou a violência".

"Imagina uma pessoa que tem como herói um dos maiores torturadores do continente. Essa pessoa é que lidera as pesquisas, mas vai perder", declarou.

O candidato do PT criticou ainda a forma como Bolsonaro, conhecido por sua retórica misógina, homofóbica e racista, faz campanha, sobretudo por meio do aplicativo de mensagens Whatsapp.

"Acho que o que predominou foi a mentira, não foi o Whatsapp. Se ele tivesse usado o Whatsapp para falar a verdade eu não teria nenhum problema com a campanha dele. O problema é que nós já entramos com não sei quantas ações judiciais para tirar do ar os vídeos que a campanha dele produz falando mentiras a respeito de mim e da minha vice (Manuela d'Ávila). O trabalho de desfazer uma mentira é muito maior do que de falar a verdade", reclama.

"Não sei de onde vem tanto dinheiro para tanta mensagem de Whatsapp, porque ele não declara os custos disso, dando a impressão de que é tudo voluntário", questiona.

"Erros" do PT

Outra estratégia eleitoral de Bolsonaro é vincular Haddad à perpetuação da corrupção, já que o PT foi um dos partidos mais atingidos pela operação Lava Jato.

Haddad reconheceu que seu partido cometeu "erros" quando esteve no poder, mas lembrou que nesses treze anos de governo Lula e Dilma fortaleceram os órgãos de combate à corrupção que permitiram à polícia e à justiça avançar nas investigações.

"Se você perguntar qual foi o governo que mais equipou o Estado para combater a corrupção, foi o nosso. Nosso governo não botou nada para baixo do tapete".

"Eu compartilho a mesma visão da sociedade de que a corrupção é uma coisa intolerável, mas Bolsonaro em 28 anos no Congresso federal não fez nada, em área nenhuma. Ele só grita contra as coisas, mas o que ele propõe não tem consistência nenhuma", disse.

Perguntado sobre a visita que fez na segunda-feira ao ex-presidente Lula, Haddad respondeu que os dois trataram "questões jurídicas relativas a seu processo".

"Não houve [recomendações para o segundo]. Ele estava muito feliz com minha ida no segundo turno, bastante satisfeito".

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