Bolsonaro: presidente não comentou conflito interno no partido durante transmissão ao vivo no Facebook (Andre Coelho/Bloomberg)
Beatriz Correia
Publicado em 17 de outubro de 2019 às 20h57.
Última atualização em 17 de outubro de 2019 às 21h23.
O presidente Jair Bolsonaro evitou citar a crise no PSL na transmissão semanal ao vivo feita nesta quinta-feira, 17, pelo Facebook. Bolsonaro realizou a transmissão ao lado do proprietário da loja de departamentos Havan, Luciano Hang, e centrou a fala em assuntos econômicos.
De Florianópolis, onde participou da aula inaugural do Curso de Formação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o presidente falou na rede social ao fim de um dia turbulento para ele e o partido. Nesta quinta-feira, 17, Bolsonaro foi derrotado com a decisão da Secretaria-Geral da Mesa Diretora da Câmara de validar na função o líder do PSL na Casa, Delegado Waldir (GO), em detrimento do deputado Eduardo Bolsonaro (SP).
No mesmo dia, o presidente destituiu da liderança do governo no Congresso a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), após ela assinar a lista de apoio à permanência de Delegado Waldir.
"Você é um homem que tem ajudado muito o País. Mais que muito político, inclusive", afirmou Bolsonaro a Hang, sem, no entanto, mencionar a crise no PSL. Hang aproveitou a live ao lado do presidente para falar de suas lojas e chegou a ser interrompido por Bolsonaro com um aperto no braço.
No início da transmissão, o presidente, ao se referir à data de hoje, disse que a live acontecia no dia "17 de outubro". Hang insistiu e pediu para o presidente repetir: "É 17, é?", em referência ao número do partido de Bolsonaro durante a corrida eleitoral. "Acabei de participar de uma aula aqui na Academia da Polícia Rodoviária Federal. Foi maravilhoso o evento", desconversou Bolsonaro.
Bolsonaro disse que vai terminar o seu mandato em 2022 com "menos de 10 milhões de desempregados". "A ideia é diminuir ao máximo, mas temos que ser realistas. Vamos trabalhar nesse sentido por que o Brasil está recuperando a sua confiança."
Sobre fiscalizações em empresas, Bolsonaro mencionou portarias da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, editadas no fim de setembro, que fazem parte de uma nova rodada de simplificação e redução das exigências às companhias em relação a normas de segurança e saúde no trabalho.
"Nós vamos confiar cada vez mais no homem, no cidadão na ponta da linha e ir tirando cada vez mais o Estado", afirmou o presidente, que citou os ingleses como exemplo: "Se eu não me engano a Inglaterra, há não sei quantas décadas atrás, tinha um trabalho de fiscalização muito grande. Ninguém ia pra frente. Tirou-se o poder dos fiscais e o país foi pra frente". Bolsonaro afirmou ainda que pretende manter a fiscalização em empresas, "mas se for com a sanha toda que ainda existe, atrapalha e afugenta quem quer investir e empreender no Brasil".
Mais cedo, em um discurso em uma aula inaugural do curso de formação da Polícia Rodoviária Federal, em Florianópolis (SC), o presidente disse que sua vida no governo "não é fácil", mas que sabia que seria assim. "Não nos deixam em paz, alguns de forma mesquinha buscam atingir o governo. A grande parte quer o bem, mas essa minoria é incansável e isso é lamentável", disse Bolsonaro, acrescentando que prevalece a "vontade de ver o Brasil crescer, economicamente e moralmente".
Em dia de acirramento da crise no PSL, o presidente fez, ainda, um apelo ao Congresso. "Não existe satisfação maior, senhores parlamentares, do que ser reconhecido pelo seu trabalho."
Durante o discurso, Bolsonaro disse também que sua bandeira não é "negociar coisas menores" com o Legislativo. "Minha bandeira é de Brasil acima de tudo, respeito à família, é tratar com dignidade a coisa pública, é não negociar coisas menores dentro do parlamento", afirmou, emendando que tem o dever de "defender a família, a pátria e respeitar a criança dentro da sala de aula".
Em seu discurso, o presidente defendeu o excludente de ilicitude. "Nós lutamos para conseguir para vocês o excludente de ilicitude. Não é carta branca para matar, é para não morrer", disse Bolsonaro.
O excludente de ilicitude foi incluído no pacote anticrime do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, mas foi retirado da proposta por um grupo de trabalho da Câmara dos Deputados em 25 de setembro. "O nosso parlamento, em grande parte, cada vez mais se conscientiza de que isso tem que ser realidade. Não queremos mais chorar a morte de colegas", afirmou o presidente.
Bolsonaro também disse que, pela primeira vez, "um chefe de Estado esteve na ONU e defendeu as suas polícias, o que no passado não era assim", em referência ao seu discurso na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 24 de setembro. "Sempre acusavam vocês de serem os responsáveis pelas morte no Brasil, mas era ao contrário", completou o mandatário.
Ao se dirigir aos policiais presentes no evento, o presidente afirmou que eles "fizeram com que os parlamentares acordassem e lhe dessem um plano de carreira" e emendou, dirigindo-se a Moro e citando o ministro da Economia, Paulo Guedes, que esse plano de carreira "pode melhorar".
Durante o evento, o presidente assinou, ainda, uma medida provisória que, segundo a organização do evento, tem o objetivo de "acelerar a apreensão de bens que tenham relação com o tráfico de drogas" e "permitir que o dinheiro seja utilizado, de imediato, na segurança pública". Bolsonaro também assinou um decreto que altera regimentos dos ministérios da Justiça e Segurança Pública e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos "no que se refere a atribuições da Polícia Rodoviária Federal."
Acompanhado de Sergio Moro e da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, o presidente terminou o discurso citando o lema de sua campanha eleitoral em 2018, "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", e fez flexões em cima do palco.