Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro (Ricardo Stuckert/Alan Santos/Flickr)
AFP
Publicado em 2 de outubro de 2022 às 08h25.
Última atualização em 2 de outubro de 2022 às 08h52.
Os brasileiros votam neste domingo (1) entre manter Jair Bolsonaro (PL) no poder ou devolver a Presidência a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o favorito nas pesquisas de intenção de voto - dois arquirrivais com visões totalmente diferentes sobre o Brasil.
Lula, o candidato da esquerda, chega ao primeiro turno com o vento a favor, inclusive podendo vencer no primeiro turno, enquanto o presidente de extrema direita insiste em que as pesquisas de intenção de voto mentem e tem dito que só reconhecerá os resultados se as eleições forem "limpas".
A última pesquisa do Instituto Datafolha, publicada neste sábado (1), atribui 36% das intenções de voto a Bolsonaro frente a 50% para Lula (presidente de 2003 a 2010), percentual mínimo para evitar o segundo turno em 30 de outubro.
Cento e cinquenta e seis milhões de eleitores são convocados a votar e as seções eleitorais vão funcionar entre as 8h e as 17h. Os resultados são esperados poucas horas após o fechamento dos locais de votação.
Bolsonaro, ex-capitão do Exército de 67 anos, está no fim de um mandato de quatro anos, marcado por crises, especialmente a criticada gestão da pandemia de covid-19, que deixou 686.000 mortos, e o desafio constante às instituições democráticas.
Ele mantém o apoio sólido do eleitorado evangélico, do agronegócio e dos setores mais conservadores, que defendem uma sociedade baseada em Deus, família e o repúdio ao aborto.
Lula volta ao cenário político após ter deixado o poder com um invejável índice de mais de 80% de popularidade, mas sem ter conseguido apagar a mácula da corrupção aos olhos de parte da população. Foi condenado e em seguida absolvido por motivos processuais no âmbito da operação "Lava Jato", que investigou um esquema de propinas montado na Petrobras.
Este autodenominado "jovem de 76 anos", libertado em novembro de 2019 após passar 19 meses na prisão, conta com o apoio das classes populares, das mulheres e dos jovens, mas também vem tentando seduzir o mercado e setores moderados, escalando como vice o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB).
Se vencer, promete combater a fome no Brasil, tirar o país de seu isolamento diplomático e pôr fim à sua imagem de "pária" ambiental, devido ao desmatamento maciço na Amazônia durante o governo de Bolsonaro.
Se o ex-líder sindical vencer no primeiro turno, "Bolsonaro vai questionar" os resultados, prevê o analista Adriano Laureno, da consultoria Prospectiva.
Há meses, o presidente da extrema direita contesta, sem apresentar provas, a confiabilidade das urnas eletrônicas, usadas no Brasil desde 1996, sistema com o qual, no entanto, foi eleito sete vezes deputado e uma presidente.
Sua atitude levou muitos observadores e não descartar atos de violência por parte de seus seguidores, como ocorreu na invasão do Capitólio, sede do Legislativo americano, em janeiro de 2021, dois meses depois da derrota de Donald Trump.
Mas segundo Laureno, Bolsonaro não tem o apoio interno necessário para ter êxito em um desafio à justiça eleitoral.
"A gente não tem uma mídia favorável a qualquer questionamento. A gente não tem uma elite econômica favorável a qualquer quebra institucional", afirma.
Além disso, espera-se um reconhecimento "muito rápido" e "generalizado" dos resultados por parte da comunidade internacional, o que isolaria Bolsonaro ainda mais, acrescenta.
O Brasil vive uma polarização crescente e embora quase nove em cada dez eleitores já tenha escolhido seu candidato há meses, segundo as pesquisas, frequentemente a eleição se baseia na rejeição ao adversário.
"Se arrependimento matasse, eu estaria morto", admite o locutor de rodeio Reginaldo Gomes, que após fazer campanha em 2018 para Bolsonaro na Bahia, desta vez votará em Lula.
"Posso ser sincero? Vou votar no Bolsonaro. Lula roubou mais que todos. Não gosto do presidente, mas é o menos pior", afirma Thiago Silva, um taxista carioca de 35 anos.
Mas "se Lula vencer, vou aceitar. De qualquer forma, quem quer que vença, vou continuar acordando às 06h para trabalhar 12h por dia", emenda.
Cerca de 500.000 agentes vão cuidar da segurança no dia de eleições, enquanto o porte de armas por civis, que Bolsonaro promoveu ativamente durante seu mandato, foi suspenso durante três dias até a segunda-feira.
Além do presidente, os brasileiros também vão votar neste domingo em deputados da Câmara federal, um terço do Senado, governadores e membros das Assembleias Legislativas dos 26 estados e do Distrito Federal.