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Bolsonaro diz ter afinidade de visões de mundo com a Hungria

A visita oficial de Bolsonaro à Hungria é vista no meio diplomático como um aceno ideológico à base mais radicalizada do presidente

Na Hungria, Bolsonaro chama Orbán, líder de extrema-direita, de 'irmão' (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

Na Hungria, Bolsonaro chama Orbán, líder de extrema-direita, de 'irmão' (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de fevereiro de 2022 às 10h45.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2022 às 11h07.

O governo brasileiro assumiu em nota oficial ter "afinidade de visões de mundo" com a Hungria, um país que vive processo de guinada autoritária acompanhado por estudiosos e líderes internacionais. Em documento enviado a jornalistas pela equipe que acompanha o presidente Jair Bolsonaro na visita oficial a Budapeste, o Ministério das Relações Exteriores fala em aproximação com a Hungria, comandada pelo líder de extrema-direita Viktor Orbán.

"A aproximação com a Hungria, país com o qual o Brasil mantém afinidade de visões de mundo, tem propiciado convergências na relação bilateral e em posicionamentos no plano internacional, com base em valores comuns e na cooperação em diversas áreas", diz o texto.

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Em aceno à sua base de apoiadores mais radicalizada em ano eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro chamou o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, líder nacionalista de extrema-direita, de "irmão", e destacou a comunhão de valores entre seu governo e o do país europeu. "Acredito no Orbán, que trato como irmão, dadas as afinidades que temos", disse Bolsonaro nesta quinta-feira, 17, em declaração à imprensa em Budapeste, capital da Hungria, após reunião bilateral com Orbán. De acordo com o presidente, a reunião foi "bastante útil".

O chefe do Executivo brasileiro destacou a comunhão de valores conservadores que tem com o premiê, citando Deus, pátria, família e liberdade. "Comungamos na defesa da família com muita ênfase", disse Bolsonaro, que chamou a Hungria de "nosso pequeno grande irmão". "O bom relacionamento com a Hungria faz com que nós venhamos a viver no momento algo ímpar [na relação bilateral]. Nos afinamos em praticamente todos os aspectos", acrescentou.

Considerado um líder nacionalista de extrema-direita, Orbán é um dos símbolos da chamada "democracia iliberal", termo cunhado para designar guinadas autoritárias por meio do voto. Ele chegou ao poder em 2010 e, desde então, promove uma escalada autoritária no país.

Presidente Jair Bolsonaro

De acordo com Bolsonaro, os dois líderes conversaram sobre a crise envolvendo Ucrânia e Rússia, onde o presidente esteve até hoje pela manhã. "Trocamos informações sobre a possibilidade ou não de uma guerra. Todos os países perdem com guerra, em especial a vizinhança", afirmou. A Hungria também faz parte do Leste Europeu.

O presidente ainda acenou para a possibilidade de ampliar as relações comerciais com a Hungria, mas não anunciou nenhuma medida prática. Apenas dois memorandos, ainda não detalhados, foram assinados: um em cooperação em matéria de defesa; outro, em matéria de ações humanitárias. "A Hungria tem despontado para questões econômicas. Essa passagem por aqui é rápida, mas deixará grande legado", destacou o presidente, que retorna hoje ao Brasil. "Dias muito melhores virão para nossos povos".

Orbán

Após se reunir com o presidente Jair Bolsonaro em Budapeste, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, fez um discurso de tom xenofóbico e citou convergências de valores com o chefe do Executivo brasileiro. "Gostaríamos muito de preservar nossas raízes e a imigração na verdade não colabora muito para essa questão, de manter essas raízes estabelecidas", disse o premiê em declaração à imprensa nesta quinta-feira.

Ele lembrou sua presença na posse de Bolsonaro em 2019 e disse esperar repetir a visita em um eventual segundo mandato do presidente brasileiro, que deve concorrer à reeleição em outubro. "Espero poder visitá-lo novamente em breve para este mesmo tipo de ocasião", declarou o premiê, que também será candidato nas eleições húngaras. "Espero que seja uma celebração dupla e que ambos possamos comemorar conjuntamente".

Orbán disse que tem interesse em ter uma parceria "unificada" e "bastante próxima" com o Brasil. "Temos muitas convergências, muitas opiniões convergentes", destacou o primeiro-ministro, ao lado de Bolsonaro, citando o cristianismo dos dois.

Presidente Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban

Presidente Jair Bolsonaro e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban (Akos Stiller/Bloomberg/Getty Images)

O líder húngaro repetiu o discurso conservador de Bolsonaro e falou em "ataques às famílias". "Faremos o possível que pudermos para manter esta instituição família de modo sólido e bem protegido", seguiu o premiê. "Bolsonaro concorda conosco nessas questões, que dizem respeito à melhoria da qualidade de vida do nosso cidadão".

Reconhecido por cientistas políticos como um dos principais líderes da corrosão democrática nos últimos anos, Orbán defendeu que a Hungria é um país democrático e acenou para a possibilidade de novos investimentos no Brasil. "Poderíamos dizer que estamos apenas no início destas transições que irão ocorrer, e queremos, sim, veementemente, estabelecer comunicação mais sólida entre a Hungria e o Brasil".

De acordo com o primeiro-ministro da Hungria, a reunião com Bolsonaro foi bastante produtiva e com estabelecimento de "conexões". "A vida diplomática acaba gerando esse novo estágio, com todos os esforços diplomáticos que têm sido depositados na colaboração estabelecida entre os dois países", declarou, defendendo em seguida o fortalecimento de alianças com países estratégicos.

Logo ao chegar a Budapeste pela manhã, o chefe do Executivo brasileiro foi recebido pelo presidente da Hungria, János Áder, em uma cerimônia protocolar. Mais tarde, vai se encontrar com o presidente da Assembleia Nacional, László Kövér, na sede do Parlamento.

Presidente da República Jair Bolsonaro acompanhado do Presidente da Hungria, János Áder, recebem honras de Chefe de Estado.

Presidente da República Jair Bolsonaro acompanhado do Presidente da Hungria, János Áder, recebem honras de Chefe de Estado. (Isac Nóbrega/PR/Flickr)

O premiê chegou ao poder em 2010 e, desde então, promove uma escalada autoritária no país, com enfrentamentos ao sistema judiciário e perseguições à oposição e a minorias, como a comunidade LGBTQIAP+ e imigrantes.

A balança comercial brasileira com a Hungria é modesta e deficitária: bateu - US$ 394,7 milhões em 2021, sendo US$ 456,5 milhões em importações e US$ 61,8 milhões em exportações.

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