Jair Bolsonaro: presidente disse que a covid-19 era uma "gripezinha" e que se pegasse não teria complicações porque tem "histórico de atleta" (Alan Santos/PR/Flickr)
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de abril de 2020 às 19h38.
Última atualização em 30 de abril de 2020 às 19h42.
Ao mesmo tempo em que trava uma disputa judicial para não divulgar os resultados de seus exames, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) admitiu nesta quinta-feira, 30, que "talvez" tenha sido contaminado pelo novo coronavírus.
"Eu talvez já tenha pegado esse vírus no passado, talvez, talvez, e nem senti", afirmou o presidente em entrevista à Rádio Guaíba, de Porto Alegre.
O presidente já realizou dois testes para saber se foi contaminado pela doença - em 12 e 17 de março - e divulgou que os resultados foram negativos, mas tem se recusado a apresentá-los.
Há dois dias, no entanto, o presidente afirmou que não teve a doença e que não mente. "Vocês nunca me viram aqui rastejando, com coriza... eu não tive, pô (novo coronavírus). E não minto. E não minto", afirmou.
A declaração ocorreu um dia após O Estado de S. Paulo garantir na Justiça Federal o direito de obter "os laudos de todos os exames" de novo coronavírus feitos pelo presidente da República.
Em vez de enviar os papéis, no entanto, a Advocacia-Geral da União (AGU) encaminhou à Justiça um relatório médico de 18 de março no qual atesta que Bolsonaro se encontra "assintomático" e teve resultado negativo para os testes do novo coronavírus, realizados no mês passado.
A juíza federal Ana Lúcia Petri Betto, responsável pelo caso, não aceitou o relatório e deu 48 horas para que os exames sejam entregues.
As declarações do presidente têm sido contraditórias. Em março, o presidente já havia declarado que talvez tivesse sido contaminado "lá atrás" sem saber e que poderia ter o anticorpo. Na ocasião, ele já tinha feito os dois exames e afirmou que, por recomendação médica, "talvez" fizesse mais um. Depois, voltou a afirmar que não teve a doença.
Os exames foram realizados após Bolsonaro voltar de missão oficial nos Estados Unidos, no início de março, onde se encontrou com o presidente Donald Trump. Pelo menos 23 pessoas que acompanharam o presidente na viagem, incluindo auxiliares próximos, foram diagnosticadas posteriormente com a doença.
Na entrevista à Rádio Guaíba, Bolsonaro voltou a minimizar a covid-19, que já matou 5.901 pessoas no Brasil até esta quinta-feira. "Para 80% da população não vai ser nem gripezinha, não vai ser nada, nem saber que teve. Para os 15%, 20%, tem que tomar cuidado", afirmou.
"O general (Augusto) Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional), que está com 70 e poucos anos, só ficou sabendo porque fez o teste, foi para casa e fez bicicleta todo dia."
O presidente voltou a dizer que tem o direito de não mostrar o resultado de seus exames e que "não cabe à Justiça se intrometer nessas questões". "Agora, não tenho problema, se no final da linha a Justiça decidir, eu vou apresentar", completou. Bolsonaro também voltou a dizer que fez exames com nome fantasia mas que são "perfeitamente identificados".