Agência de notícias
Publicado em 5 de junho de 2025 às 20h39.
O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira transferiu "bastante dinheiro legal" para o filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está morando nos Estados Unidos. Bolsonaro prestou depoimento à Polícia Federal sobre a suposta articulação do filho para obter sanções contra autoridades brasileiras junto ao governo de Donald Trump. A oitiva faz parte do inquérito aberto para esclarecer se o "zero três" atua contra o prosseguimento da ação da tentativa de golpe de Estado, na qual o Bolsonaro é réu.
— Eu botei 2 milhões na conta dele, ok? Lá fora tudo é mais caro. Eu tenho dois netos, um de quatro ou outro de um ano. Ele está lá fora, eu não quero que ele passe por dificuldade. É muito, é bastante dinheiro. Lá nos Estados Unidos pode não ser nem tanto, né? 350 mil dólares, mas eu quero o bem-estar dele e graças a Deus eu tive como depositar dinheiro na conta dele — afirmou Bolsonaro ao sair da sede da PF, em Brasília. A oitiva durou cerca de duas horas.
Segundo o ex-presidente, o montante veio dos R$ 17 milhões que ele recebeu de apoiadores via Pix, em 2023. Na ocasião, os aliados de Bolsonaro fizeram uma campanha financeira para pagar as multas recebidas pelo ex-mandatário durante a pandemia de Covid-19.
O ex-presidente também aproveitou para defender o filho e dizer que ele não está fazendo "nenhum trabalho de lobby" nos Estados Unidos para tentar "sancionar quem quer que seja no Brasil".
— Não é lobby, são fatos, que atentam contra os direitos humanos e à liberdade de expressão. O trabalho que ele faz lá é por democracia no Brasil — acrescentou Bolsonaro. Ao lado do ex-mandatário, o advogado Paulo Bueno frisou que as eventuais sanções por parte do governo Trump podem ser aplicadas por outros motivos que não têm relação com o processo sobre o golpe - como o bloqueio de contas na rede social X.
Perguntado sobre a situação de foragida de Carla Zambelli (PL-SP)< Bolsonaro disse ainda que "não tem "ada a ver" com a parlamentar. Ela teve a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após anunciar que havia deixado o Brasil em direção à Europa. Zambelli teve o nome incluído na difusão vermelha da Interpol nesta quinta-feira. O ex-presidente frisou que não fez "nenhum Pix" para a parlamentar. Em relação ao inquérito de Eduardo Bolsonaro, a Polícia Federal apura os supostos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Na investigação, Bolsonaro foi citado como o beneficiário direto das ações do filho e por ter declarado que seria "o responsável financeiro" pela estadia dele em solo americano. O ex-presidente confirmou essa situação aos investigadores.
O inquérito é relatado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que conduz a ação penal contra Bolsonaro e seus aliados por suposto envolvimento em um plano de golpe.
Moraes também intimou Eduardo Bolsonaro a prestar esclarecimentos. Como mora nos Estados Unidos e está licenciado do cargo desde fevereiro, ele poderá enviar as respostas por escrito.
O ministro do Supremo também determinou que o Itamaraty indicasse "autoridades diplomáticas aptas" a prestar depoimento sobre as articulações do deputado do PL em território americano.
Na segunda-feira, foi colhido o primeiro depoimento do inquérito. Na ocasião, o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), afirmou que Eduardo tem atuado para "intimidar" e "depredar simbolicamente" o STF e outros órgãos responsáveis pela investigação sobre a suposta trama golpista. Farias é o autor da representação que ensejou o pedido da PGR.
Aos investigadores, Farias pediu que os bens e contas de Bolsonaro sejam bloqueados para impedir que ele continue patrocinando o filho no exterior.
— Isso é um golpe continuado — comentou ele.