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Bolsonaro diz que dorme com pistola "sempre por perto"

Presidente também disse que não descarta ter Sergio Moro como candidato a vice e afirma que um ex-assessor estaria envolvido no plano para matá-lo

Jair Bolsonaro: "A gente contraria o interesse de muita gente" (Helvio Romero/Estadão Conteúdo/Reprodução)

Jair Bolsonaro: "A gente contraria o interesse de muita gente" (Helvio Romero/Estadão Conteúdo/Reprodução)

AO

Agência O Globo

Publicado em 20 de dezembro de 2019 às 11h49.

Última atualização em 20 de dezembro de 2019 às 12h04.

Rio de Janeiro — O presidente Jair Bolsonaro admitiu a possibilidade de formar uma chapa com o ministro da Justiça, Sergio Moro, para tentar a reeleição em 2022, e disse que dorme com uma pistola "sempre por perto" no Palácio da Alvorada.

De acordo com Bolsonaro, governo contraria muitos interesses.

"E ainda tem outras arminhas que ficam guardadas por aí. A gente contraria o interesse de muita gente", afirma.

Sobre uma possível "vaga" em sua  chapa, Bolsonaro disse, em entrevista à revista "Veja", que a confirmação da parceria para as próximas eleições vai depender do ex-juiz. "Tem de ver se ele quer".

O presidente ainda falou sobre a suspeita de que houve uma "mão" de um ex-aliado no atentado sofrido durante a campanha e das rusgas com o governador do Rio, Wilson Witzel.

"Nós somos Zero Um e Zero Dois. Tem de ver se ele (Moro) quer. Nunca entrei em detalhes com ele sobre esse assunto. Mas seria uma chapa imbatível", afirma.

Há duas semanas depois de afirmar que "por enquanto estava casado, sem amante" com seu vice, general Hamilton Mourão,

Para Bolsonaro, o presidente disse que é cedo demais para discutir o assunto e poderia "causar ciúme".

"Você daria um sinal de que não está satisfeito com o Mourão, e da minha parte está tudo tranquilo com o Mourão. O Moro não tinha uma vivência política. A cabeça dele enquanto juiz pensava assim: ‘Se eu fosse presidente, faria isso’. Agora ele conhece a realidade", completa.

À "Veja", Bolsonaro afirmou que tem Wilson Witzel como seu principal inimigo. De acordo com ele, o governador do Rio usa a Polícia Civil para tentar envolver ele e seus filhos no crime organizado.

"O governador botou na cabeça que vai ser presidente e tem de me destruir. Depois da história do porteiro e das buscas na casa da minha ex-mulher, ele está preparando uma nova armação. Já sei que eles pegaram dois milicianos, sei lá quem, conversando e a Polícia Civil gravando. Tem vários diálogos falando que no passado eu participava das milícias, pegava dinheiro, e agora, presidente, não participo mais", papo de vagabundo.

Bolsonaro disse que recebe qualquer governador, menos Witzel.

"Recebo qualquer um dos governadores na hora que eles quiserem. O Witzel não. Se ele quiser falar comigo, vai ter de protocolar o pedido de audiência e dizer antes qual é o assunto.

O presidente levantou suspeitas de ter sido traído por pessoas próximas a ele durante o processo eleitoral e não descartou a hipótese de uma conspiração no atentado sofrido em Juiz de Fora na campanha.

"O meu sentimento é que esse atentado teve a mão de 70% da esquerda, 20% de quem estava do meu lado e 10% de outros interesses. Tinha uma pessoa do meu lado que queria ser vice. O cara detonava todas as pessoas com quem eu conversava. Liguei para convidar o Mourão às 5 da manhã do dia em que terminava o prazo de inscrição. Se ele não tivesse atendido, o vice seria essa pessoa. Depois disso, eu passei a valer alguns milhões deitado", diz sem indicar quem teria sido esse "aliado".

Anticrime

Ainda falando sobre o Ministro da Justiça, Bolsonaro afirmou nesta sexta que deve acolher a maior parte das sugestões de vetos ao pacote anticrime feitas por Moro. O presidente disse que está em contato com ex-juiz por celular, porque o ministro está viajando, e ressaltou que faltam discutir ainda "dois ou três pontos".

"Ontem o Moro viajou. Conversei no "zap" (WhatsApp) com ele. Tem dois ou três pontos que a gente tem que decidir. O resto, a grande maioria estou acolhendo as orientações dele", disse Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada.

Bolsonaro afirmou que a sanção do projeto poderá ser feita só depois do Natal. O prazo para sancionar a proposta termina no dia 6 de janeiro. Segundo o presidente, algumas das alterações feitas pelo Congresso foram positivas, mas outras precisam ser vetadas.

"Talvez (sanção depois do Natal). Tem tempo ainda. A sanção ou veto é muito importante. A gente não pode vacilar nessa questão. Tem questão que foi do Moro, outras incluídas pelo Parlamento, algumas boas ideais são do Parlamento, tem que ser mantidas, outras, não.

Bolsonaro já afirmou que está "disposto"a vetar o trecho que estabelece que a pena de crimes contra a honra — como calúnia, difamação ou injúria — cometidos pela internet poderá ser triplicada.

Moro não anunciou publicamente quais vetos deseja no pacote, mas interlocutores do ministro afirmam que a criação do juiz de garantias é um dos tópicos que ele deseja que não virem lei. As alterações a respeito das delações premiadas também teriam a oposição de Moro. O procurador-geral da República, Augusto Aras, também elaborou uma nota técnica defendendo vetos de alguns trechos.

Moro enviou à Câmara no início do ano uma proposta com uma série de alterações em leis relacionadas à segurança pública. O projeto foi analisado em conjunto com um texto remetido anteriormente pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Os deputados fizeram uma série de alterações, como a exclusão da prisão após a condenação em segunda instância e a ampliação da aplicação do excludente de ilicitude.

Outros pontos também foram acrescentados ao texto, como a criação do juiz de garantias – um magistrado que cuidaria da instrução processual, como a supervisão das investigações e a decretação de medidas cautelares. Nesta hipótese, outro juiz ficaria responsável pelo julgamento, analisando se o réu e ou não culpado.

Outro item que passou a fazer parte do texto é a proibição de que delações premiadas sejam usadas de forma isolada para a decretação de medidas cautelares, como prisões provisórias e preventivas, e para que o Poder Judiciário aceite denúncias apresentadas pelo Ministério Público.

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