Reforma: Guedes poderá negociar com o Congresso a criação de uma nova CPMF, em substituição a outros impostos (Isac Nóbrega/PR/Flickr)
Fabiane Stefano
Publicado em 2 de agosto de 2020 às 13h53.
Última atualização em 3 de agosto de 2020 às 07h52.
O presidente Jair Bolsonaro confirmou neste domingo (02) que deu o aval para o ministro da Economia, Paulo Guedes, debater com o Congresso a criação de uma 'nova' CPMF, em contrapartida à redução ou extinção de outros impostos. A primeira parte da reforma tributária foi enviada ao Congresso em 21 de julho. A segunda, com a possível inclusão de um imposto de 0,2% sobre transações digitais, que vem sendo chamado de "nova CPMF", pode ser enviado em agosto.
Bolsonaro citou como exemplo de possíveis cortes a redução de percentuais na tabela do Imposto de Renda ou a ampliação da isenção, a desoneração da folha de pagamento ou a extinção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Segundo ele, não haverá aumento da carga tributária.
"O que eu falei com o Paulo Guedes, você fala CPMF, né, pode ser o imposto que você quiser, tem que ver por outro lado o que vai deixar de existir. Se vai diminuir a tabela do Imposto de Renda, o percentual, ou aumentar a isenção, ou desonerar a folha de pagamentos, se vai também acabar com o IPI", disse ao ser questionado se teria dado o aval para Guedes discutir uma nova CPMF com o Parlamento.
O presidente conversou com jornalistas ao parar numa padaria no Lado Norte, em Brasília, durante passeio de moto acompanhado do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
Como mostrou o Broadcast/Estadão na última sexta-feira, com o estrago da covid-19 no mercado de trabalho, Guedes convenceu o presidente a liberar a discussão pública da volta do tributo com o argumento de que não se trata da antiga CPMF, porque não haverá aumento da carga tributária.
Neste domingo, Bolsonaro ponderou, no entanto, que se a população entender que não é necessário mexer nesses tributos, a saída é "deixar como está". Para o presidente, não se trata nem mesmo de o Congresso entender ou não que um novo imposto deva ser criado, já que o Executivo e o Parlamento são "subordinados ao povo".
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o maior crítico do retorno de um tributo nos moldes da CPMF. Na noite deste domingo, Maia publicou em seu Twitter uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo com o título "Imposto digital de Guedes é descolado do mundo, dizem analistas". O comentário de Maia: "Uma boa reflexão".
"Então eu falei para ele (Guedes), quando for apresentar a vocês botar os dois lados da balança. Se o povo não quiser, vou nem falar Parlamento, nós e o Parlamento somos subordinados ao povo. Se o povo achar que não deve mexer, deixa como está. Agora, tem o dono da padaria aqui, a dificuldade que é contratar gente com esse emaranhado de leis que temos pela frente, direitos", disse.
Guedes tenta convencer o presidente a aceitar o envio do projeto com a possibilidade de aumentar a faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), hoje em R$ 1,9 mil por mês, uma promessa de campanha de Bolsonaro, e viabilizar o Renda Brasil, o programa social que o governo desenha para substituir o Bolsa Família. Guedes quer enviar o projeto com o novo tributo ainda em agosto.
Questionado sobre quando a segunda fase da proposta de reforma tributária deve ser enviada pelo governo, Bolsonaro respondeu não saber.
"Todo mundo falando sobre tudo. Ela só vai para o Congresso depois de assinatura minha. Não tem aumento de carga tributária, tem para substituir imposto. Se for aumentar, pessoal não aguenta mais pagar imposto não", disse.